Ao final da gravação do episódio 34 do podcast The Shift, a Cris de Luca e a Sílvia Bassi pediram os já famosos ‘insights’, dicas de livros, filmes ou qualquer outra coisa interessante associada ao tema discutido. Eu saquei, lá do fundo do baú, um filme de 1995: “A rede”. Um filme menos reconhecido pelos aspectos cinematográficos e mais celebrado por ser protagonizado pela jovem Sandra Bullock.
Afinal, por que então ressuscitar esse filme? Nos últimos meses, discutimos em diversos fóruns a questão do trabalho em casa. Muitos de vocês sentiram o gostinho dessa forma de trabalhar durante o confinamento. Várias empresas já adiantaram que prolongarão a temporada de trabalho em casa, outras vão deixá-lo como opção permanente e ainda tem aquelas que querem abolir seus escritórios para sempre.
Voltando ao filme e evitando qualquer spoiler. Mesmo não
sendo um blockbuster, ele tem lá o seu fã clube. O enredo cheio de tecnologia
dos anos 90 tem algumas visões interessantes, que mereceram minha atenção desde
o lançamento.
Tudo se passa em torno de Angela Bennett, uma profissional
de TI que trabalha em casa e, praticamente, não conhece ninguém da empresa.
Além da sua evidente solidão, essa desconexão abre caminho para boa parte da
trama. Assisti ao filme algumas vezes, portanto logo associei aquele ambiente a
esse movimento maciço de dispersão da força de trabalho forçado pela pandemia.
Para mim, um cenário distópico.
Em casa, percebemos como podemos ser produtivos. O trabalho
nunca rendeu tanto. Mas, por acaso, as empresas vivem apenas de produtividade?
Será que essa produtividade é sustentável? Se todos continuassem trabalhando em
casa, as empresas não perderão nada?
Que tal falarmos de outros processos que dependem das
relações humanas, muitas vezes informais? Já repararam que as conversas que
surgem antes ou depois de uma reunião no escritório são possivelmente mais
promissoras do que a própria reunião? E os famosos encontros na hora do café? E
aquela caminhada básica pelos corredores da empresa?
O 100% em casa pode
ser uma boa solução temporária. De fato, algumas poucas empresas poderiam
adotá-lo de forma permanente. Entretanto, o mundo ideal é aquele da flexibilidade.
Trocar o 100% no escritório pelo 100% remoto é "trocar um dogma pelo
outro", nas sábias palavras do Satya Nadella, CEO da Microsoft.
As corporações, que têm uma cultura própria e buscam a
perenidade, dependem de relações humanas diretas para permitir o exercício da
liderança, influência, inovação, criação, entre outras. Dispensar esse pacote
de relações humanas diretas é abrir mão do que o ser humano tem de melhor.
Foto: Palácio Belvedere em Viena (2016). Este lindo palácio
merecia mesmo uma segunda visita. Aliás, digo isso para Viena inteira, pois, durante a
minha primeira estada, choveu canivetes. O museu sediado no palácio tem o acervo
de obras de Gustav Klimt como
destaque.
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