Saturday, December 20, 2014

Perdas e danos

Nas últimas semanas, percebi que greve é coisa profissional aqui na Bélgica. Não é algo para atrapalhar nossas vidas só um pouquinho, é parada geral mesmo!

Sabendo da greve geral prevista para o último dia 15, remanejei meus compromissos para Paris. Até aí, foi fácil.  O problema é que, antes da greve em si, há “ensaios”. O movimento começou em novembro, com episódios de greves parciais semanais.

Num desses dias de greve parcial, por exemplo, fui ao aeroporto a fim de embarcar para Lyon, onde ficaria uma semana. A mocinha do balcão: “Não estamos despachando malas, por que não veio ninguém para manuseá-las”. Perguntei se o vôo estava garantido, mas ela não soube informar :(

Felizmente, deu tudo certo. O maior contratempo foi entrar com uma mala – muito longe de ser de bordo – num avião tipo Embraer.

Novembro e dezembro foram meses de manifestações, reuniões da Comunidade Europeia e da OTAN. Tudo isso significa ter um gostinho do trânsito paulistano - só um gostinho - pois quase todos os órgãos internacionais e locais estão entre a minha casa e o trabalho.

É muito comum cruzar com policiais batedores que bloqueiam totalmente o trânsito para carros oficiais. Diplomatas e burocratas costumam usar os hotéis perto de casa. Alguns figurões precisam das avenidas só para eles, e olha que as avenidas já não são tão largas. A Polícia daqui parece ser especialista nisso. Aparentemente, só nisso.

Quem não fez greve nem corpo mole na última semana foram os bandidos. Não estou falando do padrão de bandidos brasileiros: sequestradores, assassinos e deputados. Falo de gatunos.

Enquanto estava em Lyon, um par deles fez uma limpa lá em casa. A lista de perdas é enorme, mas como a gente sempre diz, são perdas materiais. A sensação de chegar em casa e encontrar tudo revirado e jogado no chão não é nada agradável. Que seja a última vez!

A única contribuição da Polícia local para este breve relato foi a dedução de que eram dois furtadores. O “CSI Bruxelas” encontrou duas pegadas diferentes. Sabe até a marca dos sapatos. Por outro lado, depois de emporcalhar ainda mais o meu apartamento com pós pretos e brancos, não achou nenhuma digital.

A verdade é que esse tipo de crime é muito mais comum do que imaginava. Basta comentar o ocorrido entre colegas, que acabamos descobrindo quão comum são tais furtos. Se a Polícia local não pode ajudar, a maioria das pessoas já tem seus suspeitos: os ciganos. Segundo a sabedoria popular belga, são os únicos que levam os seus melhores jeans.

Ciganos ou não, tem alguém abafando por aí nesta noite de sábado em Bruxelas: Calça nova, camisa nova, casaco novo, tablet novo, celular novo, relógio novo e até perfume novo. Como consolo, só me resta escrever um post novo.


Foto: A Place des Jacobins em Lyon e seu abat-jour gigante na Fête des Lumières 2014. Eu estava lá, enquanto...

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