Thursday, October 20, 2011

A saúde de Carlita

Ao longo dos anos vividos na França, colecionei alguns furos do sistema de saúde francês testemunhados por vários colegas. Poderia escrever um punhado de posts macabros. De fato, o sistema não é perfeito, é “apenas” mais justo e igualitário. Talvez, um dos melhores do mundo.

Muitos brasileiros teimam em compará-lo com os poucos destaques da saúde nacional (Einstein, Fleury, entre outros). Teríamos que incluir toda a rede pública do país nesta comparação. Aí, a nossa desvantagem seria evidente.

Ao contrário do que se pensa, uma grande parte do sistema de saúde francês é privada. São as chamadas clínicas, que dão mais capilaridade e especialização à rede de hospitais públicos. Algumas características dos hospitais públicos: Triagem rigorosa (prioridade às situações mais graves), simplicidade (quartos individuais são raros) e medicina de altíssimo nível.

Existem algumas clínicas bem menos austeras do que os hospitais públicos, mas totalmente integradas ao sistema. Ou seja, mesmo optando-se por uma clínica, o governo paga a sua conta, o seu médico, os seus remédios, etc. No final, 80% dos gastos totais com saúde da França são reembolsados pelo Tio Nicolas. Os demais 20% ficam por conta dos extras, excedentes de honorários de clínicas e médicos, cirurgias não prioritárias e estéticas, etc.

Num sistema que busca a igualdade, até mesmo a opção de Carla Bruni por uma clínica privada, na ocasião da sua maternidade, causou desconforto. O diretor da clínica escolhida veio a público esclarecer que não dispensou qualquer tratamento privilegiado, salvo o dispositivo de segurança pessoal da esposa do Presidente. Afinal, como cidadã, grande parte das despesas do seu parto também serão reembolsados. Especula-se que tenha escolhido um médico particular, daqueles raríssimos não conveniados com o governo.

Num sistema bancado pelo Estado, poderia-se esperar um certo abuso, uma certa inflação do custo das internações e consultas. Pois é o contrário. As consultas médicas raramente passam dos 200 reais, bem longe da realidade brasileira. O mesmo se sucede com as despesas hospitalares em geral.

Enfim, esse contraste deixa evidente que o sistema brasileiro está viciado. Melhor corrigir antes que chegamos ao desespero norte-americano.


Foto: Última foto de Saint-Antoine l’Abbaye, a sua rua principal, que termina na pracinha mostrada no post de 9/10 (“Quinzena Francesa”).

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