Thursday, August 6, 2020

Eu, você e o Mark

No último post, falei sobre o imbróglio envolvendo as gigantes da tecnologia, as Big Tech. Embora as práticas anticompetitivas sejam o tema comum entre elas, os problemas estão longe de ser do mesmo tamanho.

Ousando uma enorme simplificação, diria que a Apple merece um puxão de orelha. O Google e a Amazon talvez mereçam o dobro. Seria algo como a dizer: joguem limpo, pois estamos de olho! 

Já com o Facebook, é uma outra história. Acredito que esteja numa enrascada. Por mais que o congressista norte-americano se esforce, será difícil desconectar a concentração de mercado das questões de manipulação das redes sociais (fake news & cia), que são ameaças reais à democracia. Sem querer menosprezar a questão econômica, acredito que seja muito menos complexa do que a sociopolítica. Até porque ninguém sabe como lidar com isso.

O assunto está em pauta em todo mundo. Depois das evidências de interferências em todas as eleições recentes, com mais ou menos impacto, uma resposta da sociedade é imperativa. O problema é o arbítrio entre o controle necessário e a liberdade de expressão e privacidade.

Felizmente, existem alguns caminhos no horizonte. O próprio “PL das fake news” nacional inclui bloqueio de envios em massa, suspensão de contas, controle de robôs, remoção de conteúdo, moderação, responsabilização, etc. Segundo os especialistas que o acompanham, está longe da perfeição, mas já é um grande avanço.

Um dos maiores pesquisadores do assunto, Sinan Aral (MIT), acrescenta que é preciso muita atenção ao modelo econômico das mídias sociais. Segundo ele, fake news são antes de tudo caça-níqueis, notícias criadas para atrair cliques, com ou sem o intuito manipulatório. Num artigo publicado na Science, ele demonstra que as fake news espalham mais simplesmente porque são mais fresquinhas. É o efeito Tostines.

O suposto monopólio do Facebook não é tão ruim. Afinal, uma rede social é boa, quando encontramos todo mundo por lá. Foi no Facebook, que reencontramos os amigos do passado. É pelo Facebook, que muitos dos meus leitores acessam este blog. É também nas ferramentas do Facebook, que vivemos grande parte dos problemas mencionados neste artigo.

O Facebook está na berlinda há algum tempo. Não é à toa que mesmo sendo um verdadeiro tesouro, sua valorização fica muito aquém das demais Big Tech. A postura do seu fundador e CEO tem despertado desconfiança e confronto. É hora de prestar atenção à sociedade, negociar e tirar a empresa da mira dos holofotes.

Aliás, eu iria mais longe. Se fosse o Mark Zuckerberg, pendurava as chuteiras. Fazia como a Microsoft e o Google, contratava um indiano empático para gerir seu império. Ou então, promoveria a atual COO Sheryl Sandberg a CEO. Mark poderia montar sua própria fundação e uma holding para gerir seu patrimônio. De vez em quando, iria à reunião do conselho e, sobretudo, não atrapalharia a/o CEO.

 

 

Foto: A Galeria Nacional Húngara situa-se no Castelo de Buda, que foi residência real da Hungria. O local do castelo, uma colina às margens do Rio Danúbio, teve esse fim desde o século XIII, porém houve diversas destruições e reconstruções. Foto de 2016.

1 comment:

Felipe Pait said...

"Muito ajuda quem pouco atrapalha."

Mais uma vez, acertou em cheio.