Ao longo dos anos vividos na França, colecionei alguns furos do sistema de saúde francês testemunhados por vários colegas. Poderia escrever um punhado de posts macabros. De fato, o sistema não é perfeito, é “apenas” mais justo e igualitário. Talvez, um dos melhores do mundo.
Ao contrário do que se pensa, uma grande parte do sistema de saúde francês é privada. São as chamadas clínicas, que dão mais capilaridade e especialização à rede de hospitais públicos. Algumas características dos hospitais públicos: Triagem rigorosa (prioridade às situações mais graves), simplicidade (quartos individuais são raros) e medicina de altíssimo nível.
Existem algumas clínicas bem menos austeras do que os hospitais públicos, mas totalmente integradas ao sistema. Ou seja, mesmo optando-se por uma clínica, o governo paga a sua conta, o seu médico, os seus remédios, etc. No final, 80% dos gastos totais com saúde da França são reembolsados pelo Tio Nicolas. Os demais 20% ficam por conta dos extras, excedentes de honorários de clínicas e médicos, cirurgias não prioritárias e estéticas, etc.
Num sistema que busca a igualdade, até mesmo a opção de Carla Bruni por uma clínica privada, na ocasião da sua maternidade, causou desconforto. O diretor da clínica escolhida veio a público esclarecer que não dispensou qualquer tratamento privilegiado, salvo o dispositivo de segurança pessoal da esposa do Presidente. Afinal, como cidadã, grande parte das despesas do seu parto também serão reembolsados. Especula-se que tenha escolhido um médico particular, daqueles raríssimos não conveniados com o governo.
Num sistema bancado pelo Estado, poderia-se esperar um certo abuso, uma certa inflação do custo das internações e consultas. Pois é o contrário. As consultas médicas raramente passam dos 200 reais, bem longe da realidade brasileira. O mesmo se sucede com as despesas hospitalares em geral.
Enfim, esse contraste deixa evidente que o sistema brasileiro está viciado. Melhor corrigir antes que chegamos ao desespero norte-americano.
Foto: Última foto de Saint-Antoine l’Abbaye, a sua rua principal, que termina na pracinha mostrada no post de 9/10 (“Quinzena Francesa”).
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