Saturday, May 21, 2011

DSK, uma semana depois

Não garanto que seja meu último post sobre o caso DSK, mas acho que vale a pena fazer um balanço do que li nos últimos dias. Para americanos e franceses, a cobertura foi um verdadeiro festival de horrores, com acusações de ambas as partes.

Os colunistas do Estadão, Gilles Lapouge e Gustavo Chacra, descreveram bem as diferenças básicas. Os americanos apresentaram DSK como um criminoso, antes de qualquer apuração. Além do mais, houve aquela humilhação tradicional das algemas, entre tantos outros rituais da cinematográfica polícia americana. Já os franceses pecaram pela rápida divulgação do nome da camareira do Sofitel e, principalmente, pela excessiva tolerância à investida do presidenciável, que pode ter cometido um crime gravíssimo.

Excelentes artigos sobre as diferenças culturais entre os dois povos apareceram em várias publicações. Surgiram motivos de monte para se reabrir uma temporada de deboches mútuos. O filósofo Bernard-Henri Lévy, entre outros, foi ironizado pela sua forte defesa da "presunção de inocência" de DSK.

Vamos deixar de lado as subjetividades culturais, sociais, comportamentais, sexuais, machistas e feministas. Foi no Economist que eu achei aquela pergunta que não quer calar. Afinal, se o incidente tivesse ocorrido em Paris, DSK estaria em cana?

Certamente não. Nem em Paris, nem em Roma, nem em São Paulo. Todo mundo sabe disso. Depois de alguns dias, o Le Monde finalmente reconheceu o banho de democracia dado pelos EUA, destacando a sua Polícia e Justiça como uma entidade realmente independente, a altura dos poderes político e econômico, e não subordinada a eles, ao contrário do Brasil e da própria França, suposto país da liberdade, igualdade e fraternidade. O Le Monde ainda separa o puritanismo anglo-saxão, tão ridicularizado pelos europeus, de um verdadeiro caso de polícia.

Enfim, a poeira baixou. DSK já saiu do FMI e, provavelmente, não sairá dos EUA tão cedo. O PS deve erguer a cabeça e buscar um novo candidato. Caberá ao povo francês fazer a sua escolha e, mais do que isso, inspirar-se no exemplo daqueles grandalhões, beligerantes e ignorantes do outro lado do Atlântico ;-)


Fotos: Voltando à França, uma foto de Annecy, na Savóia.

1 comment:

Felipe Pait said...

O caso que mostra melhor como as polícias na Europa tendem a se curvar ao poder político é o do Assange.