Páginas do Fernando Birman

Friday, October 30, 2020

Hotel boutique

 


No ano de 2016, o meu retorno para o Brasil já estava agendado para o final de julho. Aproveitei o primeiro semestre para passear bastante. Não desperdicei nenhum dos feriados, sobretudo aqueles do generoso mês de maio: Trabalho, Armistício de 1945, Ascensão e Pentecostes.

- O que faremos no feriado prolongado de cinco dias? – indagou minha esposa.

- Vamos ver se tem algum lugar legal, que a gente não conheça, no máximo a 3 horas de vôo daqui (de Bruxelas). – Respondi de imediato.

Estávamos em casa, então, no computador, abri uma janela para procurar passagens e outra para procurar hotéis. Em menos de dez minutos, disse: Vamos para Santorini, na Grécia!

Abri uma terceira janela e busquei imagens de Santorini no Google. Mostrei as fotos para minha esposa, que ficou instantaneamente encantada e ansiosa pela viagem.

O vôo era da TUI, uma operadora alemã que fazia a rota Bruxelas-Santorini, com uma escala em outra ilha grega. O hotel parecia ser um daqueles com status de “boutique”, mas com preço bem razoável. Não perdi muito tempo na reserva, pois tinha várias viagens para organizar.

Meu colega Thierry, apaixonado pela Grécia, ensinou algumas palavras. A dica mais importante era a pronúncia correta da localidade de Santorini onde estava o hotel: Oia, pronuncia-se “ía”.

Essa viagem foi um pouco depois dos atentados no aeroporto de Bruxelas, que ainda estava um caos. Felizmente, deu tudo certo. Já relatei o episódio do aluguel de carro em Santorini no post “A mãe do taxista”.

A principal rua de Oia é fechada para carros. Do estacionamento até o hotel não deu 100m. Não vimos o hotel em si, apenas uma placa com seu nome. Fomos na sua direção.

Apesar da beleza do cenário, era tudo um pouco estranho. Uma coisa é ver a cidade no mapa, outra é andar por lá. Diversos hotéis não têm estruturas visíveis ao nível da rua, eles são construídos no terreno em declive.

Diante da suposta entrada do hotel, identifiquei-me ao suposto atendente. Instantes depois, aparece um garçom com duas taças de champagne. Pera aí, servir champagne antes mesmo de entrar no hotel?!

A extrema gentileza chamou a minha atenção. E como, daquele ponto, não via o hotel em si, pensei que estivesse caindo numa cilada. Sim, um golpe! Disse para minha esposa grudar nas malas.

Só relaxei na medida em que descíamos as infindáveis escadas barranco abaixo. Também percebi que aquilo era mesmo um hotel boutique. Cada quarto parecia ser cavado na rocha com terraço e piscina privativos. A paisagem de Santorini ao fundo deixava o cenário espetacular.

Estava aliviado. Porém, a essa altura, já estava com outra pulga atrás da orelha: quanto tinha pago pelo hotel? Lembrava-me de um preço bem razoável. Quando vi o tamanho do quarto, o incômodo deixou de ser um simples incômodo e passou a ser uma certeza. Disse para minha esposa: Fiz alguma grande cagada na reserva do hotel!

Preferi nem olhar a reserva. Daí em diante, sabiamente, desencanei. Passei a aproveitar o lugar deslumbrante. Só fui conferir a reserva na véspera do checkout, quando confirmei a minha suspeita. O que eu pensava que fosse o preço da estadia completa era o preço de uma diária!

Aquele deslize transformou-se num dos nossos melhores cinco dias. Uma viagem inesquecível. Além das doces lembranças, guardei a conta do hotel boutique como souvenir.

 

Leitura complementar:

Post de 2016 – A mãe do taxista

 

Foto: Acima, visão panorâmica Oia, a partir de um dos inúmeros terraços. Abaixo, entrando no hotel. 

Ufa! Até que enfim consegui casar o texto com as fotos. 







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