A pandemia provocou uma certa aversão ao papel moeda. É
cartão pra cá, cartão pra lá, celular pra cá, celular pra lá. A abundância de
maquininhas de pagamento permitiu que qualquer comerciante possa oferecer opções
de pagamento com ou sem contato. Imagino que muitos jovens tenham dispensado
a boa e velha carteira. Documentos e dinheiro foram finalmente digitalizados.
Com o lançamento do PIX, tudo ficará ainda mais dinâmico,
confiável e barato. Bom para todo mundo. Digo todo mundo mesmo. A enorme
população desbancarizada do Brasil – cerca de 45 milhões - será grande beneficiária.
O projeto do PIX é um marco em si. Foi coordenado com
competência pelo BACEN, que mostra sua determinação em fazer do nosso sistema
financeiro uma referência mundial e aumentando a sua competição interna.
Entretanto, às vésperas deste marco importante, uma trágica contradição:
mais um político é flagrado com dinheiro na cueca. Literalmente, dinheiro sujo.
E o que dizer então da recém-criada nota de 200 reais? Enquanto que uma parte da
gestão pública vai na direção certa, uma outra continua no mau caminho.
As transferências diretas de dinheiro - TED, DOC, boleto e cartões -
deixam rastro, assim como o PIX. Bandidos e corruptos continuarão precisando de
papel moeda para acobertar suas tenebrosas transações.
A digitalização do dinheiro dificulta a vida da
criminalidade. Não é porque alguém tenha pago coisas caras com papel moeda
que seja corrupto, mas a gente vai ficar cada vez mais desconfiado.
Em
2017, elogiei a Índia pela substituição repentina do seu dinheiro. Os
criminosos tiveram muito trabalho, mas a ousadia acabou prejudicando bastante a
maioria humilde do país de quase 1,4 bilhão de habitantes. O caso da Índia não
pode ser ‘copiado e colado’. Pelo menos, eles tentaram. Aqui no Brasil, o crime
e a corrupção continuam conquistando terreno.
Se não podemos conter a criminalidade, deveríamos fazer o
máximo para dificultá-la. Jamais o contrário.
Foto: Final de semana em Tréveris (Alemanha), na primavera
de 2016. A cidade é conhecida por suas ruínas romanas e por ter sido berço de
Marx. Na foto, uma tomada a partir da praça central.
Leitura complementar:
Lavagem
– Post de 2017
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