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Saturday, December 17, 2011

Confraternizando

Durante os últimos quatro anos, estive fora de São Paulo neste período pré-natalino, tão cheio de eventos de confraternização. Até há pouco, dizia que tinha saudades dessa agitação toda. Pois é, já passou!

A última semana de novembro e as duas primeiras semanas de dezembro são repletas de festas. Somam-se a elas, as atividades de fechamento do ano, as compras, a preparação das férias, etc. Enfim, um período tenso e com trânsito ainda mais caótico, mesmo com as escolas encerrando suas atividades. Aliás, o trânsito acaba limitando a possibilidade de se comparecer a dois ou três eventos por noite. Convites não faltam.

Um grupo de amigos executivos finalmente tomou uma sábia decisão. Marcamos um primeiro evento de confraternização para abril. Mais uns dois eventos ao longo do ano e assim, quem sabe, escaparemos desse período caótico em 2012.

Enquanto estive em Lyon, o período passava em branco. A primeira semana de dezembro é igual a terceira de setembro ou a segunda de março. Nada de especial. No começo, perguntava: É assim mesmo ou eu é que não sou convidado? Descobri que é assim mesmo. Essa coisa de confraternizar, trocar presentinhos, receber brindes é exagerada no Brasil. Lá fora é muito mais leve e discreto.

Felizmente, Lyon tinha a Festa das Luzes (Fête des Lumières), que animava o começo do inverno. O único ensaio de confraternização é a festa de Reis no começo de janeiro.

Depois dessas últimas três semanas, de tão pouco dormir e muito comer, bateu uma saudade da tranquilidade de lá.


Foto: Última tomada de La Rochelle. A imagem da cidade está muito associada ao PS. Sendo uma das principais cidades da região de Poitou-Charentes, presidida pela Segolène Royal, tem sediado muitas reuniões do partidinho.

Sunday, December 11, 2011

Cheap Wine

Este ano, não estive em Lyon durante a festa do Beaujolais Nouveau. Aqui em São Paulo, muita gente pode encontrar a celebrada bebida - que para muitos não é vinho - em vários restaurantes, graças à Mistral, que trouxe um grande lote de Joseph Drouhin.

Em Lyon, a terceira quinta-feira de novembro é marcada pelos fogos de artifício, pelos restaurantes cheios e pelo intenso movimento no seu centro velho. A celebração do Beaujolais Nouveau toma conta da França.

Celebram por que americanos e japoneses vão comprar milhões de garrafas e isso é uma bela ajuda para as nem tão prósperos vinícolas do Beaujolais. Aqueles franceses, que amam o vinho, também celebram o fato da mal amada bebida deixar o país. Enfim, se o vinho não é bom, o marketing é de primeira.

Na celebração paulistana, o mais lamentável é o preço. Mesmo que eu e meus leitores possamos gastar 100 reais numa garrafa de Beaujolais Nouveau, convenhamos que há uma enorme discrepância de valores. Fiz uma pesquisa e vejam só os preços do Joseph Drouhin 2011:

- Na França (varejo): 6,50 euros (16 reais)
- Nos EUA (varejo): 10 dólares (18 reais)
- No Brasil, na distribuidora Mistral: 75 reais
- No Brasil, em restaurantes e lojas de vinho: Em torno de 90 a 100 reais.

A mágica da quintuplicação é muito comum para os vinhos europeus vendidos no Brasil. Beber vinho é ótimo, mas a gente acaba bebendo muito mais imposto!

Nos EUA, um artigo recente da Slate (Drink Cheap Wine) recomendou vinhos na faixa de 3 dólares para consumo diário. Sim, três dólares! Na própria França, as gôndolas do Carrefour e outros supermercados têm centenas de rótulos na faixa dos 5. Qual seria a faixa básica do consumo diário no Brasil?

Felizmente, nossos vizinhos do Mercosul têm produzido vinhos cada vez mais interessantes com as mais prestigiadas cepas europeias. Como a tributação dentro do Mercosul é diferenciada e o transporte é mais barato, a preços iguais, prefira sempre uma garrafa do Mercosul, que certamente possuirá mais vinho e menos impostos, margens, fretes, etc.

Considerando alguns dos produtos do Mercosul com a melhor relação custo-benefício, os 3 dólares da Slate viram 30-40 reais aqui no Brasil. Sem milagres! Vinhos do Velho Mundo ou de qualquer outro continente nessa faixa de preço merecem desconfiança. De qualquer forma, em se tratando de vinho, vale a máxima: Gosto não se discute.


Foto: Ainda em La Rochelle. A chuva deu uma folguinha, o sol quase apareceu. Imagem do porto velho da cidade, com as torres medievais: Tour de la Chaîne e Tour Saint-Nicolas.

Saturday, December 3, 2011

São Paulo diferente

Neste final de ano, nosso comitê operacional, que se reúne em algum lugar do mundo a cada trimestre, veio para São Paulo. Se eu tive a tranquilidade de não precisar viajar, tive a responsabilidade de receber meus colegas, de ser um bom anfitrião. Podemos contar com bons hotéis, bons restaurantes e o melhor apoio possível, mas tudo pode acontecer, quando recebemos 20 estrangeiros.

A prática é reunir todos os participantes num super hotel e se fechar por lá com algumas saídas esporádicas de van. Meus colegas conheciam a São Paulo dos pomposos hotéis da Marginal Pinheiros, a meio caminho do nosso escritório. Lá, as regras são: 1) Não pode sair do hotel a pé; 2) Se precisar sair, peça um táxi de confiança; 3) Jamais exponha o notebook ao entrar no taxi; etc.

Desta vez, fiz diferente. Coloquei todo mundo num bairro mais central. Ao invés de ficarmos trancados no hotel, escolhemos alguns restaurantes próximos e caminhamos. Sim, fizemos tudo a pé! O evento de uma semana dispensou o automóvel. Andamos tranquilamente, como fazemos nas cidades europeias. Teve até almoços e jantares a céu aberto, como eles adoram. Foi excepcional!

Apesar do noticiário recente ser bem favorável ao Brasil, ficou cristalizado na mente dos meus convidados uma cidade perigosa, onde só se anda de carro e sem nenhum charme. Foi muito bom desfazer (parcialmente) essa imagem. O evento foi realizado no Itaim, mas acho que poderia reproduzí-lo em outros bairros da capital.

A única ressalva foi o preço das coisas por aqui. Como bom anfitrião, meus convidados não viram os preços das diárias e nem das refeições. Vão descobrí-los, quando tiver que justificar o rombo orçamentário do último trimestre. Como de hábito, só levaram algumas dúzias de Havaianas.


Foto: Apesar de ter ido outras vezes para La Rochelle, jamais havia publicado suas fotos neste blog. Desta vez, o tempo não ajudou. De qualquer forma, o lugar é especial, começando pelo velho porto (foto).

Sunday, November 27, 2011

Alemanha contra rapa

Conforme escrito no último post, Portugal, Itália, Grécia e Espanha (PIGS) continuam em maus lençóis, e a Alemanha é o centro das atenções.

Muito provavelmente, Angela Merkel empurraria a questão do Euro com a barriga, não fosse a punição imposta pelo mercado. Ao encontrar os primeiros percalços na emissão dos seus próprios títulos, a poderosa Alemanha encontra-se tão fragilizada quanto seus vizinhos. Enfim, os alemães começam a perceber que estão no mesmo barco. Até a Economist usou a surrada metáfora da orquestra do Titanic.

O interessante é a inversão. De uma hora para outra, os PIGS viraram vítimas e a disciplinada Alemanha é vista como grande vilã. Apesar da irresponsabilidade fiscal dos PIGS, a forma de atuação do Banco Central Europeu – imposta pela Alemanha – coloca todo continente em risco. A Alemanha não pode mais insistir na punição dos países gastadores sem correr riscos.

Os alemães estão contrariados. Para eles, as cigarras se deram bem e as formigas dançaram. Antes dos dominós começarem a cair, as economias europeias já estavam estagnadas, enquanto que a Alemanha estava em melhor forma. Independentemente de quaisquer outros fatores, a origem de todos os males é a própria moeda única, que ameaça formigas e cigarras. Restarão apenas alguns pulgões.


Desde o começo da crise, os políticos europeus aproveitavam cada oportunidade para culpar o mercado financeiro. Diziam que a Europa não se inclinaria aos especuladores. Com o tempo, o discurso foi amenizado. O mercado, esta entidade culpada de tantos males, permitiu as operações para salvar a Grécia, amenizar a situação da Espanha e ainda foi o único a “peitar” a Alemanha. Se há algum pingo de sensatez nesta história, está no famigerado mercado.


Alemanha contra todos. Alguém já viu isso antes? Seria uma mera circunstância econômica ou fruto da mesma sequência histórica que levou aos conflitos do passado, das diferenças entre as perspectivas católica e protestante, de Roma contra os povos germânicos, etc. Para pensar.


Foto: Uma outra tomada da charmosa Saint-Martin-de-Ré.

Saturday, November 19, 2011

O dono da bola da vez

Cansado da crise europeia? Eu também. Revendo meu próprio blog, percebi que o primeiro post sobre a crise grega foi de março de 2010. Àquela época, já se falava do possível efeito dominó, iniciado na Grécia e demais "PIGS".

Quando escrevi aquele post, ainda morava na Europa, onde o assunto já dominava o noticiário. Confesso que acreditava numa certa solidariedade ao povo grego, numa preocupação em se evitar a desintegração social no coração da Europa. Hoje, tenho certeza absoluta de que a dupla Merkozy só queria livrar a cara e salvar seus bancos.

De fato, caminhamos para o pior dos cenários. Lá se vão dois anos sem crescimento, dois anos de sofrimento para os gregos e a crise está apenas começando. A economia italiana está em cheque e todos pagam altas taxas de juros para rolar suas dívidas. Até a França, detentora da nota máxima AAA, paga cada vez mais juros.

Até pouco tempo, a discussão maior era se a Grécia deveria dar o calote ou não. Agora, com economias bem mais significativas em jogo, a Alemanha está no centro do debate.

O mundo clama para que o Banco Central Europeu tenha uma atuação menos amarrada, injetando mais dinheiro na Economia e resgatando os países em dificuldade, mesmo com o risco inflacionário. A Alemanha, que emprestou a solidez do Marco ao Euro e tem uma trágica memória neste terreno, é radicalmente contra.

Vocês podem reparar no noticiário recente, as atenções viraram para a Alemanha. Apesar da sua virtude e disciplina, ela terá que ser solidária com seus vizinhos vagabundos, que ainda juntam dinheiro para comprar Mercedes.

Dois artigos:
The German problem
O Decálogo da Crise Europeia


Foto: Passeando por Saint-Martin-de-Ré, principal núcleo da Île de Ré. As casas podem parecer humildes, mas valem muito. A Ilha é sempre citada pelos críticos do Imposto sobre Fortuna. A valorização imobiliária transformou os seus antigos habitantes em milionários. O problema é que eles não tinham caixa para pagar o imposto. A saída foi vender e se mudar. Justo?

Saturday, November 5, 2011

Bicentenário

No simpósio promovido pela The Economist, nesta semana em São Paulo, o tema foi o Brasil que se aproxima do seu bicentenário (Brasil 2022). Apesar das recentes conquistas, de tantos estrangeiros excitados e de tanto dinheiro entrando, a divulgação do IDH foi providencial para nos lembrar onde estamos. Uma modestíssima 84a posição mostra que ainda há muito a ser feito. Não foi à toa que o índice saiu no dia de Finados.

Os demais países do BRIC também têm muito por fazer: China (101), Índia (134) e Rússia (66). Mas, como disse o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Tang, "BRIC é só marketing".

O executivo roubou a cena no Brasil 2022. Questionado sobre a competitividade chinesa, disse: "A China não é responsável pelo custo Brasil". Desafiado sobre alguns percalços na ampla parceria entre Brasil e China: "Não existe amizade entre países, apenas interesses comuns". Foi muito claro ao explicar por que a China não apoia o Brasil na reforma do Conselho de Segurança da ONU: "Enquanto o Brasil se aliar ao Japão para entrar no Conselho, a China vai se opor". Muito claro. Claríssimo!

Puxei o assunto para a China, por que há consenso de que o Brasil tenha sido muito beneficiado pelo seu crescimento vigoroso. Entretanto, a novidade dos próximos anos pode ser a frenagem deste gigante, como consequência da deterioração da situação econômica da Europa e dos Estados Unidos.

A chuva de dinheiro que cai na nossa horta vai parar.  Não poderemos continuar "na banguela" por mais alguns anos. Nesse quadro, a construção de um país melhor em todos os aspectos, orgulhoso dos seus 200 anos de independência, só dependerá de nós.

Lamentavelmente, o governo Dilma perdeu a oportunidade de fazer qualquer reforma significativa. Talvez, o susto de uma nova e profunda crise mundial sensibilize a classe política.

Algumas citações circularam no evento da Economist. Não vejo de forma alguma um grego falando para um brasileiro: "Eu sou você amanhã". Por outro lado, concordo com outras: "Brasil pode ficar velho antes de ficar rico" ou "Brasil é uma obra inacabada".


Fotos: Centro de Saint-Martin-de-Ré, principal núcleo da Île de Ré, um destacado polo do turismo francês.


PS- Vocês lembram do "sesquicentenário"? Pois é, estamos ficando muito experientes.

Sunday, October 30, 2011

Paz na Terra

A semana passada foi dominada pelas difíceis negociações em torno do Euro. Se a união monetária é uma ousada etapa dentro do projeto europeu, ninguém duvida de que o grande valor deste esforço de integração é a PAZ. Parece banal, mas olhando-se para o passado, não encontramos muitos períodos em que as principais nações europeias não estivessem guerreando entre si.

Falando de guerra e paz, o novo livro de Steven Pinker, "The Better Angels of Our Nature", tem sido muito comentado. O livro mostra como a violência vem caindo ao longo dos séculos, contrapondo a percepção de que o século XX, com todas as suas barbáries, tenha sido especialmente trágico.

Antes de mais nada, afirmo que ainda não li o livro. Mesmo assim, conforme os bons artigos na imprensa internacional, posso dizer que concordo com a tese do autor. Por outro lado, recomendo certos cuidados na interpretação dessa nossa longa marcha rumo à civilidade.

O autor enfatiza o seu pensamento estatístico ao analisar a História. Isso significa - nas minhas palavras - que qualquer guerrinha com alguns poucos milhões de vítimas não vai mudar a sua tese. Matematicamente, concordo. Ou seja, a mega tendência de redução da violência não é nenhuma garantia de paz.

Ilustrando ainda melhor. Há 100 anos, estávamos às vésperas das duas grandes guerras, que fizeram juntas 70 milhões de vítimas, segundo a tabela de catástrofes humanitárias do autor.  Muito provavelmente, as suas conclusões seriam as mesmas se estivéssemos hoje em 1911. Eu sempre defendi o pensamento estatístico, mas vá ser calculista assim na...

Falando sobre o seu método. No século VIII, houve uma grande disputa de poder na China, que culminou com uma gigantesca rebelião e matança. O saldo da revolta de "An Lushan" foi de 36 milhões de mortos.  À época, a população humana estava na casa dos 200 milhões. Então Pinker corrige o número de vítimas de 36 para 429 milhões, fazendo a equivalência com a população humana no século XX, e transformando o evento na maior carnificina da História.

Na minha primeira leitura das críticas sobre o livro, esta relativização do número de vítimas chamou a atenção - confesso que fui direto aos números, depois li os textos em si. Muitos comentaristas também mostraram-se surpresos, mesmo sem discordar. Possivelmente, concordaria com a tese do autor mesmo sem a tal proporcionalização.

Pensando com meus botões, pergunto se não seria o contrário. Por que não dar um peso ainda maior para as matanças mais recentes, na medida que nos distanciamos do nosso passado selvagem e tribal. Se, ao longo da História, o mundo que ficou mais civilizado, pois desenvolveu o comércio, a diplomacia e a educação, não seria uma guerra recente mais vergonhosa do que uma remota?

Enfim, se a matemática das vidas humanas pode ser discutível, sob uma perspectiva histórica o autor está certíssimo. Mesmo que nada mude a tendência de pacificação da humanidade, em nenhum momento devemos abrir mão da nossa vigilância a fim de se evitar novas tragédias.

Não sei se o autor comentou, mas a sociedade conectada é mais uma grande ajuda para um mundo que zela pelo respeito aos direitos humanos e, portanto, caminha para a tão sonhada civilidade. E que venha ao mundo nosso sétimo bilionésimo irmão!


Foto: Em julho, estive mais uma vez em La Rochelle e Île de Ré (foto), na região de Poitou-Charentes. O tempo decepcionou para julho. As fotos acompanham os próximos posts.

Outro post interessante deste blog: É o amor!