Remexendo as coisas aqui em casa, achei um aparelho GPS abandonado há anos. Carreguei e liguei. Como ele não pôde receber o sinal dos satélites, então mostrou o lugar onde fora desligado pela última vez, a saída da minha garagem em Lyon (2010).
Graças à minha determinação em conhecer cada buraco a até 3
horas de Lyon, precisei muito dele. Eu tinha um GPS embutido no painel do carro,
um luxo à época. Posteriormente, adquiri um outro, conforme relato a seguir. Houve
um grande mercado de aparelhos GPS, derrubado pelos poderosos smartphones e suas
fantásticas aplicações, tal qual o onipresente Waze.
Até meados de 2008, contava apenas com o GPS do carro. Foi na
primavera daquele ano que parti para explorar a Franche-Comté. Chegar a
Besançon é fácil, mas precisaria do GPS para visitar uma dúzia de atrações da
vizinhança: a capela de Rondchamp (Le Corbusier), o Leão de Belfort (Bartholdi),
a Salina Real (Ledoux), as diversas fortalezas de Vauban e assim por diante.
No dia seguinte à chegada, liguei o carro para começar a
aventura. Ops, um probleminha! Naquela manhã fria, o carro pegou, mas o GPS
empacou. Depois de alguma insistência, compreendi que ele só tinha o mapa do
sul da França. Eu estava fora do mapa!
Fazendo um breve parêntesis, era impossível baixar um novo
mapa online. Além disso, cada mapa extra era tão caro quanto um Tomtom
carregado com a Europa inteira. Pouco depois da viagem, optei pelo Tomtom, mais
fácil e intuitivo do que o GPS do carro.
Voltando à viagem. Sem o GPS, o jeito foi fazer como sempre
foi feito. Comprei um mapa no posto e prestei atenção na paisagem e nas placas.
Passei a dirigir observando e pensando, ao invés de seguir cegamente o
dispositivo. Tudo funcionou com perfeição.
Quando voltei ao Brasil, já estávamos na era do Waze. Embora
o maior objetivo do aplicativo seja ganhar tempo – e isso funcionou super bem –
acabamos viciados e dependentes do mesmo. Sempre tem uma desculpa para usá-lo:
o trânsito, os radares, uma dúvida com relação ao caminho, etc.
E por que falar de GPS numa época em que estamos com os
carros ociosos na garagem? Por duas razões. Primeiro, como disse no começo do
post, em tempos de pandemia uma das minhas atividades é fazer ‘arqueologia em
casa’. Foi assim que descobri o GPS.
A segunda razão, e mais importante, é que a pandemia propiciou
uma convivência mais intensa e constante com minha esposa. Parte dessa
interação foi ouvir inúmeras aulas dos cursos que ela tem feito desde o começo
do ano, vários deles focados no envelhecimento.
Então, foi meio de penetra, que ouvi uma especialista em
cognição falar da importância de se abandonar os aplicativos de direção para
melhor estimular o cérebro. Deixe-o capturar as referências, processar as
alternativas e encontrar os caminhos. Este pequeno exercício intelectual faz
parte de um conjunto de estímulos essenciais para mantê-lo saudável. Embora não
seja uma unanimidade, segundo diversos especialistas, tais estímulos somados às
boas práticas de saúde podem até prevenir demências.
Percebendo que o trânsito de São Paulo está piorando, mas
ainda longe dos piores dias do período anterior pré-pandemia, aproveitem para
deixar o Waze desligado. #ficaadica
Foto: Outra tomada de Oia, do interior do hotel, se é que
podemos falar de interior. Santorini, 2016.
Odeio GPS.
ReplyDeleteMapa no telefone celular, é outra coisa. Funciona bem por causa da função GPS, claro. Muito melhor que carregar mapas e mais mapas. Uso sim, o tempo todo, no modo mapa, nunca uso visualização ou instruções.
A tal função GPS, odeio. Mais perdido do que quem pergunta o caminho em posto de gasolina, mais perdido até do que quem segue as direções, é quem usa GPS.