É sabido que o personagem Tiradentes encontrava-se
abandonado pela História até a sua adoção pelos fundadores da República. Na falta de heróis autênticos e diante de um golpe contra o Império sem o clamor das massas, criou-se um símbolo republicano. Até mesmo a semelhança com Jesus
foi parte dessa manipulação.
Vale também lembrar que houve inúmeros movimentos contra a
monarquia luso-brasileira, mais fortes e mais sanguinários, sendo que a Inconfidência
Mineira não figura entre os mais importantes.
À época de Tiradentes, a maior parte da elite era composta
de portugueses, que, nem por isso, simpatizava com o pagamento de tributos aos
seus conterrâneos. Bem, para falar a verdade, ninguém queria saber de pagar
impostos. Com a sonegação generalizada, os portugueses apertaram o cerco.
Quem sofreu com a vingança arrecadatória da metrópole (derrama)
foi a própria elite, aqueles chamados “homens-bons”, brancos e ricos, que
induziram os inconfidentes à rebelião. Talvez seja exagero dizer que Tiradentes
tenha sido um boi de piranha, mas não está longe disso. O personagem real foi tão manipulado quanto o
mito.
Há muita coisa daquele Brasil remoto, que ainda é sentida
nos dias de hoje: o povo abandonado à própria sorte, a arrecadação predatória,
a elite egoísta e ninguém preocupado com a coisa pública. É por essas e outras
que, mesmo após a Proclamação da República, somos regidos por dirigentes pouco
republicanos.
Foto: A sala de concertos de San Sebastian ao entardecer.
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