Bolsonaro e seu clã estão sob pressão. Há várias
investigações em curso e algumas delas podem levar à interrupção do seu
mandato. Se não restam dúvidas sobre a sua desonestidade e incapacidade, o
desfecho das diligências não é certeiro. Sim, o presidente pode terminar o seu
mandato. Este post trata desta possibilidade, nem tão remota como gostaríamos.
De vez em quando, ouço ruídos vindos das redes sociais
anunciando “Bolsonaro reeleito” ou “Fechado com Bolsonaro até 2026”. Dá para
entender o cálculo do Planalto, ecoado pelos seus fiéis seguidores. O mais
difícil é terminar o mandato. Se o presidente for até o fim, a reeleição pode
até ser apertada, mas estaria ganha.
Do outro lado do espectro político, o PT também tem a mesma
sensação. Diversas atitudes do Lula mostram claramente a sua vontade de pegar
um atalho direto para o segundo turno de 2022, através de algum nome abençoado
por ele. Por exemplo, quando não aderiu às primeiras discussões sobre o
impeachment e pela recusa de formar uma frente ampla com outras lideranças
políticas brasileiras.
Considerando-se que teremos os mesmos protagonistas das últimas
eleições em 2022, o cálculo do Bolsonaro e do Lula está correto. Ambos estão
muito confiantes em alavancar a vitória em cima da rejeição alheia. Ainda é
cedo para fazer contas, mas, decerto, aqueles 10 milhões de votos de vantagem
do Bolsonaro já devem ter ido para o espaço.
Para garantir a revanche, os dois lados fazem um jogo tão
preciso, que parece combinado. A máquina bolsonarista destrói a reputação de
qualquer nome novo que surja à direita. Vejam a violência dos seus ataques a João
Dória, Luciano Huck, Sérgio Moro e tantos outros. Do lado esquerdo, a máquina
petista mantém a sua hegemonia, com a devida truculência quando necessário.
Desta forma, estamos indo de cara para um Bolsonaro X Candidato
do PT, duelo a ser decidido conforme a nossa rejeição. É o nojo contra o asco.
Fomos incapazes de evitar esse cenário em 2018 e podemos repeti-lo em 2022.
Talvez, meus caros leitores já tenham percebido a situação.
O quadro pode até ser óbvio para alguns. Confesso que estou bastante incomodado
com a catástrofe anunciada. Este post serve de alerta àqueles que ainda não
perceberam a situação e que também possamos imaginar alternativas.
A abreviação do mandato do atual presidente é imperativa.
Devemos usar todos os meios legítimos para buscá-la. Seria um alento e, talvez,
um golpe mortal no bolsonarismo. Talvez. O provável acirramento dos seus
seguidores e o velho conhecido discurso do golpe não ajudarão a encontrar
respostas melhores.
Numa estimativa rudimentar, petistas e bolsonaristas
representam 40% do eleitorado. É muito, mas existem outros 60%. Uma maioria que
não deve assistir ao espetáculo de mãos atadas, a fim de evitarmos mais quatro
anos perdidos.
Não existe e nem vai existir uma terceira via abrangendo
todo o espectro ideológico entre o petismo e o bolsonarismo. Deveríamos chegar
a 2022 com uma lista de nomes fortes, candidaturas viáveis e estruturadas. Nós,
os 60%, deveríamos trabalhar na construção dessas candidaturas. Deixemos e
ignoremos o trabalho de destruição feito pelos outros 40%.
Embora tenha uma preferência pessoal pelo parlamentarismo,
acreditando que seja a vacina definitiva contra presidentes muito ruins, sei
que não há condições de retomar esse debate. Entretanto, podemos retomar a
discussão das reformas para aperfeiçoar nosso sistema político-eleitoral.
Sempre é oportuno melhorar as regras de representatividade, financiamento e
reeleição, entre outras.
Enfim, este post foi um convite para pensar nas alternativas
para evitar um repeteco de 2018, com a esperança de convergirmos para duas candidaturas
razoáveis o bastante para remover os representantes do bolsonarismo e do
petismo no segundo turno de 2022. Lembrando que tudo começa sempre com o voto
consciente.
Foto: Parlamento austríaco, Viena (2016). Logo depois do
retorno ao Brasil, tirei umas férias na Europa. Oportunidade de revisitar Viena
e conhecer outras cidades que ilustrarão este blog. Quanto a ilustrar essa
matéria com a foto de um parlamento? Coincidência 😉
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