Sunday, September 27, 2015

Diesel



Assim como na minha primeira expatriação, optei  por um carro movido a óleo diesel, algo muito comum por aqui. É bem prático rodar mil quilômetros sem precisar parar num posto. Nas últimas férias, por exemplo, rodei quatro mil. Imaginem se tivesse um tanquinho para 50 litros de gasolina?

Alguns especialistas afirmam que o escândalo Volkswagen é o canto do cisne dos motores a diesel em carros de passeio. Ótimo, que o meu próximo carro seja elétrico ou híbrido!

Outros especialistas mais radicais afirmam que não é uma questão de modo de propulsão, mas o veículo de uso privativo estaria com seus dias contados. O futuro reside no compartilhamento do automóvel em complemento aos transportes públicos. Ave Uber!

Diesel lembra outras coisas. Da marca italiana, que já esteve neste blog, em Crônica Toscana. E também da enfermeira Diesel, um impagável personagem do filme “Alta Ansiedade”  (Mel Brooks, 1977). Na descrição da Wikipedia, “dominadora e controladora do hospício, sendo que ela mesma é uma psicopata”. 

Sempre que cruzo com uma 'alemoa' mandona, carinhoso termo usado no Sul do Brasil, lembro-me da enfermeira Diesel.

Nesses últimos dias, tenho associado Angela Merkel ao personagem.  Graças à sua competência, é claro, tem atropelado o resto da Europa, impondo a vontade da Alemanha, sem dúvidas, o motor econômico do continente.

Na crise dos refugiados, a Alemanha impôs a ideia de cotas para os países da União. Quem não queria receber ninguém ficou contrariado. Quem até estava aberto à proposta, pareceu apenas fazê-lo por sugestão da Alemanha. Enfim, é por essas e outras que a queda de um gigante industrial da Alemanha agrada muita gente.   




Foto: Gordes, na Provence. Julho é mês de bater ponto na Provence para visitar os campos de lavanda, entre outras atividades. Pela terceira vez, paradinha em Gordes.

Tuesday, September 22, 2015

Volks

Os executivos da Volkswagen confessaram sua culpa num dos maiores escândalos de todos os tempos da indústria automobilística. São milhões de carros envolvidos, podendo acarretar numa multa bilionária à montadora alemã.

Imaginem vocês se a Volkswagen fosse gerida pelo PT. Claro, eles negariam tudo até o fim. Vejamos os depoimentos dos executivos da montadora:

Ludwig Ignatius, famoso ex-presidente da montadora declarou: “Isso não significa nada”. 

Joseph Genuine, executivo aposentado do grupo, disse que tudo isso é uma perseguição da mídia à montadora, afirmando que todas as outras montadoras também trapaceiam. 

Ruy Falke, chefe das comunicações da VW, foi mais direto, acusando o antigo presidente da casa, Ferdinand Heinrich Cardosen. Segundo Falke, o analista que desenvolveu o software para trapacear os testes de emissões foi contratado naquela gestão.

Outro executivo da montadora, Ludwig Merkadanten, responsável pela P&D, afirma com certeza absoluta: “Foi apenas um bug”.

Ciente de que o caso deve escalar até a Suprema Corte, Richard Lewandowski, jurista e presidente do Clube dos Amigos da VW, menospreza a ameaça à montadora. Argumenta: “A teoria do domínio do fato, criada pelos nobres conterrâneos Hans Welzel e Claus Roxin, não pode ser aplicada nesse caso”. Ainda segundo Lewandowski, o analista que desenvolveu o software é o único culpado.

Johann Vaccarius, ex-diretor financeiro do grupo, esnoba a provável multa de 18 bilhões dólares. Está pronto para convidar todos aqueles que possuam um automóvel da marca para pagar uma fração dessa quantia.


Foto: A vista do Museu da Confluência, em Lyon.

Sunday, September 20, 2015

Circo

Domingo passado, fui a um espetáculo do Cirque du Soleil, em turnê por Bruxelas. Sou um dos inúmeros admiradores do grupo canadense. Além de gostar das exibições, fico impressionado com a performance empresarial da trupe. Quem diria que uma companhia circense pudesse faturar um bilhão de dólares?

O fato inusitado do show do último domingo não foi nenhuma novidade do mundo da acrobacia, do malabarismo ou da palhaçada. Vocês sabem que um errinho ou outro sempre aparece nos shows do Cirque du Soleil. Faz parte. Entretanto, dessa vez, o grupo de acrobatas falhou três vezes seguidas no mesmo número. Sim, três vezes. Ai que dó...

Vocês também sabem o que acontece nessas horas. A plateia fica ainda mais ligada aos artistas. Desperta-se uma incrível solidariedade. Os aplausos são muito mais intensos. Aplausos que significam muitas mensagens como valeu o esforço, continuem tentando, você merecem, comprendemos a dificuldade ou estamos com vocês.

É interessante como nem sempre os erros são encarados da mesma maneira. Tomemos, por exemplo, a Dilma, que não acerta uma, nem sem querer. Seus erros não despertam a menor compaixão. A cada dia que passa, ela fica mais detestável.

Pensei com meus botões nas razões dessa diferença, e aí vão algumas alternativas:

a) Porque ela erra demais e a gente não aguenta mais
b) Porque ela não trabalha no circo, mas faz a gente de palhaço
c) Porque os seus erros custam muito caro para nós
d) Porque ela nem é capaz de perceber os próprios erros  
e) E mesmo que percebesse, jamais os assumiria 
f) Pedir desculpas então, nem pensar! 

Não precisa escolher nenhuma alternativa. É um pouco de tudo. Fora Dilma!


Foto: O Museu da Confluência de Lyon, inaugurado em janeiro deste ano. O projeto arquitetônico audacioso é assinado pelo escritório austríaco Coop Himmelb(l)au . As dificuldades técnicas da sua realização somadas às características do solo causaram um enorme atraso. Qualquer hora eu conto mais sobre isso.

Friday, September 18, 2015

Recorrência

Durante o verão europeu, renovei alguns documentos belgas. Apesar dos avanços da máquina pública, de vez em quando, as ortodoxias burocráticas podem surpreender.

A prefeitura de Bruxelas solicitou-me um atestado de bom comportamento. E onde é que se tira o tal atestado? Na própria prefeitura. Pelo jeito, o pessoal do segundo andar não fala com o do primeiro.

Na ocasião, a recepcionista  perguntou: “Por que o Sr. precisa disso?” Respondi que era um pedido do pessoal do andar de cima! Como bom paulistano, falei fazendo mímica, apontando para o andar acima com o dedo indicador.

A situação hilária é incompreensível, pois está tudo no mesmo prédio e é bem informatizado. Para se inventar um Poupatempo belga só seria preciso um pouco de boa vontade. Mas isso não foi o pior.

A moça ainda solicitou a apresentação do documento de identidade, cuja renovação era o próprio objetivo do meu périplo. Felizmente, o documento ainda tinha alguns dias de validade. Caso contrário, seria vítima de uma recorrência burocrática, condenado a passar o resto dos meus dias entre o primeiro e o segundo andar.

Recorrência burocrática existe mesmo. Um exemplo não incomum acontece com muitos expatriados, quando os fiscos dos países envolvidos disputam o campeonato mundial de ganância tributária. Bem, isso é uma outra história.

E por falar em extravagâncias regulamentares, retomo a questão do Uber, tema de um post de março, que continua fazendo barulho em todo o mundo.

Há alguns anos, uma comissão liderada pelo Jacques Attali fez um relatório com sugestões para dinamizar a economia francesa. Uma delas era a desregulamentação do setor de táxis. Não existia o Uber, mas uma clara percepção de que nesse setor há pouca oferta, pouca concorrência e um potencial razoável para criação de empregos.

Que cada ortodoxia regulatória encontre o seu Uber! Ainda existirão alguns nichos de resistência como os taxistas e a prefeitura de Bruxelas. Felizmente, eles caminham para ser exceções.


Foto: O imponente prédio da Fundação Louis Vuitton, projeto de Frank Gehri, inaugurado em 2014. Paris não dorme no ponto. Apesar da falta de táxis e dos banheiros sujos, não faltam atrações.

Saturday, September 5, 2015

Cuspindo pra cima

Acabaram-se as férias. A volta à labuta tem sido árdua, especialmente para os líderes europeus. O velho assunto dos refugiados virou uma crise internacional.

Puderam ignorar os milhares de mortos na tentativa de cruzar o Mediterrâneo, a superlotação da infraestrutura de acolha e os inúmeros acampamentos clandestinos espalhados pelo continente. Porém, a recente desintegração da Síria e do Iraque entornou o caldo.

As imagens dos mortos nas praias turcas e da multidão atravessando a Hungria a pé são chocantes. Não podemos ignorá-los. O assunto é polêmico, mas a causa humanitária precede o blá-blá-blá político.

Se existe uma expressão, que representa bem o que os líderes mundiais fizeram diante da crise síria ou da ascensão do Estado Islâmico é cuspir para cima. Esqueceram que o Oriente Médio é logo ali. Dá para caminhar da Síria até a Alemanha!

Enquanto os líderes fizerem cálculos políticos, a situação vai perdurar. Qualquer ação terá, num primeiro momento, um preço a pagar, ou seja, um custo eleitoral. Cada um deles deveria perguntar-se sobre a sua real motivação: buscar uma reeleição ou fazer a coisa certa.

Pelo que tenho visto, diante de tamanha crise humanitária, até mesmo alguns dos mais avessos aos refugiados estão comovidos. Há milhares de voluntários mobilizando-se para facilitar a vida dos migrantes, na sua longa caminhada do Levante ao Ocidente. Quero crer que o povo saberá reconhecer os líderes realmente dispostos a trabalhar para resolver o problema.


Post sobre a crise síria (2013)
Damasco
Damasco azedo

Post sobre os refugiados (2015)


Foto: Em Paris, no Jardim de Luxemburgo, no final do generoso inverno de 2015.