Saturday, May 7, 2011

Apple made in Brazil

Se dependesse de Terry Gou, proprietário taiwanês da Foxconn, o seu exército de um milhão empregados estaria numa única planta em algum lugar da China. Talvez até no mesmo pavilhão. Lá, ele se julga o mais rápido e mais barato do mundo. Terry já não usa chicote, porém, seus métodos de gestão de pessoal nos lembram mais o século XIX do que o atual.

Por diversas razões, a Foxconn descentraliza a sua produção pelo mundo:

1- Ela atende quase todos os grandes nomes da eletrônica, concorrentes entre si, que exigem plantas isoladas para melhor proteger suas inovações. Exemplo: A Apple, que protege suas criações mais do que ninguém.

2- Para otimizar o transporte, é mais interessante levar as peças de produtos mais volumosos para o Ocidente e montá-las perto do consumidor final. Exemplo: TVs de tela muito grande.

3- Como muitos países possuem restrições à entrada de eletrônicos, a Foxconn não hesita em instalar filiais para contorná-las. A entrada da Foxconn nesses países é simplesmente uma otimização tarifária. Exemplo: Brasil!

Enfim, a discussão em torno da fabricação dos produtos da Apple no Brasil é exatamente este terceiro caso. Considerando-se o contexto brasileiro - econômico, legal, cambial e trabalhista - jamais poderíamos competir em custos com a China. Jamais poderíamos fabricar um produto que chegasse ao consumidor a um preço comparável. A mágica do iPad nacional é exclusivamente uma manipulação fiscal.

Mesmo com uma nova fábrica aqui no Brasil, a Foxconn ainda precisa de uma série extra de isenções tributárias e favores públicos. Vai receber favores municipais, estaduais e federais por anos. E quem garante que o iPad brasileiro será mais barato? Provavelmente, a classe média continuará comprando iPads e iPods nos EUA.

Finalmente, ter os produtos da Apple made in Brazil pode ser visto como um ato político simbólico, um ato de "soberania". Não tenho nada contra, pois todos países fazem um pouco disso. Só não podemos esquecer que todo mundo paga essa conta, mesmo aqueles que nem sonham com um iPad.


Foto: Última foto de Nîmes, no Jardin de la Fontaine.

3 comments:

Felipe Pait said...

O problema é que enquanto ficamos nesse besteirol de "Apple made in Brazil" que não agrega nada à engenharia ou indústria nacional, quem sofre com as barreiras de importação são os desenvolvedores de tecnologia nacional, que precisam pagar mais pelas ferramentas indispensáveis para seu trabalho.

fbirman said...

Pois é. A discussão é apenas um toma- lá-dá-cá político. A tecnologia e a competitividade industrial brasileira são irrelevantes para eles.

Pelo menos, todos vereadores, deputados e senadores poderão receber um iPad brasileiro dentro de alguns meses! :-(

Marcello Morsello said...

Os políticos brasileiros brasileiros mantém o mesmo foco em gerar empregos em chão-de-fabrica desde a década de 1960.
Enquanto isto, o mundo muda e as janelas de oportunidade se fecham por falta de competividade nos vários setores.