A televisão francesa, num excelente documentário, mostrou como funciona o mundo das offshore. Escolheu um imponente apartamento do centro de Paris trocado de mãos recentemente. É um daqueles imóveis que vale mais de 100 milhões de reais. Quem seria o felizardo proprietário?
O imóvel foi registrado por uma empresa francesa, que pertence a uma empresa de Luxemburgo, que pertence a outra empresa de Luxemburgo, que pertence a uma terceira empresa de Luxemburgo, que finalmente pertence a uma empresa panamenha. Esta última, registrada por um testa-de-ferro. Por vias normais, é impossível saber o nome do seu ilustre proprietário.
Se não fosse uma denúncia anônima, jamais chegariam ao misterioso proprietário. A escolha do imóvel não foi aleatória. A TV francesa havia recebido o dossiê completo do caso, da mesma forma como vazaram os “Lux Leaks” ou os “Panama Papers”.
A operação fora montada pelo Banco Rothschild para um executivo árabe, acusado de desfalcar o fundo soberano do seu país em meio bilhão de euros. No Brasil, seria um petralha do segundo escalão, mas de muito bom gosto.
Na França, as informações do “Panama Papers” fazem um verdadeiro “strike”. Estão lá os casos mais recentes de corrupção do país, o escritório de advocacia do Sarkozy e a Société Genérale. Material suficiente para ligar todos os pontos que faltavam no atlas da corrupção local.
Não posso dizer a mesma coisa do Brasil. Considerando a corrupção generalizada que assola a nação, ainda precisamos de muitas outras denúncias. Quero crer que a Receita Federal esteja trabalhando com toda essa informação, mesmo que seja na surdina.
Pelo menos na Europa, há um claro sentimento de indignação com relação à fuga de capitais, lavagem de dinheiro e outras maquiagens financeiras. A atuação de hackers, funcionários ativistas ou puros aproveitadores vai infernizar a vida de quem trabalha às margens do sistema financeiro. A vida de corrupto está ficando cada vez mais difícil.
Foto: Château de Bizy, na Normandia.
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