O especial de Natal do “Porta dos Fundos” despertou a fúria
de diversos grupos cristãos. O tema não é novo neste blog. Nos tempos de
Europa, comentei várias vezes sobre as reações de grupos religiosos aos cartunistas
mais ousados.
De uma forma geral, acho positivo que os humoristas não
encarem religião como tabu e utilizem-na como mote para suas criações. Se
existem limites, que sejam delineados pelo bom senso e não por burocratas.
Muita gente já inspirou-se na Bíblia para fazer rir, por
exemplo, Mel Brooks (A História do Mundo) e Monty Python (A vida de Brian). Cá
entre nós, na maioria dos filmes do gênero, a piada já está quase pronta!
Uma das técnicas mais comuns para se fazer graça com história
ou religião é recriar o passado com referências do presente, sejam nos
costumes, na linguagem ou na tecnologia. No vídeo em questão, o presente trazido
por Melquior não era mirra, mas uma outra erva. Num outro quadro, Maria
diz: “Esse Império Romano é um ovo”. Já no final, Jesus diz para Tibério: “Você
tem a maior mão de fada”.
Até aí tudo bem. O debate esquenta ao se afrontar um dogma
da religião. É o que acontece, por exemplo, quando algum cartunista europeu faz
uma representação de Maomé. Já a trupe brasileira fez piada com a maternidade
de Maria. Apesar de ter gostado de grande parte do vídeo, reconheço que isso
seria dispensável. Justamente por ser uma piada tão fácil, beira o mau gosto. Por
outro lado, não concordaria com a sua censura.
Os tais grupos cristãos tiveram o mesmo comportamento dos
petistas. Até ironizarem Lula e Dilma, o “Porta dos Fundos” era um grupo genial.
Depois, virou um grupo tucano. Há poucas semanas, o grupo avacalhou alguns
costumes islâmicos e ninguém falou nada.
Esse é o problema de quem leva religião muito a sério. Toda
religião possui seus mitos e dogmas. Nem todos acreditam em tudo, mas respeitam.
O problema começa quando alguns acham que as suas crenças são mais verdadeiras
do que as dos outros.
E se o “Porta dos Fundos” pisou na bola fazendo piada com
Maria, coube a ninguém menos do que Deus a fala mais inspirada do polêmico
vídeo, que serve de resposta aos tais grupos cristãos e a outros fanáticos. No final
do primeiro quadro, diante de um José incrédulo de que a história do seu filho Jesus seja convincente, Deus diz: “Querido, isso aí relaxa. O pessoal acredita em
qualquer coisa. Vai por mim”.
Foto: Abrindo uma série de fotos de Amsterdam tiradas em
agosto de 2013.
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