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Sunday, June 12, 2016

Temporada de greves

Estou escrevendo este texto no trem. O mesmo trem que trouxe os torcedores ingleses de Marseille e que leva os belgas para Lyon. É tempo de Euro 2016!

Euro 2016 só para alguns, pois eu estou indo trabalhar. Aliás, nem os maquinistas estão trabalhando. Para minha sorte, peguei um dos poucos trens confirmados para hoje.

Que os maquinistas franceses não respeitem a Euro 2016, dá até para se aceitar. Mas eles não suspenderam a greve nem quando boa parte do país estava debaixo d’água. Isso é demais! Entre trilhos inundados e trens inoperantes, a França passou por alguns difíceis.

Os maquinistas belgas foram mais solidários. Respeitaram um longo período de luto após os atentados e fizeram apenas alguns poucos dias de greve. Do lado belga, não há nenhuma reivindicação especial, é só para não perder o hábito. Sindicalista profissional não precisa de bons motivos para cruzar os braços.

Amanhã, tenho uma reunião importante em Lyon. Sacrifiquei metade do meu domingão para poder pegar esse trem e garantir minha presença amanhã logo cedo. Um outro colega belga, cansado das greves, está encarando 6 horas e meia de estrada. Outros escolheram ir de avião, evitando-se a Air France, que tem greve anunciada para as próximas horas.

Entre greves belgas, francesas, muita chuva e um trânsito infernal, não é preciso dizer que enfrentamos dias de caos por aqui. Felizmente, consegui movimentar-me entre Bruxelas, Paris e Lyon escolhendo os bons trens e aviões. Sorte!

Só fui supreendido por um temporal parisiense, daquelas chuvas de verão paulistanas. Estava a 200m do hotel com um guarda-chuva portátil. Achei que dava. E deu! Deu para ficar encharcado.  A noite inteira e o secador de cabelos não foram suficientes para secar a calça, o paletó e os sapatos.

O legado desses dias de caos e um frio fora de época foi um refriado, que virou gripe, que virou sinusite. Chamei um médico, que chegou em casa rapidinho para fazer o diagnóstico e receitar os medicamentos. Deve ter vindo a pé.



Foto: Ainda das férias do verão passado, no caminho para a Bretanha, passagem pelos Jardins de Giverny, famosa residência de Claude Monet.

Sunday, September 28, 2014

Low-cost

Estou de volta. Ufa!  Foi uma longa sequência de eventos e reuniões, dentro e fora de Bruxelas e, como ninguém é de ferro, também teve férias. Com certeza, voltarei a falar delas, quando ilustrar este blog com fotos tiradas nesse período.

A greve de Air France foi encerrada há poucas horas.  Após duas semanas de paralização, o braço de ferro entre os pilotos e seu empregador custou cerca de 300 milhões de euros para a companhia. Dessa vez, a greve não chegou a perturbar meus deslocamentos, mas infernizou a vida de muitos colegas.

Como vocês sabem, o motivo da greve foi a opção da empresa por desenvolver sua filial low-cost, a Transavia. A Air France e suas congêneres europeias perdem continuamente espaço para as low-cost como Easyjet e Ryanair. Não é só isso. Elas também perdem espaço para as empresas premium como Cathay, Singapore Airlines e Emirates.

Existe algo em comum entre as empresas que comem o mercado das companhias tradicionais tanto no mercado low-cost como no “high-cost”: uma folha de pagamento menos polpuda.

Vocês conhecem muitas das práticas que fazem as low-cost mais competitivas. A passagem é quase de graça, mas os opcionais. Ah, os opcionais... Entre a transformação de alguns serviços antes essenciais em opcionais e algumas práticas administrativas e industriais realmente mais modernas, o principal recurso de competitividade das low-cost é mesmo pagar menos para os seus empregados.

Comparados aos seus pares, os pilotos da Air France são verdadeiros marajás e não querem abrir mão dos seus direitos. Nos seus lugares, faríamos o mesmo! Resta à empresa administrar suas finanças até que toda uma geração de pilotos aposente-se e morra. Simples assim.  O desafio da Air France não é incomum nos dias de hoje.

Acredita em milagre? É bom lembrar de outras companhias aéreas europeias que afundaram com o fardo trabalhista. Alitalia, SABENA (hoje Brussels Airlines) e Swissair (hoje Swiss) foram à bancarrota em 2013, 2001 e 2002 respectivamente. Após a recomposição do quadro de acionistas e novos estatutos, elas renasceram contratando pessoal mais barato. Pois é, o mundo da aviação já foi mais charmoso.


Foto: Em 2013, depois das férias no País Basco espanhol, atravessei a fronteira e fui para uma convenção em Biarritz. A cidade já ilustrou este blog, mas merece bis. Na foto, a “Grande Plage”.

Sunday, April 13, 2014

Aeroportos e outros nós

Bem que gostaria de escrever sobre assuntos mais amenos. Devido às nossas eleições gerais, os próximos meses continuarão muito quentes no Brasil. Só mesmo lá de fora, dá para se desligar um pouco de todos esses casos de corrupção e da política de baixíssimo nível.

Naquele final de semana, em que escrevi “Voando”, passei um tempão no aeroporto parisiense devido a um incidente aéreo. Além de ter escrito o post, antecipei as seguintes linhas:


A Air France completa 80 anos e o seu hub, o Aeroporto Charles de Gaulle (CDG), 40 anos. Não menciono tais fatos ao acaso. Nos últimos 28 anos, usei prioritariamente a companhia e a sua base. Exagerando-se um pouco, é a minha segunda casa.

O CDG não está entre os cinco primeiros do mundo em volume de passageiros. Perde em suntuosidade para os novíssimos congêneres asiáticos. É apenas um grande e bem administrado aeroporto, em expansão contínua nessas quatro décadas. Bravo!

Quem conhece o CDG percebe facilmente tal expansão. Os terminais têm estilos arquitetônicos totalmente diferentes, incorporando aquilo que foi o mais arrojado em cada década.

Os dois terminais mais recentes assemelham-se a shoppings envidraçados, uma tendência mundial, que parece ser a inspiração do tão esperado Terminal 3 de Guarulhos.

Os terminais mais antigos foram uma ousadia dos anos 70, ao encurtar a distância da porta do aeroporto ao avião. Ficaram para trás com o crescimento exponencial da aviação civil e serão reformados.

Em quase três décadas, testemunhei a inauguração de 6 terminais do CDG e o início de um ciclo de renovação. Este é justamente o ponto deste texto, o contraste com o aeroporto internacional de São Paulo, vergonhosamente parado no mesmo período.

Mas, é pior do que isso. Mesmo que houvesse uma chuva de dinheiro em GRU, as expansões seriam limitadíssimas. Seu terreno está completamente imerso na mancha urbana da capital. Nem a pista principal poderá ser reformada para receber um A-380.

Enquanto isso, o CDG tem terreno de sobra. Além da reforma dos terminais mais antigos, planeja-se mais um terminal e novas linhas férreas integrando o complexo. Existem planos até 2030, independentemente de quem ganhe as eleições. Seja de direita ou de esquerda, o plano de expansão é bom para o aeroporto, para a companhia aérea, para Paris e para a França.

Enfim, é um pequeno exemplo de uma grande diferença. Infraestrutura não se constrói em ciclos de quatro anos. A visão de futuro deve ser perseguida pela sociedade, seja quem estiver no poder. É um grande compromisso coletivo.

Por outro lado, é difícil priorizar-se a infraestrutura quando o povo não tem as suas necessidades básicas satisfeitas. Existem paliativos como a privatização ou a redução de gastos públicos, mas é preciso reconhecer que o Brasil tem um grande nó.  


Foto:  Uma das ruas estreitas do centro de San Sebastian (País Basco).

Saturday, March 22, 2014

Voando

Não! Este não é mais um texto sobre o sumiço do avião da Malásia.

Não pude acompanhar o trágico evento como gostaria. Na Europa, todos os holofotes estão sobre a Rússia. Nem por isso, fui poupado de ouvir as mais absurdas teorias sobre o destino do vôo MH370. Sem comentários.

Este post só está saindo por causa de outro incidente aéreo. Sobrevoava o Atlântico a caminho do Brasil, quando o piloto percebeu algo errado. Meia volta volver! De volta para o ponto de partida. Tudo bem, não foi a minha primeira vez e nem será a última.

A tripulação sabia que era muito provavelmente um alarme falso. Mesmo assim, seguindo as normas de segurança, passamos por um  daqueles pousos de emergência cinematográficos.

Passado o susto, o castigo é voltar para um hotel de aeroporto sem as malas e esperar pela liberação da aeronave. Disse para uma família brasileira: melhor assim do que no vôo MH370!

O castigo é relativo. Depois de duas semanas em hotéis centrais de Paris e Bruxelas, hotel de aeroporto chega a ser um alívio: quartos maiores e mais modernos, isolamento acústico e térmico, etc. Nas últimas duas semanas, vivi aquelas situações típicas das cidades do Velho Mundo:

1) Quartos pequenos - Entra você ou a mala!
2) Ar condicionado só funciona no verão -  Se esquentar um pouco mais no final do inverno, azar seu!
3) Banheiros europeus são planejados para os comedidos banhos europeus. Banho de brasileiro significa inundação total!

Depois de acabar esse texto, ainda terei um tempinho para trabalhar e assistir ao noticiário local. A coisa está quente por aqui. Amanhã tem eleições municipais na França e a questão russa inspira muita discussão.

Os debates na TV tem sido ótimos. Num deles, a conversa começou na Criméia, passou pelo Kosovo, entrou na Catalunha e terminou na Escócia. Mais ou menos como este post, que começou na Malásia, passou por Paris e Bruxelas, e termina na Rússia. Falando sério, é fácil entender por que essas questões de soberania e secessão assustam muita gente por aqui.


Foto: O Rijksmuseum de Amsterdam visto por trás, onde uma grande praça integra outros espaços culturais como o Museu Van Gogh.

Sunday, June 10, 2012

Airframe

 
"Armadilha Aérea" (1996) não é dos livros mais conhecidos do finado Michael Crichton, mas tem uma trama envolvente e extremamente realista. A investigação de um acidente aéreo mistura a tecnologia, os interesses corporativos, as relações com a China, a ação dos sindicatos, a cobertura da imprensa e a natureza dos acidentes. Sim, a verdadeira natureza dos grandes acidentes, quando acumulam-se falhas técnicas e erros humanos. 

Ainda recomendo a leitura do livro e não quero estragar a surpresa do leitor, pois é só nas últimas páginas, que a "significativa contribuição" do piloto para o acidente é revelada. 

O acidente fictício de Crichton foi menos trágico do que aquele do vôo Rio-Paris (AF 447). Na vida real, não houve sobreviventes e restaram poucos destroços para análise. Na vida real, nada se compara ao drama dos parentes das vítimas. Em comum, a investigação pelas autoridades, a cobertura da imprensa, os interesses dos fabricantes, da companhia aérea e da seguradora.

As falhas na medição de velocidade do Airbus são conhecidas. Também sabemos que já não se fazem mais pilotos como antigamente. Entretanto, tudo isso não convence. É aí que aparece o furo da TV americana: No momento do incidente, quando a experiência do piloto era essencial, o comandante Marc Dubois não estaria na cabine, mas com sua amante, uma comissária da companhia. 

Talvez, o detalhe jamais seja provado. As autoridades francesas já anteciparam que o relatório final não inclui a intimidade dos funcionários. Entretanto, é justamente esse tipo de detalhe que deixa tudo mais consistente. É a famigerada sequência de erros que transformam um incidente num grave acidente. 

Pelo fato de ser passageiro habitual da companhia, fiquei muito chocado à época da queda do avião. A inexistência de uma explicação convincente incomodava. A ideia de um piloto tarado pode deixar muita gente indignada, mas explica. Afinal, faltava justamente alguma coisa mais humana para compreendê-lo. Mais humana do que uma sonda Pitot.


Foto: Acima e abaixo, a residência e estúdio de Frank Lloyd Wright em Oak Park, Chicago. Projeto de 1909. O tour pelas casas do arquiteto em Oak Park sai de lá.



Saturday, February 11, 2012

Meu enésimo post sobre greves

Vocês têm o direito de pensar que este blogueiro também estava em greve. Não faltam boas causas. Não faltam bons e maus exemplos. No meu caso, a longa ausência deveu-se a coisas mais mundanas como viagens, agenda lotada, horas perdidas no trânsito de SP, etc.

Ideias não faltam, mas ainda hesito em enviar um texto a partir do telefone. Nem que seja para escrever um parágrafo, ainda prefiro me sentar diante do obsoleto micro, escolher uma foto e fazer tudo com calma. Pelo menos no meu blog.

Hoje é dia de greve geral no Egito e na Grécia. Os gregos têm bons motivos para fazer uma greve geral. Mas, cá entre nós, você confia num país que marca greve geral para sexta e sábado? Fica algo entre um feriadão forçado e uma greve que não atrapalha tanto. Na dúvida, não compre títulos gregos!

A França entende mais de greve. Normalmente, é no meio da semana, de terça a quinta. Sem colher de chá! Greve é algo tão sério, que a última paralisação da Air France não foi uma reivindicação por salários ou melhores condições de trabalho. A polêmica maior é em torno do aviso prévio para as próximas greves. Pode?

Em se tratando de greves, a pérola foi a greve dos desempregados, ocorrida na França em 2010. Parece piada. Desempregado em casa ninguém percebe, mas quando eles resolvem não fazer nada no meio de uma avenida importante, atrapalham bastante! Só não faço piada com as greves das PM (Bahia e Rio), por que meu blog ainda é muito família.


Foto: A escultura "Forever Marilyn" enfeitando uma esquina de Chicago. Merece duas fotos, acima e abaixo.



Saturday, August 20, 2011

Enquanto isso, no ar

Na última semana, o ator francês Gérard Depardieu foi objeto do escárnio generalizado, por ter urinado num corredor de avião. De acordo com a versão oficial, o incidente do vôo AF5010 deveu-se a um problema de próstata. Vamos acreditar na versão oficial e enviar votos de saúde ao eterno Obélix!

Alguns dias antes, a imprensa revelou um outro segredo dos vôos da AF. Quando DSK está a bordo, a companhia escala UM comissário para atendê-lo, afastando-o das comissárias. O passageiro é velho conhecido da companhia e possui um longo histórico de assédios.

Depois de muito voar por este mundo, garanto que, se DSK viajasse de United ou Delta, não haveria a menor preocupação com o assédio às aeromoças. Desculpem-me pela franqueza, mas a diferença entre as comissárias de empresas americanas e não americanas é gritante. Muitos brasileiros já perceberam, tanto é que criaram o termo "aerovelhas" para contrastar com as simpáticas e esbeltas "aeromoças". Mas, por que?

Nunca tinha parado para pensar. Uma vez, um conhecido arriscou: "Os americanos são maiores mesmo!". Sem comentários.

A ficha caiu recentemente. Por questões profissionais, percebi como a gestão de recursos humanos nos EUA exige uma série de cuidados para se garantir que os empregados não sejam discriminados. E isso é levado muito a sério. Deduzi que as companhias aéreas não poderiam escolher as suas profissionais com base na idade, peso, estado civil ou mesmo por um rostinho bonito.

De fato, é isso mesmo. Nos anos 70, as profissionais do ar se organizaram para assegurar seus direitos. A "Stewardesses for Women's Rights" existiu apenas por  4 anos, mas redefiniu o mercado de trabalho da categoria nos EUA através de uma série de ações legais e mobilizações. O mesmo não aconteceu no resto do mundo.

Veja este parágrafo da Wikipedia sobre o tema:

"Originally female flight attendants were required to be single upon hiring, and were fired if they got married, exceeded weight regulations, or reached age 32 or 35 depending on the airline. In the 1970s the group Stewardesses for Women's Rights protested sexist advertising and company discrimination, and brought many cases to court. The age restriction was eliminated in 1970. The no-marriage rule was eliminated throughout the US airline industry by the 1980s. The last such broad categorical discrimination, the weight restrictions, were eliminated in the 1990s through litigation and negotiations. By the end of the 1970s, the term stewardess had generally been replaced by the gender-neutral alternative flight attendant. More recently the term cabin crew or cabin staff has begun to replace 'flight attendants' in some parts of the world, because of the term's recognition of their role as members of the crew".

Enfim, é bom ser atendido por uma comissária bonitinha da Air France, Singapore Airlines ou TAM, mas por trás delas existe uma prática discriminatória, certamente não condizente com nossos manuais tão recentes de sustentabilidade.


Foto: A Rue de la liberté, eixo principal do núcleo histórico de Dijon.

Saturday, September 18, 2010

Lapso

Nos vôos curtos que cruzam a França, a Air France oferce um serviço de bordo bastante modesto. Nada de refeições completas, apenas bebidas simples e um biscoito, salgado ou doce, a escolher. Na última sexta-feira, como previsto, a aeromoça dirigiu-se a mim e perguntou: "Sucré ou salé?"

Apesar de ter respondido à mesma pergunta dezenas de vezes, não é automático. Sempre penso alguns poucos segundos antes de pedir aquilo que mais quero no momento. E sempre pinta uma dúvida. Com respeito à Air France, talvez a escolha seja pelo biscoito menos ruim. Desta vez, diante das alternativas "sucré" ou "salé", respondi: Sacré!

A aeromoça não entendeu nada. Bloqueou por um instante. Antes que ela providenciasse uma hóstia ou matzá, eu corrigi a minha resposta. Ela prosseguiu seu trabalho e eu continuei rindo sozinho.

Para meu consolo, uma cena ainda mais estranha aconteceu diante da mesma aeromoça. Um cara (mais novo) colocava as suas duas malas no compartimento de bagagens. Como não havia muito espaço, colocou a primeira mala sobre quinta fileira de poltronas. Poucos segundos depois, colocou a segunda mala sobre a primeira fileira. Ao fechar o último bagageiro, fez uma cara apavorado e perguntou: "Onde deixei a outra mala?". A aeromoça estava atenta e indicou o bagageiro sobre a quinta fila. Como observador, fiquei impressionado com o lapso de memória em tão curto espaço de tempo.

Consolo ainda melhor foi a piada que um colega havia contado no dia anterior. Um cinquentão, preocupado com os pequenos lapsos de memória cotidianos vai ao médico. "Doutor, por várias vezes, esqueci de fechar o zíper depois de urinar". O médico respondeu: "Não se preocupe. O problema mesmo é quando você começar a esquecer de abrir o zíper antes de urinar".



Foto: Um close da Abadia de Sénanque. O símbolo da Provence não é mais o mesmo. O campo de lavanda anexo à mesma não existe mais. Ainda existe um grande campo bem próximo, mas não permite aquela foto de cartão postal tão famosa.

Saturday, April 17, 2010

O céu pode esperar

A inesperada erupção do vulcão islandês faz estragos. Apesar da sua contribuição para a redução das emissões de carbono, seja pela redução do tráfego aéreo ou pelo gigante filtro solar instalado sobre a Europa em plena primavera, os danos na economia são consideráveis.

Do lado prático, vocês podem imaginar o impacto na vida das pessoas. Tem um monte de gente querendo voltar para casa! Os hotéis próximos aos aeroportos estão lotados. Mesmo nas cidades, começam a faltar quartos. Há muita gente dormindo nos aeroportos também.

Entre meus contatos mais próximos, sortes diversas. Alguns esperam a liberação dos céus franceses em casa, outros em hotéis. Lembrando que nesses casos, ser reembolsado pela companhia aérea não é evidente. Felizmente, eu estou esperando a minha hora de embarcar, em casa, em Lyon.

Um colega se deu muito bem. Escapou de Lyon via Madrid, uma rota muito mais lógica do que a minha. Graças à minha fidelidade a Air France, eu acabo sempre passando por Paris. Durante a última noite, a imensa núvem de cinzas alcançou o centro da França e o aeroporto de Lyon também fechou. Sem escapatórias.


Foto: Para terminar as fotos de Biarritz. Acima, um detalhe da entrada do Palácio Imperial. Abaixo, uma villa próxima ao hotel em que estive.


Nota: O Facebook não importou corretamente alguns dos meus posts do Blogger. Se você tiver a ligeira impressão de que eu fiquei muito tempo sem escrever, vá ao meu perfil ou ao Blogger. Os posts engolidos pelo Facebook foram "What else?" e "Os miseráveis".


Sunday, February 14, 2010

Sobre esses objetos voadores identificados

Há dez 10 anos, o acidente do Concorde da Air France nos arredores do aeroporto Charles de Gaulle era notícia. O avião símbolo da cooperação européia e inspirador do consórcio Airbus saía de cena. Neste mês de fevereiro, o assunto volta à tona, pois o julgamento do caso está começando.

A maior surpresa do episódio é que quem está no banco dos réus é a americana Continental Airlines. Uma peça que caiu de um dos seus aviões teria sido a causa do acidente que vitimou 113 pessoas. A história não é muito convincente, mas é o argumento da promotoria. A Air France também reivindica indenizações. O resultado será conhecido daqui a quatro meses.

Enquanto a confirmação da venda dos Rafales para o Brasil (e para nenhum outro país) não sai, a vida da aeronáutica européia continua difícil. O A380 foi um projeto caro, mas pelo menos saiu. O caso do avião de transporte militar A400 é outro tormento. O atraso de quatro anos e o custo adicional de 11 bilhões de euros estão pesando nas contas da EADS (matriz da Airbus). Depois de tanto esforço, a empresa ameaça abandonar o projeto se as nações européias não mostrarem um maior comprometimento ($$$) com a iniciativa. Sarkô e Merkel puseram a mão no bolso, mas não tinha muita coisa.

Para quem quiser saber mais, a TV francesa apresentou um ótimo debate sobre os assuntos tratados acima em janeiro último. Vejam em http://tinyurl.com/yhay97y O programa também explora se a China será ou não uma ameaça para aviação civil e militar européia. Segundo eles, é coisa para mais de 30 anos. Veremos.

Gong Xi Fa Cai!


Fotos: Acima, mais uma foto de Roussillon, na Provence. Abaixo, o destaque para o restaurante do hotel em que estive hospedado, dominando a paisagem. Foi mais um típico hotel francês, onde tudo gira em torno da cozinha. E como em outras oportunidades, a gente volta para casa com muito aprendizado e uns quilos a mais.


Tuesday, January 12, 2010

Dilemas aéreos

Ryanair e Easyjet, as duas maiores companhias "low-cost" da Europa, estão fazendo um estrago no mercado. A irlandesa Ryanair transporta quase o mesmo número de passageiros da líder Air France-KLM, em torno de 70 milhões ao ano. A Easyjet, por sua vez, já ultrapassou a compatriota British Airways, atingindo 46 milhões.

A boa notícia é que o fenômeno low-cost está mesmo pressionando as companhias tradicionais. A má notícia é que as últimas deverão recorrer aos mesmos truques para baixar o seus preços. Eu digo truques, pois em várias comparações, ao considerarmos o custo total da viagem, a diferença pode não ser tão grande.

Eu usei a Easyjet algumas vezes. De férias ainda vai, mas a negócios é um mico. Enquanto que num vôo normal da AF, podemos chegar meia hora antes da partida, com a Easyjet há bem menos flexibilidade. Sem contar que os aeroportos usados pelas companhias low-cost são geralmente mais distantes dos grandes centros.

O ponto mais polêmico é a diferença de salários e encargos. Os sindicatos franceses acusam as campeãs do low-cost de "dumping social", mas a AF não perde tempo: Recruta seus efetivos cada vez mais fora da França. C'est la vie!

Lyon é um sinal desta invasão. A AF não cedeu espaço para a Easyjet no aeroporto. A Easyjet e as autoridades locais montaram um galpão pré-fabricado ao lado do aeroporto. Virou o novo terminal 3. Enquanto que o aeroporto fica às moscas, o galpão improvisado da Easyjet está fervilhando.


Foto: Tomada do Hôtel de Ville de Saint-Étienne, no Departamento do Loire. O meu programa na cidade foi a visita da recém inaugurada Cidade do Design. Porém, em frente do Hôtel de Ville, encontrei uma feira de carros bem interessante. Advinha aonde eu passei mais tempo?

Mais informações: http://www.citedudesign.com/

Monday, December 7, 2009

Home pit-stop 2

Depois do trágico acidente do vôo Rio-Paris, a Air France parece estar mais rigorosa com os aspectos de segurança. Em meio a tantas viagens, já enfrentei muitas horas de atrasos, conexões e malas perdidas. Entretanto, a experiência de um dia inteiro de atraso era nova para mim.

No vôo Paris-São Paulo, foi detectada uma pane no 777 quando sobrevoávamos Portugal. O piloto recebeu a instrução de voltar para Paris. A espera levou 24hs. Todos os demais vôos estavam lotados, não havia como redistribuir os passageiros.

O atraso de um dia pode atrapalhar muita gente. A grande maioria dos viajantes reagiu com calma absoluta. A única exceção foi uma francesa que subiu no palanque e começou a discursar contra tudo e contra todos. Como eu sei que a AF tem uma frota muito bem mantida e esse tipo de evento tem acontecido com mais frequência, concluo que eles apertaram seus critérios de segurança. Como compensação, recebi um pacote generoso de milhas e a seguinte explicação da companhia:
 
"Uma falha em alguns visores da cabine de comando foi detectada durante o vôo, situação esta que levou o Comandante de Bordo, em conformidade com as regras de segurança em vigor, a retornar ao aeroporto de Charles-de-Gaulle a fim de que pudéssemos efetuar as verificações técnicas. Com efeito, sua segurança é nossa maior prioridade. Vimo-nos, desta forma, na necessidade de adiar a partida de seu vôo para o dia seguinte."

 
Foto: O castelo renascentista de Fontaine-Henry é um dos mais antigos e importantes da Normandia. A aparência atual é fruto da reconstrução do século XVI e alguns ajustes mais recentes. A família Tilly e seus descendentes ocupam a propriedade há cerca de mil anos!

Sunday, June 7, 2009

Pot au noir

Nossos colegas da Air France eram “keynote-speakers” do congresso desta semana e cancelaram sua participação. Por razões óbvias, estavam envolvidos num comitê de crise. A tragédia que uniu brasileiros e franceses ainda está sem explicações. Eu, com mais de um milhão de milhas entre São Paulo e Paris, também estou ansioso por uma resposta.

A imprensa francesa só fala do “pot au noir”, nome de guerra da tão falada zona de convergência intertropical, vasta área do planeta que inclui o trecho entre o Brasil e a África, onde estão os recém encontrados destroços do A330.

Pot significa panela, pote ou vaso. Noir é preto, evidentemente. A expressão vem da época da escravidão, quando os europeus levavam os negros da África às suas colônias americanas, gerando um intenso tráfego na região do desaparecimento do Airbus. Era justamente por lá, que os negros adoentados eram jogados ao mar, daí o “pot au noir”.

Considerando-se os milhões de escravos traficados e que uma simples gripe era motivo de descarte, só nos resta concluir que há muito mais coisas entre o Brasil e a África do que os corpos dos 228 passageiros do vôo AF447.


Foto: Sala de consertos, sede da Filarmônica checa e centro de exposições são algumas das funções do Rudolfinium, belo prédio do final do século XIX. Diante dele, uma escultura moderna orna a Praça Jan Palach (nome de um estudante que se suicidou em protesto da invasão soviética de 1968).