Sunday, December 11, 2011

Cheap Wine

Este ano, não estive em Lyon durante a festa do Beaujolais Nouveau. Aqui em São Paulo, muita gente pode encontrar a celebrada bebida - que para muitos não é vinho - em vários restaurantes, graças à Mistral, que trouxe um grande lote de Joseph Drouhin.

Em Lyon, a terceira quinta-feira de novembro é marcada pelos fogos de artifício, pelos restaurantes cheios e pelo intenso movimento no seu centro velho. A celebração do Beaujolais Nouveau toma conta da França.

Celebram por que americanos e japoneses vão comprar milhões de garrafas e isso é uma bela ajuda para as nem tão prósperos vinícolas do Beaujolais. Aqueles franceses, que amam o vinho, também celebram o fato da mal amada bebida deixar o país. Enfim, se o vinho não é bom, o marketing é de primeira.

Na celebração paulistana, o mais lamentável é o preço. Mesmo que eu e meus leitores possamos gastar 100 reais numa garrafa de Beaujolais Nouveau, convenhamos que há uma enorme discrepância de valores. Fiz uma pesquisa e vejam só os preços do Joseph Drouhin 2011:

- Na França (varejo): 6,50 euros (16 reais)
- Nos EUA (varejo): 10 dólares (18 reais)
- No Brasil, na distribuidora Mistral: 75 reais
- No Brasil, em restaurantes e lojas de vinho: Em torno de 90 a 100 reais.

A mágica da quintuplicação é muito comum para os vinhos europeus vendidos no Brasil. Beber vinho é ótimo, mas a gente acaba bebendo muito mais imposto!

Nos EUA, um artigo recente da Slate (Drink Cheap Wine) recomendou vinhos na faixa de 3 dólares para consumo diário. Sim, três dólares! Na própria França, as gôndolas do Carrefour e outros supermercados têm centenas de rótulos na faixa dos 5. Qual seria a faixa básica do consumo diário no Brasil?

Felizmente, nossos vizinhos do Mercosul têm produzido vinhos cada vez mais interessantes com as mais prestigiadas cepas europeias. Como a tributação dentro do Mercosul é diferenciada e o transporte é mais barato, a preços iguais, prefira sempre uma garrafa do Mercosul, que certamente possuirá mais vinho e menos impostos, margens, fretes, etc.

Considerando alguns dos produtos do Mercosul com a melhor relação custo-benefício, os 3 dólares da Slate viram 30-40 reais aqui no Brasil. Sem milagres! Vinhos do Velho Mundo ou de qualquer outro continente nessa faixa de preço merecem desconfiança. De qualquer forma, em se tratando de vinho, vale a máxima: Gosto não se discute.


Foto: Ainda em La Rochelle. A chuva deu uma folguinha, o sol quase apareceu. Imagem do porto velho da cidade, com as torres medievais: Tour de la Chaîne e Tour Saint-Nicolas.

1 comment:

Felipe Pait said...

Quanto da quintuplicação é diretamente imposto e quanto são sobrelucros, desperdícios, e corrupção?

O imposto tem sua justificativa: cobra-se imposto onde há dinheiro. O país não é rico, os serviços do governo são caros porque assim decidiram nossos legisladores democraticamente eleitos, alguém tem que pagar. Que sejam em parte os consumidores de álcool, é razoável.

Meu chute é que a maior parte são barreiras que só podem ser evitadas com jeitinhos, ineficiências, e subornos. Para isso não há justificativa.