Saturday, December 26, 2015

Elon Musk e Jeff Bezos

Final de ano é época de se fazer um “pit-stop” no Brasil. Escrevo este último post de 2015 em São Paulo. Daqui, a visão do ano que passou é muito negativa. Somos contaminados por tantos que querem sair do país, que temem o agravamento da crise ou, simplesmente, não aguentam mais esse mar de lama. Em janeiro, volto a falar dos problemas nacionais. Hoje, não.

Hoje é dia de falar sobre algo mais positivo. E se há algo que me impressionou neste final de ano, foi a corrida espacial entre os magnatas Elon Musk e Jeff Bezos. Seus últimos foguetes subiram ao espaço e retornaram à Terra.

Vale lembrar que o projeto da SpaceX, de Elon Musk, é bem mais ambicioso. Enquanto a SpaceX coloca satélites em órbita, a Blue Origin, de Jeff Bezos, faz vôos sub-orbitais, provavelmente destinados ao futuro turismo espacial.

O reaproveitamento dos foguetes chama a atenção como caminho ideal para o barateamento dos vôos espaciais. Num mundo que clama pela sustentabilidade, faz todo sentido. Entretanto, há controvérsias. Um foguete que vai e volta precisa levar muito mais combustível, pois seu pouso é controlado e consome muita energia. O balanço energético somado à inspeção minuciosa do aparelho a cada reaproveitamento geraria um benefício muito pequeno. Apenas simbólico.

Se Elon Musk e Jeff Bezos vão baratear ou popularizar os vôos espaciais, eu não sei. O bom dessa história toda é o seu empreendedorismo, a vontade de inovar, a disposição de assumir riscos e tudo isso sem mamar nas tetas do governo. Bem, prometi que não ia falar do Brasil.

Por incrível que pareça, existem muitos Elon Musk e Jeff Bezos por aí. O problema é que eles nem sempre encontram as mesmas oportunidades. Pelo contrário, só encontram dificuldades. Estados controladores, burocráticos e insaciáveis. Bem, prometi que não ia falar do Brasil.

Elon Musk e Jeff Bezos são dois visionários e jamais se acomodam. Como diria a velha propaganda do Bamerindus, são gente que faz! Gente que faz e alimenta nossos sonhos e esperanças por um mundo melhor. A todos vocês, boas festas e um grande 2016!



Foto:  Saudações do tocador de realejo da praça central de Antuérpia. Notem que o aparelho funciona com cartões perfurados.  Bem, também não vou falar sobre a história da computação.

Friday, December 18, 2015

Terror de política - Epílogo

Meu último post foi premonitório. A suspensão do Whatsapp por algumas horas no Brasil é piada pronta. Muitos já escreveram sobre o absurdo que foi punir 100 milhões de usuários.

Fiquei impressionado com os meios encontrados para contornar o bloqueio imposto pela Justiça. Embora milhões de pessoas tenham baixado outros aplicativos, outros milhões contornaram o bloqueio no sentido literal, por exemplo, usando VPN.

A Justiça deu um tiro no pé ao empurrar milhões de brasileiros para aplicativos como o Telegram, dotado de recursos muito mais sofisticados do que o Whatsapp. Certamente, não leram meu blog!

Talvez seja difícil contar com a colaboração do Facebook para atender às inúmeras demandas da Justiça brasileira. Porém, se precisarmos da ajuda da organização que mantém o Telegram, será simplesmente impossível obtê-la. Não colaborar com governos é um dos seus princípios e, mesmo se quisessem, as opções de segurança tornam impossível a decodificação das mensagens trocadas pelo Telegram.

A nossa sábia Justiça empurrou o PCC para o Telegram. Gênios! Deveriam saber que, ruim com o Whatsapp, pior sem ele.



No meu caminho do trabalho para casa, passo pelo centro de recepção de refugiados de Bruxelas. Não é nem um galpão nem um acampamento, é um prédio da Cruz Vermelha, bem integrado ao centro de Bruxelas. Nos últimos meses, o burburinho por ali ficou bem maior.

Recentemente, notei uma novidade na entrada do prédio. A companhia de telefonia móvel local instalou dois carregadores de celulares públicos. São duas peças cheias de escaninhos, cada um com alguns cabos para carregar os diferentes tipos de celulares.

A sede da Cruz Vermelha foi concebida para proporcionar leitos, alimentos, sanitários e atendimento médico. Para os padrões atuais, faltam muitas tomadas. Muitas mesmo. Os refugiados muitas vezes vêm apenas com a roupa do corpo e o inseparável celular.

Num documentário da TV francesa, o jornalista pediu para um refugiado sírio abrir a sua pequena mochila. Quase vazia. Havia uma escova de dentes e um celular. Esses refugiados são como os brasileiros, pobres mas limpinhos.

Acompanhando-se os refugiados através das imagens do longo do caminho da Mesopotâmia até a Europa Ocidental, percebe-se a onipresença dos celulares. Chip turco, chip grego, chip croata, chip bósnio, etc. Vão-se os chips, ficam os celulares.

Tudo isso só vem reforçar os comentários do último post, da importância do celular como instrumento de cidadania.



 Foto: Fechando a série de fotos de Mons, Bélgica.

Saturday, December 12, 2015

Terror de política - Parte 2

Entre as inúmeras reações aos atentados de 2015, houve uma crítica aos recursos tecnológicos, que propiciam a comunicação entre trerroristas. De fato, a tecnologia ajuda a humanidade como um todo, para o bem e para o mal. Felizmente, existe muito mais gente fazendo o bem.

Há muitos anos, assisti a uma palestra do Prof.Stephen Kanitz falando sobre a importância do telefone celular. Se no mundo desenvolvido, a telefonia móvel trouxe benefícios relevantes, nos países como o Brasil, ela trouxe algo a mais, resgatando a cidadania daqueles que ficavam isolados, sem a possibilidade de uma justa integração à sociedade ou ao mercado de trabalho.

O ganho da tecnologia foi muito além da rapidez, da eficiência, da praticidade ou da possibilidade de  entretenimento. As pessoas ganharam uma voz, fontes de informação alternativas, poder de organização e manifestação. As democracias fortaleceram-se.

A crise político-institucional brasileira é exemplo disso tudo. Se não fosse a contribuição das redes sociais e dos aplicativos de comunicação, a abominável Dilma estaria bem mais tranquila.

Graças a ampla divulgação dos fatos, percebemos o quão perverso um governo pode ser. Foi uma dura lição aos brasileiros, argentinos e venezuelanos, entre outros, que escolheram execráveis governos populistas e corruptos, sem quaisquer limites para preservar o poder.

A História nos ensina que isso tudo não é privilégio das nossas repúblicas bananeiras. Temos que permanecer vigilantes. É a briga do Snowden, embora muitos não concordem integralmente com ele. Eu mesmo fiz algumas ressalvas à época.

A tecnologia também está aí para nos proteger do maior dos vilões. Já fizemos muitas concessões e é preciso deixar uma espaço para a privacidade, para continuar trocando mensagens que não sejam lidas ou falar sem ser escutado pelo governo ou por qualquer outro.

Aos amigos do Brasil, mais uma vez, boas manifestações, fora Dilma e cana nos petralhas!

Leia também:
Snowden


Foto: Mais uma foto tirada em Mons, no início do ano.

Thursday, December 10, 2015

Terror de política - Parte 1

2015 entra para a história. Paris viveu os atentados de janeiro e novembro. Dois outros foram evitados, o do Thalys (trem) e o da Igreja de Villejuif. Este blog já especulou sobre as causas sociais e econômicas do terror, mas nunca falou da tecnologia a ele associada.

Sempre encontramos aqueles políticos oportunistas, que se aproveitam do momento para tentar acabar de vez com o que nos resta de liberdade e privacidade. Para tratar de assunto tão importante, farei um texto em duas partes. Começamos recapitulando alguns fatos.

Os terroristas são sofisticados. Os vídeos do Estado Islâmico no Youtube orientam o uso de criptografia em qualquer comunicação. Criptografia de 4096 bits. Para os leitores leigos, saibam que é muuuuuuito seguro.

Nem todo terrorista nasceu para informática. Alguns poderiam trabalhar perfeitamente numa equipe de suporte técnico. Outros estão mais para a equipe da Dilma. Entre erros e acertos, não dá para não falar de tecnologia.

Nos atentados ao mercado Kasher, o terrorista filmou seus assassinatos com uma câmera GoPro. Ele não conseguiu colocá-lo no Youtube por problema de sinal (até tu Paris!). Mesmo com a Polícia às portas, ele sacou o cartão de memória da câmera e carregou num computador. Haja sangue frio.

Um dos meios de comunicação usados nesse ataque contrariou as regras do terrorismo internacional, embora seja criativo. A técnica consiste em compartilhar contas de Gmail. Ao invés de enviar a mensagem, eles deixam-na como rascunho. Como a pasta de rascunhos é sincronizada, eles comunicam-se sem trocar mensagens, que são mais facilmente rastreáveis.

No fracassado atentado à Igreja de Saint-Cyr-Sainte-Julitte de Villejuif, um dos terroristas usava a ferramenta de criptografia “PGP” direitinho. Cometeu um único erro - e fatal - ao apagar uma mensagem sem passar pela criptografia. O cesto de lixo é o pote de ouro dos peritos. A partir desta falha, a Polícia francesa fez a festa e desbaratou todo o bando.

Nos atentados de novembro, o uso de aplicativos como Telegram e Signal pegou a Polícia de calças curtas. São ferramentas de chat com criptografia. Uma outra parte da quadrilha teria usado a função de comunicação do Playstation, algo igualmente difícil de ser rastreado. Se cometeram algum erro, foi ter se livrado de um celular. Aquele celular encontrado no cesto de lixo foi a chave para a rápida resposta da inteligência francesa.

Diante de tudo isso, a reação de alguns políticos desesperados para encontrar bodes expiatórios é esquecer dos  verdadeiros problemas e eleger um culpado: A tecnologia!

Sim, para eles, os culpados são a Internet, os aplicativos de mensagens, a telefonia celular e até o Playstation. Um político pediu o fim dos aplicativos com criptografia. Um outro quer “porta dos fundos” em todos os aplicativos.

Em tempos de desespero, pode ser uma tentação trocar liberdade por segurança. Entretanto, é certamente uma armadilha. Isso fica para o próximo post.


Leia também:
Atentados de janeiro: #jesuischarlie
Atentados de novembro: Terror
Porta dos fundos


Foto: Cenas de Mons (Bélgica), cidade escolhida como capital europeia da cultura em 2015.

Monday, December 7, 2015

Fantasma

O Brasil passa por uma fase difícil e a tensão deve aumentar ainda mais com a abertura do processo de impeachment. Não sei se será o golpe decisivo na corruptocracia instaurada pelo PT, mas é suficiente para alimentar nossas esperanças.

Diante de um Brasil que anda para trás e continua afundando na lama, os problemas dos outros países parecem menores. Só que não!

A crise dos refugiados e os recentes atentados de Paris potencializaram a ameaça que pairava no ar. Ontem, no primeiro turno das eleições regionais francesas, o Front National (FN), partido de extrema direita, abocanhou quase 30% dos votos.

As estrelas do partido são a filha (Marine) e a neta (Marion) do velho fascista Jean-Marie Le Pen. As caras são novas (e inexperientes), mas seus ideais são os mesmos. A vitória do FN é uma combinação da grande abstenção, do voto de protesto, do desemprego, do repúdio aos imigrantes e da descrença na Europa, entre outros.

Para não apavorar meus leitores, saibam que o sistema eleitoral francês ainda oferece alguma defesa contra a ameaça extremista. Nesses dias entre o primeiro e segundo turno, os partidos ainda podem retirar e fundir suas listas.

Ou seja, para se evitar a vitória do FN, os dois principais partidos da França - Socialista (PS) e Republicanos (LR) - terão de fazer algum sacrifício. Por exemplo, o PS anunciou hoje a retirada da sua lista de três regiões lideradas pelo FN. Em outras palavras, ele libera seus eleitores para votarem nos rivais Republicanos e ainda fica de fora da vida política da região nos próximos anos. Que castigo!

Acredito que os entendimentos políticos e a mobilização popular acabarão limitando o estrago do FN. Entretanto, fica uma dura advertência à classe política francesa. É melhor se mexer e atacar de frente os problemas do país! Com essa vitória, mesmo que parcial, o FN vai ganhar mais palanque para espalhar seu discurso raivoso. A ameaça continua no ar.


Foto: Última foto do Parque da Cambre em Bruxelas

Tuesday, December 1, 2015

Aula

Fazia um bom tempo que eu não entrava numa universidade. Em outubro, tive o prazer de dar uma aula numa escola de referência, a Solvay Brussels School. Trata-se da Faculdade de Economia e Negócios da Universidade Livre de Bruxelas.

O nome Solvay não é por acaso, a Escola foi criada a partir de uma doação de Ernest Solvay, fundador do Grupo Solvay, do qual a Rhodia tornou-se parte em 2011.

Uma semana antes da aula, notei que um aluno da Escola deixava  pegadas digitais ao recolher informações sobre mim. De fato, ele fora incumbido de fazer a apresentação do palestrante para seus colegas. Achei a iniciativa muito boa. Poupou-me um tempão. Além do mais,  essa nova geração é capaz de fazer apresentações muito melhores do que as minhas.

Lá da frente do anfiteatro, avistava mais de 150 meia-cabeças. Digo meia pois, invariavelmente, os seus Macs eram mais visíveis do que seus rostos. Um espião lá do fundo do auditório revelou aquilo que eu desconfiava. Muitos aproveitavam  o tempo para colocar o Facebook em dia. Tinha até um jogando paciência. Felizmente, para o bem da Bélgica e para minha satisfação pessoal, havia dezenas tomando nota dos meus comentários.

O coordenador do curso estava tão contente com a minha participação, que nem se preocupou com a forma da aula. Acabei usando e abusando do Powerpoint. Fazendo uma autocrítica, mesmo que seja algo comum no mundo corporativo, acho que a nova geração merece coisa melhor.

Apesar da platéia eminentemente francofônica, assim como todas as demais aulas daquele curso, minha apresentação foi em inglês. Bem, pelo menos o apresentador e os alunos estão no mesmo nível.  Cada um com seu sotaque :-)

O  mais interessante foi falar sobre transformação digital para a moçada. Eles nasceram conectados e sabem muito bem como usar as novas tecnologias. Não é à toa que várias empresas lançam programas de “reverse coaching”, onde os mais jovens orientam os mais experientes nos desafios do mundo digital.

Ao final dessas duas intensas horas de apresentação, não faço a menor ideia do que eles aprendeream. Eu aprendi muito.



Foto: Domingão outonal no parque da Cambre, em Bruxelas.