Sunday, June 10, 2012

Airframe

 
"Armadilha Aérea" (1996) não é dos livros mais conhecidos do finado Michael Crichton, mas tem uma trama envolvente e extremamente realista. A investigação de um acidente aéreo mistura a tecnologia, os interesses corporativos, as relações com a China, a ação dos sindicatos, a cobertura da imprensa e a natureza dos acidentes. Sim, a verdadeira natureza dos grandes acidentes, quando acumulam-se falhas técnicas e erros humanos. 

Ainda recomendo a leitura do livro e não quero estragar a surpresa do leitor, pois é só nas últimas páginas, que a "significativa contribuição" do piloto para o acidente é revelada. 

O acidente fictício de Crichton foi menos trágico do que aquele do vôo Rio-Paris (AF 447). Na vida real, não houve sobreviventes e restaram poucos destroços para análise. Na vida real, nada se compara ao drama dos parentes das vítimas. Em comum, a investigação pelas autoridades, a cobertura da imprensa, os interesses dos fabricantes, da companhia aérea e da seguradora.

As falhas na medição de velocidade do Airbus são conhecidas. Também sabemos que já não se fazem mais pilotos como antigamente. Entretanto, tudo isso não convence. É aí que aparece o furo da TV americana: No momento do incidente, quando a experiência do piloto era essencial, o comandante Marc Dubois não estaria na cabine, mas com sua amante, uma comissária da companhia. 

Talvez, o detalhe jamais seja provado. As autoridades francesas já anteciparam que o relatório final não inclui a intimidade dos funcionários. Entretanto, é justamente esse tipo de detalhe que deixa tudo mais consistente. É a famigerada sequência de erros que transformam um incidente num grave acidente. 

Pelo fato de ser passageiro habitual da companhia, fiquei muito chocado à época da queda do avião. A inexistência de uma explicação convincente incomodava. A ideia de um piloto tarado pode deixar muita gente indignada, mas explica. Afinal, faltava justamente alguma coisa mais humana para compreendê-lo. Mais humana do que uma sonda Pitot.


Foto: Acima e abaixo, a residência e estúdio de Frank Lloyd Wright em Oak Park, Chicago. Projeto de 1909. O tour pelas casas do arquiteto em Oak Park sai de lá.



1 comment:

Felipe Pait said...

Tive a impressão os sensores foram o menor dos problemas. Parece que há um erro de projeto lamentável, que induz ou ao menos permite ação de pilotagem completamente absurda, combinado com treinamento negligente do 2o e 3o piloto.