Páginas do Fernando Birman

Saturday, November 21, 2020

GPS



Remexendo as coisas aqui em casa, achei um aparelho GPS abandonado há anos. Carreguei e liguei. Como ele não pôde receber o sinal dos satélites, então mostrou o lugar onde fora desligado pela última vez, a saída da minha garagem em Lyon (2010).

Graças à minha determinação em conhecer cada buraco a até 3 horas de Lyon, precisei muito dele. Eu tinha um GPS embutido no painel do carro, um luxo à época. Posteriormente, adquiri um outro, conforme relato a seguir. Houve um grande mercado de aparelhos GPS, derrubado pelos poderosos smartphones e suas fantásticas aplicações, tal qual o onipresente Waze.

Até meados de 2008, contava apenas com o GPS do carro. Foi na primavera daquele ano que parti para explorar a Franche-Comté. Chegar a Besançon é fácil, mas precisaria do GPS para visitar uma dúzia de atrações da vizinhança: a capela de Rondchamp (Le Corbusier), o Leão de Belfort (Bartholdi), a Salina Real (Ledoux), as diversas fortalezas de Vauban e assim por diante.

No dia seguinte à chegada, liguei o carro para começar a aventura. Ops, um probleminha! Naquela manhã fria, o carro pegou, mas o GPS empacou. Depois de alguma insistência, compreendi que ele só tinha o mapa do sul da França. Eu estava fora do mapa!

Fazendo um breve parêntesis, era impossível baixar um novo mapa online. Além disso, cada mapa extra era tão caro quanto um Tomtom carregado com a Europa inteira. Pouco depois da viagem, optei pelo Tomtom, mais fácil e intuitivo do que o GPS do carro.

Voltando à viagem. Sem o GPS, o jeito foi fazer como sempre foi feito. Comprei um mapa no posto e prestei atenção na paisagem e nas placas. Passei a dirigir observando e pensando, ao invés de seguir cegamente o dispositivo. Tudo funcionou com perfeição.  

Quando voltei ao Brasil, já estávamos na era do Waze. Embora o maior objetivo do aplicativo seja ganhar tempo – e isso funcionou super bem – acabamos viciados e dependentes do mesmo. Sempre tem uma desculpa para usá-lo: o trânsito, os radares, uma dúvida com relação ao caminho, etc.

E por que falar de GPS numa época em que estamos com os carros ociosos na garagem? Por duas razões. Primeiro, como disse no começo do post, em tempos de pandemia uma das minhas atividades é fazer ‘arqueologia em casa’. Foi assim que descobri o GPS.

A segunda razão, e mais importante, é que a pandemia propiciou uma convivência mais intensa e constante com minha esposa. Parte dessa interação foi ouvir inúmeras aulas dos cursos que ela tem feito desde o começo do ano, vários deles focados no envelhecimento.

Então, foi meio de penetra, que ouvi uma especialista em cognição falar da importância de se abandonar os aplicativos de direção para melhor estimular o cérebro. Deixe-o capturar as referências, processar as alternativas e encontrar os caminhos. Este pequeno exercício intelectual faz parte de um conjunto de estímulos essenciais para mantê-lo saudável. Embora não seja uma unanimidade, segundo diversos especialistas, tais estímulos somados às boas práticas de saúde podem até prevenir demências.

Percebendo que o trânsito de São Paulo está piorando, mas ainda longe dos piores dias do período anterior pré-pandemia, aproveitem para deixar o Waze desligado. #ficaadica

 


Foto: Outra tomada de Oia, do interior do hotel, se é que podemos falar de interior. Santorini, 2016.


1 comment:

  1. Odeio GPS.

    Mapa no telefone celular, é outra coisa. Funciona bem por causa da função GPS, claro. Muito melhor que carregar mapas e mais mapas. Uso sim, o tempo todo, no modo mapa, nunca uso visualização ou instruções.

    A tal função GPS, odeio. Mais perdido do que quem pergunta o caminho em posto de gasolina, mais perdido até do que quem segue as direções, é quem usa GPS.

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