O impacto eleitoral do episódio de Toulouse ainda é indefinido. Apesar do cuidado inicial, agora, ouvimos asneiras de todos os lados.
Sarkozy teria tudo para tirar maior proveito. Se o assassino não era um imigrante, era um francês de origem árabe mal integrado à sociedade. O Presidente usou a sua energia característica para anunciar um pacote anti-terror com medidas de bisbilhotagem cibernética pouco eficazes e pouco apreciadas.
François Hollande soube aproveitar o episódio, criticando o serviço secreto. Entre os dois atentados, houve um intervalo suficiente para se chegar ao criminoso. Boa parte da esquerda, assim como a extrema esquerda, denuncia a teatralização do crime de Toulouse e o risco de disseminação da islamofobia. Na minha opinião, eles o fazem com tanta insistência, que parece islamofilia.
A extrema direita deve estar rindo à toa. Nos anos em que vivi por lá, quase todas as agressões aos judeus vieram de muçulmanos. São inúmeras agressões físicas, pichações e ameaças, que não chegam a ser notícia no Brasil. Neo-nazistas nem precisam se preocupar com judeus. Às vezes, eles atacam muçulmanos, que são milhões e incomodam muito mais.
A maioria esmagadora dos muçulmanos está totalmente integrada à sociedade secular. Entretanto, existem pouco mais de 10 mil fanáticos, com valores muito diferentes. Por razões óbvias, a própria comunidade islâmica não aprecia essa pequena minoria, que faz tanto barulho e estigmatiza a maioria.
Não apenas a França, mas muitos países estão diante de um terrível dilema. Como controlar esse tipo de gente sem violar os princípios que defendemos para todo o resto da sociedade? O colunista de religiões do Le Monde, o ótimo Henri Tincq, postula a mesma questão de forma diferente: "A república laica é suficientemente aparelhada para enfrentar uma tal concepção da religião como ideologia assassina?"
Procuram-se respostas.
Foto: A escultura "Cloud Gate" ou "The Bean" é uma das atrações do Millenium Park, em Chicago. Seu autor é Anish Kapoor.
2 comments:
A expressão "tem uma vida muito parecida como a nossa" é meio infeliz. Sugiro trocar a palavra "nossa".
Tem razão. Suprimi a frase. Ficou mais simples e mais claro: "A maioria esmagadora dos muçulmanos está totalmente integrada à sociedade secular". Obrigado!
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