Saturday, January 26, 2013

"MUTE"


Audioconferências são parte da nossa vida profissional há muitos anos. O aspecto mais positivo é poder trabalhar de casa, do carro ou de qualquer lugar, algo que cai muito bem numa cidade como São Paulo.

Reunir muitas pessoas virtualmente via áudio exige alguns cuidados. A recomendação mais importante, por exemplo, é deixar o telefone em "mute", quando não estiver falando. Não seguir essa regra de ouro pode trazer experiências constrangedoras ou engraçadas.

Vários ruídos estranhos costumam invadir nossas sessões de trabalho. Latidos são comuns. Mais incomum foi quando um cachorro não se contentou em interromper um colega que falava, mas também sequestrou o seu mouse.

Bebês e crianças também fazem as suas aparições. Até aí, estamos no campo do engraçado, quando a reação coletiva é um "que gracinha", ou, no original, "qu'est-ce qu'il est mignon".

Tem coisa mais chata. O barulho de talheres batendo é muito comum. Quando fazemos reuniões com participantes das Américas, Ásia e Europa, a melhor forma de se conciliar as diferenças de fuso é fazê-lo no horário do almoço europeu. Pelo menos, é melhor ouvir o tilintar dos talheres do que ver alguém comendo e falando ao mesmo tempo.

No campo do constrangedor, fico com o ronco. Considerando-se as tais diferenças de fusos horários, digamos que é humano adormecer e roncar. Entretanto, é uma imbecilidade não colocar o telefone em "mute". Da minha parte, já transmiti o ruído típico paulistano para o mundo durante as minhas falas: Buzinadas, helicópteros, obras e trovoadas.

Na última semana, estávamos numa áudio importante. Havia mais de 20 conexões pelo mundo. Em alguns lugares, como no Brasil, os participantes estavam agrupados em salas de reuniões. Estava nesta sala. A maior parte dos executivos conectados eram homens.

A reunião ia de vento em popa. Alguém apresentava um determinado assunto, quando uma das mulheres, excelente profissional e muito admirada, cometeu o pecado número 1 das audioconferências. Ignorou o apresentador e começou a falar com um desconhecido, ou melhor, tagarelar.

Não foi um mero "liga depois" ou "agora estou ocupada", foi uma verdadeira reunião paralela. Ignorava completamente seus colegas e nada de ligar o "mute". A sua fala intercalava-se com a do apresentador e bagunçava a áudio. Comentário na nossa sala: "Só podia ser mulher".

Fiquei impressionado como todos nós deixamos aquela bagunça sonora prosseguir. Acho que ninguém se sentia a vontade para calá-la, mesmo que gentilmente. A mulher continuava a dividir a áudio com o apresentador, quando finalmente surgiu a voz salvadora. Uma outra mulher levantou a voz, mandou parar tudo e pediu para a tagarela encerrar a sua conversa ou ficar em "mute". Comentário na nossa sala: "Só podia ser mulher".


Foto: Centro histórico de Nice. Nos próximos posts, mais algumas fotos de Nice, Saint-Paul-de-Vence e Eze, tiradas em agosto último. As três cidades são do Departamento dos Alpes Marítimos, que por sua vez, compõe a região PACA (Provence-Alpes-Côte d'Azur).

1 comment:

Emanuel Campos said...

Grande texto e importantes toques. Eu mesmo tenho um treinamento previsto para dia 31 de janeiro, com início às 5 da manhã no Brasil. É com Taiwan. Depois tenho outro, em fevereiro, com a França. ( 9 da manhã, Paris time, 6 da manhã, Brasil). Vou lembrar do Mute...