No último post, falei sobre o imbróglio envolvendo as gigantes da tecnologia, as Big Tech. Embora as práticas anticompetitivas sejam o tema comum entre elas, os problemas estão longe de ser do mesmo tamanho.
Ousando uma enorme simplificação, diria que a Apple merece
um puxão de orelha. O Google e a Amazon talvez mereçam o dobro. Seria algo como
a dizer: joguem limpo, pois estamos de olho!
Já com o Facebook, é uma outra história. Acredito que esteja
numa enrascada. Por mais que o congressista norte-americano se esforce, será
difícil desconectar a concentração de mercado das questões de manipulação das
redes sociais (fake news & cia), que são ameaças reais à democracia. Sem
querer menosprezar a questão econômica, acredito que seja muito menos complexa
do que a sociopolítica. Até porque ninguém sabe como lidar com isso.
O assunto está em pauta em todo mundo. Depois das evidências
de interferências em todas as eleições recentes, com mais ou menos impacto, uma
resposta da sociedade é imperativa. O problema é o arbítrio entre o controle
necessário e a liberdade de expressão e privacidade.
Felizmente, existem alguns caminhos no horizonte. O próprio
“PL das fake news” nacional inclui bloqueio de envios em massa, suspensão de
contas, controle de robôs, remoção de conteúdo, moderação, responsabilização,
etc. Segundo os especialistas que o acompanham, está longe da perfeição, mas já
é um grande avanço.
Um dos maiores pesquisadores do assunto, Sinan
Aral (MIT), acrescenta que é preciso muita atenção ao modelo econômico das
mídias sociais. Segundo ele, fake news são antes de tudo caça-níqueis, notícias
criadas para atrair cliques, com ou sem o intuito manipulatório. Num artigo
publicado na Science, ele demonstra que as fake news espalham mais simplesmente
porque são mais fresquinhas. É o efeito Tostines.
O suposto monopólio do Facebook não é tão ruim. Afinal, uma
rede social é boa, quando encontramos todo mundo por lá. Foi no Facebook, que
reencontramos os amigos do passado. É pelo Facebook, que muitos dos meus
leitores acessam este blog. É também nas ferramentas do Facebook, que vivemos
grande parte dos problemas mencionados neste artigo.
O Facebook está na berlinda há algum tempo. Não é à toa
que mesmo sendo um verdadeiro tesouro, sua valorização fica muito aquém
das demais Big Tech. A postura do seu fundador e CEO tem despertado
desconfiança e confronto. É hora de prestar atenção à sociedade, negociar e
tirar a empresa da mira dos holofotes.
Aliás, eu iria mais longe. Se fosse o Mark Zuckerberg,
pendurava as chuteiras. Fazia como a Microsoft e o Google, contratava um
indiano empático para gerir seu império. Ou então, promoveria a atual COO
Sheryl Sandberg a CEO. Mark poderia montar sua própria fundação e uma holding
para gerir seu patrimônio. De vez em quando, iria à reunião do conselho e,
sobretudo, não atrapalharia a/o CEO.
Foto: A Galeria Nacional Húngara situa-se no Castelo de Buda, que foi residência real da Hungria. O local do castelo, uma colina às margens do Rio Danúbio, teve esse fim desde o século XIII, porém houve diversas destruições e reconstruções. Foto de 2016.
1 comment:
"Muito ajuda quem pouco atrapalha."
Mais uma vez, acertou em cheio.
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