Páginas do Fernando Birman

Wednesday, August 12, 2020

Foi por dinheiro



Meus caros leitores talvez não conheçam a Macedônia do Norte e muito menos a relação deste pequeno país com a campanha do Trump de 2016. Saibam que, apenas na pacata cidade de Veles, existiam cerca de 100 sites pró-Trump. Sites feitos com notícias copiadas, falsas ou distorções apelativas de notícias reais.

Afinal, o que existe de tão especial neste país oriundo da desintegração da Iugoslávia? Seriam todos de extrema-direita? Seria fruto de um projeto secreto do Trump? Talvez do Putin?

Não, nada disso, Veles é apenas uma cidade decadente. Alguns dos seus jovens desesperançosos descobriram que poderiam ganhar uns trocados com sites na Internet. Bastava um assunto de interesse geral e as máquinas de ‘ads’ do Google e Facebook faziam o resto. No meio da pobreza da Macedônia moderna, qualquer trocado seria bem vindo.

Depois de poucos casos de sucesso, perceberam a maior das oportunidades naquele não tão distante ano de 2016. Sendo os apoiadores do Trump muito ativos nas redes sociais, os macedônios criaram uma arapuca - um vasto conjunto de sites simpáticos às causas da extrema-direita para atraí-los e, dessa forma, serem remunerados pelo Google e Facebook em função dos cliques obtidos.

Por incrível que pareça, esses jovens tinham um inglês sofrível e mal conheciam o Trump. Muitos deles arrependeram-se publicamente pelo apoio involuntário ao candidato republicano. Mas deixaram bem claro: “foi por dinheiro”.

No último post, comentei sobre o assunto e acredito que seja importante reforçá-lo. Faço isso como utilidade pública. Quanto mais gente entender desse mundo orientado pelos cliques, ficaremos mais seguros e menos vulneráveis.

Enquanto você pensa se uma notícia que acabou de ler é verdadeira ou falsa, seu autor já faturou. O jogo das fake news, da manipulação e da apelação é sobretudo uma máquina de fazer dinheiro. Nesse jogo vale tudo para atrair os cliques.

Evidentemente, não podemos desprezar o aspecto manipulatório, que existe e é uma ameaça real à democracia, conforme mencionei no post anterior. Na mesma campanha do Trump, houve conteúdo nesse sentido, como mostrou o escândalo Cambridge Analytica.

Todos precisam ter consciência que por trás de histórias sensacionalistas, teorias conspiratórias, manipulações de notícias e as próprias fake news tem sempre alguém ganhando dinheiro. Pessoas vivem de cliques. Empresas vivem de cliques. O mundo gira em torno dos cliques. Não basta se abster de espalhar fake news, é preciso vender nossos cliques cada vez mais caro.

 

 Foto: Se eu tivesse alguma foto tirada na Macedônia do Norte, seria o momento. Cheguei perto: Grécia, Croácia e Eslovênia, que ficarão para outros posts. Então, continuemos com as viagens de 2016. Ainda em Budapeste, o fantástico mercado central, com direito às vistas externa e interna (abaixo).


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