Páginas do Fernando Birman

Saturday, April 3, 2010

Enotas

Um expoente do meio artístico francês declarou à revista do Figaro, que um dos seus momentos inesquecíveis foi o aniversário de 800 anos da sua confraria. Oitocentos? Fui conferir.

Realmente, as confrarias de amantes do vinho proliferaram na França a partir de 1100, e várias delas ainda estão em atividade. A matéria do Figaro referia-se à "Jurade de Saint-Emilion", uma das mais tradicionais de Bordeaux. Em francês, os nomes "jurade", "commanderie" e "collège" substituem "confrérie".

O nome tem mesmo uma conotação religiosa pois, à época, religião misturava-se com tudo. As confrarias tiveram um papel político relevante. Formadas por homens livres, era uma forma de escape do controle dos senhores feudais. Com o declínio da Idade Média, elas integram-se ao aparelho do governo, através da administração de muitas das áreas vinícolas francesas. A ligação direta à Monarquia custou-lhes uma duradoura proibição após a Revolução.

Hoje, existem confrarias para todos os gostos. E nada como celebrar o amor ao vinho dentro da própria França, onde a seleção de vinhos espetaculares é imbatível.


Já nos EUA, o mundo do vinho teve uma péssima surpresa. O gigante americano E. & J. Gallo e mais alguns produtores franceses acabam de ser condenados na França e ainda aguardam a sentença norte-americana. O crime foi uma fraude digna do Paraguai. A Gallo tem uma linha de vinhos feitos com uvas francesas, vendidas no estilo americano. Ou seja, destaca-se a cepa, sem qualquer menção ao "terroir". O problema é que a demanda por Pinot Noir era maior do que a oferta. Gallo e seus parceiros não tiveram dúvidas, venderam Merlot e Syrah com o rótulo de Pinot Noir. Para um enófilo, um crime hediondo.


Foto: Páscoa no país basco francês. O tempo não ajuda, mas vim para Biarritz no feriado. Na foto, a antiga residencia imperial de Napoleão III, hoje um hotel de luxo.

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