Estou na
França há alguns dias e pude acompanhar de perto os trágicos eventos: os
atentados, as perseguições, as manifestações, os debates, os discursos, etc. Só
me resta escrever um post sobre o assunto e passar na banca para comprar a
edição especial do Charlie Hebdo na próxima quarta-feira, se é que vai sobrar
algum exemplar.
O Charlie
foi mencionado uma vez neste blog. Para quem não se lembra, foi “um post para maiores”.
O cartunista do Le Monde, Plantu, frequenta mais este blog. A razão é simples, eu assinava o Le Monde e comprava o Charlie Hebdo muito raramente. O Charlie tem seus méritos, mas existem outros tablóides satíricos por aqui.
O cartunista do Le Monde, Plantu, frequenta mais este blog. A razão é simples, eu assinava o Le Monde e comprava o Charlie Hebdo muito raramente. O Charlie tem seus méritos, mas existem outros tablóides satíricos por aqui.
A França
construiu uma sólida tradição laica ao longo do último século. A imprensa,
representada especialmente pelos jornais satíricos, tem sido grande vigilante
deste valor francês. É por isso mesmo que os jornais como Charlie eram muito
críticos a qualquer forma de fanatismo religioso, disparando farpas contra o
Vaticano e o Islã com muita frequência.
A essa
altura, vocês já devem estar familiarizados com o tipo de crítica feita pelo Charlie,
pois seus desenhos rodaram o mundo. Ou melhor, quase todo o mundo, pois mexer
com religião ainda é tabu. Nos Estados Unidos, a maioria dos jornais não
reproduziu os cartuns do Charlie, apesar de ter manifestado solidariedade
desde a primeira hora.
Se os
petistas reclamam da “mídia reacionária”, não imaginam o que seria deixar a
equipe do Charlie passar uma temporada no Brasil. O Charlie e seus congêneres
pegam muitíssimo mais pesado. Fez bobagem? Falou besteira? Lá vem um cartun
para desmontar qualquer um. Aliás, o próprio Charlie Hebdo foi criado após a
extinção de uma outra publicação, que não respeitou nem o funeral do “intocável”
De Gaulle.
O Charlie
já havia sofrido um atentado e vivia sob ameaça permanente, mas não deixou de
ridicularizar o fanatismo islâmico. Corajoso. Bravo. Heroico. Quantos já não se
curvaram?
Se os cartunistas
franceses são os guardiões dos valores republicanos mais profundos, os
políticos decepcionam. E como! Para garantir os votos da comunidade muçulmana,
eles fazem concessões, facilitando o comunitarismo. A laicidade tão cara ao
francês corre risco. Fala-se muito da islamofobia. Fala-se pouco da
islamofilia.
A questão
do terrorismo islâmico interno é complexa. Atentados como esses alimentam o
preconceito contra a comunidade árabe. Se já é difícil para um cristão branco conseguir
algum emprego, o jovem filho de imigrantes da periferia fica ainda mais sem
perspectiva. Abraçar a religião com fervor pode ser visto como salvação. Um
círculo vicioso.
É notório
que a rejeição ao “amálgama” foi unânime. Essa é a expressão que os franceses usam
para a possível generalização associando terroristas e muçulmanos. Nem a Marine Le Pen entrou nessa.
Qualquer um
sabe que a enorme maioria da comunidade islâmica é composta de pessoas do bem,
como qualquer um de nós. Ela também é uma grande vítima das suas ovelhas negras.
Discutir se ela de alguma maneira faz parte da luta contra o radicalismo é um
assunto polêmico.
Para fechar
este post, retomo o desfecho dos eventos, com a morte dos terroristas. Se não
fosse assim, estaria zombando do governo francês. Assim como no Brasil, onde as
prisões são academias do crime, na França, elas são a universidade do terrorismo
islâmico. Deixar esses animais na cadeia seria de extrema
irresponsabilidade. Só não perguntem por que eles não se mataram depois dos
atentados. Bem, já não se faz mais terroristas islâmicos como antigamente.
Foto:
Continuando a série de fotos descompromissadas de Bruxelas editadas pelo
Google, uma tomada do parque “Trois Fontaines” (precisamente em Vilvoorde), com
destaque para seu restaurante, que serve de alternativa à cantina do trabalho.
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