Wednesday, December 22, 2010

Humor viaja?

A britânica Economist publicou uma nota sobre a boa fase do humor francês dos últimos anos. A revista não é de desperdiçar elogios, especialmente aqueles destinados ao povo do outro lado da Mancha. Não posso concordar nem discordar da revista. Pude sim, aproveitar, pois tive o privilégio de conhecer a boa fase.

Entre cinema, televisão, teatro e rádio, chamo atenção dos leitores brasileiros para a importância do último. Os grandes nomes do humor francês (Nicolas Canteloup, Florence Foresti, etc) obtêm audiência e prestígio no rádio, o que é bastante diferente do Brasil, onde a TV é dominante.

Endosso plenamente uma das explicações da Economist para essa revolução francesa da comédia: O escapismo. A crise gera a demanda por momentos de relaxamento. A incompetência em lidar com a crise gera a oferta de piadas. Sejamos justos, incompetência à direita e à esquerda.

Os ingleses ainda comentam que o humor francês nunca viajou bem. Eu pergunto se algum humor viaja bem? Não seria a presença dos comediantes franceses no exterior proporcional a decadente presença da cultura francesa?

O eixo anglo-saxão domina o mercado cultural internacional, por que possui uma avassaladora máquina de produção e exportação. No pacotão: A música, o cinema, a televisão e assim por diante. E o humor vai junto.

Tomando-se o cinema como exemplo, mesmo que os grandes clássicos do gênero tenham vindo dos EUA, italianos e franceses colocaram algumas boas comédias entre as melhores. Não acredito que haja uma relação com a origem, mas apenas com a qualidade da obra. Para minha surpresa, no ranking popular do IMDB, Amélie Poulain aparece como uma das melhores de todos os tempos.

No universo da televisão, o eixo anglo-saxão monopoliza a comédia através das onipresentes sitcoms, as vacas leiteiras dos canais pagos. Poderíamos concluir que nenhum outro humor viaja bem. Pensando com os meus botões, deixo algumas perguntas: Seria esse humor de tanto sucesso genuinamente americano ou inglês? Nós gostamos disso tudo ou faltam alternativas? Não seriam os produtos de sucesso - esses que viajam tão bem - a expressão mais simplista do humor universal?


Foto: A última foto de Autun, na Borgonha. Caminhando do teatro romano até o centro da cidade, encontrei a pracinha que proporcionou a tomada acima.

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