Monday, November 16, 2020

Peneira


Estamos mal acostumados. Um pequeno atraso na apuração das eleições provocou críticas, insinuações e teorias conspiratórias. Os derrotados nunca perdem a oportunidade de desacreditar a nossa sólida Justiça Eleitoral. Na realidade, os incidentes de domingo mostram que a opção brasileira para automação das eleições é a melhor possível.

O nosso sistema de votação é reconhecido internacionalmente como seguro. As urnas e o sistema de contagem não são conectados à Internet, limitando muito a ação de hackers, que assolam organizações públicas e privadas ao redor do planeta.

Há duas queixas comuns contra o sistema. A primeira, vinda do próprio governo, é o custo de manutenção do mesmo. Que bom que estejam preocupados com isso, afinal ele é pago por todos nós. A segunda, vinda de diversos ativistas pela democracia, é a falta de algum registro físico do voto, como a sua impressão no momento votação. Mesmo sem este recurso, as eleições são perfeitamente auditáveis, urna por urna.

O problema ocorrido com o aplicativo da Justiça Eleitoral, aquele usado para a justificar a ausência, confirma que, se houver alguma vulnerabilidade, ela será explorada. Nossas autoridades têm estudado um novo sistema pela Internet. Aprendemos que talvez seja melhor segurar a solução atual, cara e confiável, por mais algum tempo.

Fazendo um paralelo com a indústria de transformação, onde trabalhei por muito tempo, que tem, entre seus desafios, colocar o máximo de automação digital no parque fabril. Apesar do custo elevado, as tecnologias de última geração permitem ganhos de produtividade e níveis de eficiência fantásticos.

Mesmo diante de tamanha evolução, vários engenheiros especializados começam a questionar o saldo do investimento. Os ganhos trouxeram ameaças jamais imaginadas. Hoje, qualquer indústria pode estar na mira de um grupo de hackers do outro lado do mundo. O alto custo da vigilância cibernética não estava na conta inicial.

Temos visto uma sequência de ataques a diversos órgãos federais, além daquele comentado acima. Não há muita transparência do governo para tal. Uns dizem que estão com problema de vírus, outros desconversam. Já é hora de tratar do assunto como gente grande!

Não é vergonha ser hackeado. Grandes e excelentes empresas privadas são atacadas o tempo todo. Crime é esconder quando os dados pessoais são comprometidos. E pelas informações sobre nós cidadãos, que são comercializadas na Internet, ouso dizer que temos uma grande peneira na máquina pública nacional.

Junto com a pandemia, vários grupos de hackers estrangeiros industrializaram os ataques. Todo dia tem uma nova vítima. Para abortar esta série de ataques aos órgãos públicos, o governo precisa fazer o mesmo que tantos outros países, deixar as armas tradicionais de lado e investir na cibersegurança: boas práticas, infraestrutura e um bom contingente de funcionários especializados.

 

Foto: Mais uma tomada da costa de Oia, em Santorini (2016).

 

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