Existem obras de arte que, de fato, transcendem a condição de objetos valiosos: são verdadeiras cápsulas do tempo. Falo da Tapeçaria de Bayeux, que tive a honra de visitar em 2009, quando da viagem à Normandia, como registrado no meu blog.
Por quase mil anos, esta relíquia, um bordado de 70 metros, permaneceu na Normandia. Agora, ela se prepara para sua jornada a Londres, gerando polêmica e fascínio em igual medida.
Apenas como uma breve recapitulação, a tapeçaria narra os eventos da conquista normanda da Inglaterra em 1066. Liderados por Guilherme, o Conquistador, os normandos — descendentes de vikings que se estabeleceram na França — invadiram a ilha, desafiando o rei anglo-saxão. A história culmina na épica e decisiva Batalha de Hastings, onde o destino de duas nações foi selado. Mais do que um simples registro, a tapeçaria é uma peça de propaganda, meticulosamente bordada para glorificar a vitória normanda e justificar a ascensão de Guilherme ao trono inglês.
Sua importância histórica é inestimável. Ela é uma das fontes mais ricas para entendermos não apenas os eventos militares, mas também a vida cotidiana, a arquitetura e as vestimentas do século XI.
Agora, com o seu lar, o museu de Bayeux, fechado para uma grande reforma, a tapeçaria será exposta em uma nova casa temporária: o British Museum, em Londres. Bastante simbólico, considerando o tema da tapeçaria e a proximidade do milênio do nascimento de Guilherme, o Conquistador.
Este empréstimo, uma cortesia do presidente Emmanuel Macron, faz parte de um acordo que visa reforçar as relações culturais entre França e Reino Unido. E é aqui que surge a polêmica. O empréstimo de um artefato tão antigo e frágil é uma decisão arriscada. Afinal, depois de quase mil anos, a tapeçaria está fragilizada e não precisa de muito para que o bordado rasgue, quebre ou esfacele.
Muitos argumentam que o risco de danos é alto demais, questionando se o apelo de uma exibição em solo inglês justifica a remoção da obra de seu lar centenário. É um debate que coloca a preservação rigorosa contra o desejo de compartilhar a história com o mundo, permitindo que uma nova geração a contemple de perto. Independentemente dos desafios técnicos do transporte, a tapeçaria merece um local apropriado e ser apreciada por todos.
Imagens – Acima, Museu da Tapeçaria de Bayeux (foto de 2009), que será submetido a uma grande reforma. Abaixo, um trecho da Tapeçaria de Bayeux através do seu site oficial.
(*) Título emprestado do jornal Libération de 5/9/25.
Outras informações e imagens - Site oficial da Tapeçaria de Bayeux
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