Tuesday, October 21, 2025

Competência rara


 

A história do nosso problema começa lá atrás. Ainda na década de 80, o líder chinês Deng Xiaoping fez uma declaração de peso: "O Oriente Médio tem petróleo. A China tem terras raras." Sim, isso foi há quase 40 anos! À época, muitos líderes ocidentais devem ter pensado: "Ah, é só mais uma pérola dos caciques do Império do Meio," daquelas que ficam no almanaque da História e nada mais.

Obviamente, você já sabe que não foi bem assim. Nessas últimas quatro décadas, a China pintou e bordou para dominar completamente esta indústria. Não vou entrar nos detalhes econômicos, mas o processo foi meticulosamente planejado e não era nada secreto. Se alguém se declarar surpreso com o uso deste virtual monopólio como instrumento de pressão, barganha ou resposta, provavelmente esteve hibernando durante todo esse período. O Ocidente viu a China assumir o controle total, da mineração ao crucial refino, por pura conveniência.

É bom lembrar que desde aquela época já se sabia que esses elementos metálicos eram vitais para a indústria, especialmente na eletroeletrônica, com aplicações em transportes, setor militar e eletroportáteis. O tempo só tornou as terras raras ainda mais essenciais com a aceleração da nossa dependência a novos aparatos, como carros elétricos, turbinas eólicas e, claro, toda a parafernália militar de última geração. O primeiro "recado" oficial ao mundo veio em 2010, durante uma crise sino-nipônica de disputa territorial.

Fica aquela dúvida cruel: foi um erro? Excesso de inocência? Ou a preocupação com outras pautas foi uma desculpa conveniente para deixar o "trabalho sujo" com a China? Bom, evidentemente, ainda existe uma chance de diálogo com Pequim e, mais do que isso, essa conversa será compulsória até que o resto do mundo consiga reestabelecer uma nova cadeia de produção. Mas, até lá, será uma conversa nos termos da China.

Assim como descobrimos na pandemia com as cadeias de suprimentos de alguns itens essenciais, é vital gerenciar riscos, mesmo que isso signifique abrir mão dos custos mais baixos. No caso das terras raras, a intervenção dos governos era necessária: direcionar esforços para uma exploração e refino mais sustentáveis, oferecer subsídios estratégicos às usinas deficitárias dos anos 80 (mantendo a capacidade de processamento), e formar robustos estoques de segurança.

Enfim, tirar o domínio da China não é nada óbvio, principalmente no prisma de livre mercado. A única coisa óbvia é que a China, um dia, mostraria quem dá as cartas. E esse dia chegou.



Foto: “Altes Museum” de Berlim, última etapa da viagem. Este museu tem um inigualável acervo greco-romano (abril de 2024).


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