Sunday, May 30, 2010

Cadê os estádios?

Faltam alguns dias para a Copa de 2010. Faltam quatro anos e alguns dias para a Copa de 2014 no Brasil. Cadê os nossos estádios? Eu já imaginava que, antes das eleições, não sairia nada mesmo. Vamos fazer tudo na última hora, com a FIFA botando pressão. Porém, este não é o maior problema.

A França ganhou o direito de sediar a Eurocopa 2016. Com a confirmação, foram anunciados quatro novos estádios de última geração e oito reformas. As obras começaram nesta semana mesmo. O glorioso Olympique Lyonnais finalmente terá o seu megacomplexo de entretenimento na periferia de Lyon. Clique aqui para conhecê-lo. O tradicional estádio de Gerland será usado para o rugby.

Há uma diferença importante em como os dois países vão se preparar para os torneios. A cidade de Lyon ganhou o direito de ser uma das sedes da Eurocopa. Ela teve que mostrar ao governo a qualidade do projeto, a sua viabilidade e vai ter que correr atrás do orçamento. Há dinheiro público sim, mas sairá a conta gotas dos orçamentos da cidade, do departamento, da região e da França. Como a iniciativa é local, a comunidade está de olho nos custos e nos impactos da obra.

Evidentemente, haverá desvios, como em qualquer lugar do mundo, mas nada comparável aos padrões brasileiros. Assim como fez no escandaloso Pan do Rio, logo mais, o governo brasileiro vai sacar o interminável talão de cheques em branco para montar a Copa e as Olimpíadas. Com esses dois eventos, a nossa única certeza é que alguns bilhões de reais vão sair dos nossos bolsos para serem divididos entre políticos e empreiteiros.


Foto: Para fechar as fotos do País Basco francês, mais uma foto Bayonne.

Wednesday, May 26, 2010

Conversa de táxi

Já foi o tempo em que as minhas conversas com motoristas de táxi franceses eram apenas sobre o futebol. Eu uso táxis para ir até o aeroporto de Lyon e em diversos deslocamentos na região parisiense. Já fiz muitas viagens com aquela conversa mínima: “Bonjour”, destino, pagamento e “au revoir”. Em outras, consegui enganar o motorista, passando por um francês.

Na maioria das vezes, no entanto, eles percebem um sotaque diferente. Jamais acertaram a minha nacionalidade:
- Italiano? Espanhol? Alemão? Inglês?
- Não, eu sou brasileiro!

A partir daí, é só alegria! O motivo das animadas conversas é o Lula. Todo mundo conhece “o cara”. Apesar dos seus tropeços, a imagem do Presidente é muito positiva. Expressões comuns: “Ele fez muitas coisas boas para o país”; “o Brasil começa funcionar agora”; “ele ajuda os pobres”; “você deve estar orgulhoso por ter um Presidente como ele” e assim por diante.

Taxista é igual em todo lugar. Eles assumem que eu votei nele, que eu aprovo o seu governo e que ele é meu ídolo. Eu prefiro não discutir com um cara costurando como um louco pelas ruas de Paris.


Foto: Trecho da Corniche Basque, a costa entre Saint-Jean-de Luz e Hendaye caracterizada pela falésia relativamente baixa. Nada como parar o carro na estrada e apreciar a paisagem.

Friday, May 21, 2010

Os «apéros» do Facebook

As festas organizadas via Facebook viraram um problema público. Não soube de algo do gênero no Brasil, mas sei que o fenômeno tem se repetido em vários países. Na França, quase 25% da população tem uma conta no Facebook. A moda de organizar festas e convocar os “amigos” virtuais pegou.

Não precisa ser um grande matemático para se imaginar o efeito de festas abertas numa rede como essa. Daquelas em que chamamos os amigos, que chamam os seus amigos, que chamam os seus amigos e assim por diante. De repente, surgem festas com 100, 1000 ou 10000 pessoas. Pode ser normal para São Paulo. Para as cidades francesas é demais! O governo forçou o cancelamento de uma festinha em Lyon, que já tinha 20 mil confirmações. Na última grande balada via Face, em Nantes, alguém bebeu além da conta e sofreu um acidente fatal.

O governo deixou claro: Ninguém deve se proteger pelo anonimato da Web. Quem quiser fazer festa gigante, que se apresente e organize o evento junto com o poder público.


Foto: Ainda no porto de Hendaye, a visão do centro da cidade.

Wednesday, May 19, 2010

Especuladores e manipuladores

Os bons jornalistas dizem que o mercado financeiro salvou a Europa. Os políticos, por sua vez, usam aquele discurso dúbio, de caráter manipulatório, responsabilizando os famigerados especuladores pela crise.

Infelizmente, esta tática encontra algum eco. Sabemos que o mercado financeiro merece um pacote de controles e boas práticas. Porém, os principais culpados por esta grave crise são alguns governos irresponsáveis. Mesmo na Europa, o continente mais bem educado do planeta, existe uma grande massa manipulável. Não faz nem um século que acabou a II Guerra!

Eu selecionei algumas manifestações da seção de cartas do Le Monde, um jornal, de certa maneira, elitizado:


"Nessa situação, em que o euro é atacado pela especulação, eu constato a falta de decisões dos políticos submissos ao poder das finanças" (François)

"Os cidadãos têm realmente a impressão que os verdadeiros mestres do jogo político são os famosos mercados" (Michel)

"Os homens políticos não estão a altura da situação de urgência que nós vivemos, eles perderam o controle em favor dos mercados, dos quais são maionetes" (Jean François)

"Que sistema brutal este capitalismo. Quando vamos domesticá-lo?" (Sylvio)

"Na origem da crise, os americanos não somente se permitem julgar a saúde de um país europeu, como destruí-lo com tal anúncio...Os EUA estão em guerra econômica contra a Europa" (Vincent)

"Já é tempo de repensar todo sistema financeiro mundial e, principalmente, o ultraliberalismo que nos conduz ao desastre" (Jacques)



Foto: O porto de Hendaye, última cidade do país basco francês, fronteira com a Espanha.



Saturday, May 15, 2010

Entre caciques

O primeiro escalão do governo francês pisa em ovos quando o assunto é Brasil. Há muitos interesses em jogo, sobretudo aviões e trens. O Lula pode falar qualquer bobagem, que Sarkô sempre enxerga um lado positivo. Já quem está mais longe do poder não se preocupa com isso. Não é à toa que o brasileiro mais festejado dos últimos dias foi o cacique Raoni, que arrebanhou um vasto contingente de artistas e intelectuais na sua campanha contra a usina de Belo Monte. Piada corrente na França: Raoni é tão agradável, que já vem com porta-copos.

O dossiê iraniano coloca Brasil e França em conflito. A opinião generalizada é que o Brasil está sendo usado pelo Irã, para que este ganhe tempo e continue no seu desafio ao Ocidente. Nesse assunto, Sarkô teve mais dificuldades para conter a revolta dos assessores. O governo quase rachou, mas valeu a opinião do chefe, que manifestou plena confiança no encontro de Lula com Ahmadinejad. Veremos.


Foto: Ainda em Saint-Jean-de-Luz. Céu azul e mesas na calçada vazias? Tinha acabado de chover muito forte. Meia hora depois, a vida voltou ao normal.

Thursday, May 13, 2010

Seleções

O técnico de futebol da França - Raymond Domenech - conseguiu se manter no comando da seleção aos trancos e barrancos. A um mês da estréia na Copa, ele mal conseguiu definir o time. Não convocou 23 jogadores, como o Dunga, mas 30. Até o dia 1/6, ele deverá eliminar os 7 jogadores em excesso.

Parece um “reality show” futebolístico. Só falta ele pedir para o povo escolher quem deve ser eliminado: Se quiser eliminar o Thierry Henry, disque 1234! Assim, pelo menos, ele poderia compartilhar o seu fracasso.

Torcer pela França é emocionante. Apesar dos sucessos recentes (em cima do Brasil), a chance da França cair logo na primeira fase é sempre grande. Sem contar a possibilidade de sair da Copa sem marcar um golzinho. Não vai faltar torcida!

Quanto ao Brasil, poderei assistir tranquilamente aos jogos da primeira fase, pois no horário europeu, eles serão no final da tarde e à noite. No jogo contra a Coréia (15), os expatriados brasileiros de Lyon se reunirão no restaurante mais brasileiro da cidade (Sambahia).

Eu li muitos comentários sobre a seleção do Dunga e confesso que não tenho nada a acrescentar. Não acompanho a Seleção há três anos. Alguns dos nomes são estranhos para mim. O mais familiar é o Michel Bastos, do Lyon, é claro!


Fotos: Ainda em Saint-Jean-de-Luz, desta vez na praia, num dia de chuva. Ao fundo a cidade de Ciboure, com destaque para o forte e o dique externo (à direita), que garantiu a proteção definitiva à cidade. A foto abaixo é apenas um detalhe da foto acima, mostrando o casario basco.



Monday, May 10, 2010

Aprendiz de feiticeiro

Agora é festa. A Europa conseguiu estancar a crise criada pela Grécia. Sarkô até que se saiu bem. Muito melhor do que Angela Merkel. Coitadinha! Ela estava indo tão bem, mas caiu numa cilada.

Protegido pelo mandato de cinco anos, Sarkô, que está no fundo do poço, ainda tem tempo para se recuperar. A questão grega deu-lhe alguns pontos no quesito liderança internacional, porém ressuscitou um dos seus inimigos mais importantes.

Quando assumiu a Presidência, o pequeno príncipe mandou um dos seus rivais aos EUA, para presidir o FMI. Trata-se de Dominique Strauss-Kahn (DSK), um carismático líder do PS. Em Washington, DSK seria seduzido pelo status proporcionado pelo cargo, ficaria longe da França e cairia no esquecimento. Não deu certo.

Nesta crise, o FMI teve um papel fundamental diante da hesitação européia. Sim, o FMI salvou a Eurolândia e tirou a Grécia do caos. O programa do Laurent Ruquier deste sábado ironizou: DSK garantiu seu lugar junto aos deuses do Olimpo.

A França não precisa de um deus, apenas alguém para enfrentar Sarkô em 2012. Já Sarkô, apesar de ter ressuscitado um morto, ainda tem muito o que aprender.


Foto: Mais uma em Saint-Jean-de-Luz, mostrando o seu porto. As casas ao fundo pertencem a uma outra cidade, Ciboure.

Saturday, May 8, 2010

Kebab Mall

Em São Paulo, existem diversos shopping centers que eu não conheço. Pelo jeito, se prolongar a expatriação, a lista vai ficar cada vez maior. Esse risco não existe em Lyon, que possui apenas um, o centro comercial da Part-Dieu, o maior shopping europeu em centro de cidade. Alguns colegas o chamam carinhosamente de Kebab Mall. Sem maiores explicações.

Shopping center na França é coisa de um certo mau gosto. Algo para emergências. Esse conceito paulistano de shopping de luxo não pegou por aqui. Afinal, luxo mesmo é passear pelas ruas de Lyon ou Paris. As lojas de rua são muito mais prestigiadas.

Eu já não gosto das praças de alimentação dos shoppings paulistanos. Aqui, nem precisa de praça. O povo senta em qualquer lugar para devorar baguetes compradas em quiosques. Não recomendo passear num shopping francês num sábado após o meio-dia.

Outra diferença básica é a densidade. Os corredores são muito mais lotados do que os paulistanos. Passear tranquilamente apreciando-se as vitrines é impraticável. Considero o Kebab Mall mais apertado e cheio que qualquer um dos shoppings brasileiros que conheço. Esta semana, soube que a sua administração quer aumentar a sua frequência ainda mais. Talvez, um passeio de metrô será melhor do que o shopping, quando quisermos dar uma arejada.

Sob o aspecto social, evidentemente, os centros comerciais franceses cumprem o seu papel, pois são integrados ao transporte público, possuem lojas para todos os bolsos e assim por diante.


Foto: Duas fotos da orla de Saint-Jean-de-Luz, no País Basco francês. As casas adaptaram-se à indispensável presença do dique que protege o centro da cidade.


Thursday, May 6, 2010

Pit-stop em SP 2

Na passagem pelo Brasil, pude confirmar a impressão que tenho do país morando fora há três anos. Há muita euforia com relação ao Brasil dentro e fora dele. Uma espécie de clima de "já ganhou", que tanto conhecemos.

Na vida prática, a segurança pública continua escandalosamente ruim. O trânsito, cada vez pior. Sem contar os preços. Sempre que vou a SP, passo pelos mesmos restaurantes e peço os mesmos pratos. Só a conta nunca é a mesma. No período da minha expatriação, o preço do valet service simplesmente dobrou.

A maior decepção, no entanto, não é com esses aspectos menores. O Brasil está sendo administrado de forma irresponsável. Os pacotes de investimento tão festejados não fazem nem cócegas na nossa capacidade produtiva. Devemos entrar em 2011 com duas alternativas: Inflação ou freio de mão.

Releiam o meu post de 23/10/2009. O assunto está pegando fogo por aqui.


Foto: Saint-Jean-de-Luz, a pérola do País Basco francês, em dia de tempestade. Foi um tal de abrir e fechar o tempo durante os dois dias que estive por lá.

Tuesday, May 4, 2010

Pit-stop em SP 1

Fiz uma rapidíssima passagem pelo Brasil. Encurtei a viagem graças ao famigerado vulcão islandês. No meio da crise aérea, escolhi uma rota à prova de nuvens de cinzas. Fui de trem até Marselha, onde o aeroporto nunca fechou. De lá, fui para SP, via Madrid, outro aeroporto que escapou ileso.

No dia da viagem, a vida aérea européia parecia ter voltado ao normal. Tudo estava muito calmo. Na principal estação de trens de Lyon, a Gare Part-Dieu, notei que o pessoal da Sala VIP estava em greve. Os jornais Figaro e Le Monde não eram encontrados nas bancas por causa da greve dos distribuidores. Enfim, tudo normal.


Fotos: Fui a Bayonne num sábado e na segunda-feira seguinte, que era feriado. As duas fotos têm praticamente a mesma tomada. A diferença é clara: As pessoas! Domingos e feriados são assim mesmo. Ninguém nas ruas.

Saturday, May 1, 2010

Moedas e dominós

Definitivamente, o mundo está mudado. Há poucos anos, no efeito dominó que derrubava a economia mundial, a peça do Brasil sempre caía. Não importava onde a crise começava, que o Brasil e seus camaradas estavam sempre entre as vítimas. Agora não.

A partir deste domingo, o mundo começa salvar a Grécia, pois se esta peça cair, o estrago na Europa será considerável. Portugal, Espanha, Itália e Irlanda são os próximos da lista. Veja o meu post de 25/2/2010: 'PIGS'.

Na Europa, a divisão é clara. Os alemães não gostam da ideia de ajudar um país desorganizado e mal administrado. São minoria. Todo o resto da Europa, com economias debilitadas, prefere conter o efeito dominó.

Acho que não veremos o renascimento do dracma algum dia. Temo que não possa dizer o mesmo do marco alemão.

Para minha surpresa, muita gente confunde União Européia (UE) com Zona do Euro (no bom sentido). A UE é uma grande conquista da humanidade, que fomenta a paz e a integração do continente. Nem todos os países da UE aderiram ao Euro. Precisamente, 16 dos 27 membros da UE integram a chamada Eurolândia. Se a UE é uma unanimidade, o euro desperta uma grande divisão entre os economistas.


Foto: Bayonne em dia de festa. A banda estava vestida com cores africanas, mas o som era europeu.