Friday, July 3, 2020

Do fundo do baú: “A rede”



Ao final da gravação do episódio 34 do podcast The Shift, a Cris de Luca e a Sílvia Bassi pediram os já famosos ‘insights’, dicas de livros, filmes ou qualquer outra coisa interessante associada ao tema discutido. Eu saquei, lá do fundo do baú, um filme de 1995: “A rede”. Um filme menos reconhecido pelos aspectos cinematográficos e mais celebrado por ser protagonizado pela jovem Sandra Bullock. 

Afinal, por que então ressuscitar esse filme? Nos últimos meses, discutimos em diversos fóruns a questão do trabalho em casa. Muitos de vocês sentiram o gostinho dessa forma de trabalhar durante o confinamento. Várias empresas já adiantaram que prolongarão a temporada de trabalho em casa, outras vão deixá-lo como opção permanente e ainda tem aquelas que querem abolir seus escritórios para sempre.

Voltando ao filme e evitando qualquer spoiler. Mesmo não sendo um blockbuster, ele tem lá o seu fã clube. O enredo cheio de tecnologia dos anos 90 tem algumas visões interessantes, que mereceram minha atenção desde o lançamento.

Tudo se passa em torno de Angela Bennett, uma profissional de TI que trabalha em casa e, praticamente, não conhece ninguém da empresa. Além da sua evidente solidão, essa desconexão abre caminho para boa parte da trama. Assisti ao filme algumas vezes, portanto logo associei aquele ambiente a esse movimento maciço de dispersão da força de trabalho forçado pela pandemia. Para mim, um cenário distópico.

Em casa, percebemos como podemos ser produtivos. O trabalho nunca rendeu tanto. Mas, por acaso, as empresas vivem apenas de produtividade? Será que essa produtividade é sustentável? Se todos continuassem trabalhando em casa, as empresas não perderão nada?  

Que tal falarmos de outros processos que dependem das relações humanas, muitas vezes informais? Já repararam que as conversas que surgem antes ou depois de uma reunião no escritório são possivelmente mais promissoras do que a própria reunião? E os famosos encontros na hora do café? E aquela caminhada básica pelos corredores da empresa?

 O 100% em casa pode ser uma boa solução temporária. De fato, algumas poucas empresas poderiam adotá-lo de forma permanente. Entretanto, o mundo ideal é aquele da flexibilidade. Trocar o 100% no escritório pelo 100% remoto é "trocar um dogma pelo outro", nas sábias palavras do Satya Nadella, CEO da Microsoft.

As corporações, que têm uma cultura própria e buscam a perenidade, dependem de relações humanas diretas para permitir o exercício da liderança, influência, inovação, criação, entre outras. Dispensar esse pacote de relações humanas diretas é abrir mão do que o ser humano tem de melhor.



Foto: Palácio Belvedere em Viena (2016). Este lindo palácio merecia mesmo uma segunda visita. Aliás, digo isso para Viena inteira, pois, durante a minha primeira estada, choveu canivetes. O museu sediado no palácio tem o acervo de obras de Gustav Klimt como destaque.


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