Sunday, July 3, 2011

Pão francês

Estive viajando. Ocupado, mas não desconectado. No retorno, li algumas matérias sobre a possível fusão do grupo Pão de Açúcar com o Carrefour, estimulada pelo BNDES. O senador Aloysio Nunes, do PSDB, ironizou: "Duas redes de varejo se casam e quem dá o presente é o Brasil, ou melhor, o contribuinte?...Daqui a pouco o BNDES vai contribuir para a fusão de salões de beleza". Se eu tenho minhas restrições à iniciativa apoiada pelo governo, a manifestação da oposição também não é totalmente correta.

1) Ele questiona a concentração do setor no Brasil. Concordo. A concentração já é muito grande. Na França, sede do Carrefour e do Casino, há outros grupos fortes brigando ferrenhamente com ambos: Auchan, E.Leclerc, Intermarché e Système U. O mercado ainda não é totalmente livre, mas funciona melhor do que aqui. Um país do tamanho do Brasil pode ter e merece um varejo mais competitivo.

2) Quando questiona a participação no BNDES no processo. Concordo. O banco já virou motivo de chacota. Tem sido uma máquina de privilégios, uma ferramenta a serviço dos governantes e não do Brasil.

3) Quando coloca o destaque no contribuinte. Concordo. Todos que estão lá, em Brasília, têm a obrigação de zelar pelo dinheiro público, pelo nosso dinheiro. Todos os políticos devem ter como prioridade os quase 200 milhões de cidadãos contribuintes.

4) Quando insinua que o Brasil dá um presente a grupos estrangeiros, embora não esteja explícito. Discordo. O BNDES deve escolher os projetos que são bons para o Brasil. O que é melhor para o país, uma empresa americana que pega dinheiro do BNDES para investir no Brasil ou uma empresa brasileira que pega dinheiro para investir nos EUA? Não existe uma resposta, depende da situação. Embora o banco possa privilegiar as empresas nacionais, o mundo de hoje não é dividido simplesmente entre grupos nacionais e estrangeiros. O capital é um conceito meio "fluido", mas isso é uma outra história.

5) Quando ironiza os salões de beleza. Discordo. Por que não? Organizar e solidificar o setor de serviços é uma ótima idéia. São grandes geradores de empregos. O Brasil precisa de inúmeros hotéis, restaurantes e salões de beleza. Possivelmente, tais estabelecimentos tragam um retorno maior do que uma montadora de kits de automóveis importados da Coréia.

Enfim, muitos dos "escândalos" anteriores do BNDES ficaram distantes do público em geral. Um episódio mexendo com o varejo tem o mérito de expor a questão para milhões, antes indiferentes ao tema.


Foto: Núcleo da abadia de Baume-les-Messiers, na região da Franche-Comté. A pequena cidade gira em torno dela.

4 comments:

Felipe Pait said...

Acertou na mosca de 1 a 6. Vai sair pro senado em 2014?

Marcello Morsello said...

Pode contar com o meu voto. Mas acho melhor começar pela Câmara.

Helô said...

A história é tão absurda, que uma ironia não atrapalha a crítica. Hoje no Estadão saiu matérias sobre conflitos internos do Pão de Açúcar. Que o governo se imiscua no mercado ainda vá lá, mas que ele entre na política interna de empresas é inadmissível.

fbirman said...

Obrigado pela confiança!

Apesar do post, ainda acho que o Aloysio Nunes é melhor do que a maioria dos políticos.