Saturday, May 2, 2015

Crônica ferroviária


Tirando as greves, são raros os momentos em que o sistema ferroviário europeu não funciona como um reloginho. 

Em 2007, passei um sufoco. Houve uma sequência de atrasos por motivos técnicos nas minhas viagens entre Paris e Lyon. Atraso, segundo a companhia francesa, é algo superior a 20 minutos. O resto está dentro da variabilidade. Recebi várias indenizações naquele verão.

Numa das viagens, um problema técnico exigiu a redução da velocidade do trem. Parece pouca coisa, entretanto, sair de 330 km/h para 150 km/h representou um atraso de quase 2h. Nunca cheguei tão atrasado a um evento. Por sorte, havia outros convidados de Lyon no mesmo trem e a organização do evento administrou o imprevisto.  

Depois de 2007, nunca mais tive uma sequência tão azarada. Nesses últimos dias, no entanto, as greves belgas pregaram uma peça em muitos colegas. Houve também problemas técnicos. 

Na última sexta, voltando para Bruxelas e devidamente sentado na poltrona do Thalys, recebi vários SMS: “atraso estimado de 15 minutos” ; “atraso estimado de 30 minutos”; “atraso estimado de 45 minutos”; etc. A tabuada do 15 foi até 165! 

Teve de tudo nessas quase 2 horas: troca de trem, ar condicionado desligado e bar fechado. O que mais me impressionou é que ninguem fez um piu. Todos bem comportados, sem reclamação, sem aumentar do volume de voz, etc. Coisa de belga mesmo.

Os momentos mais próximos de stress nos vagões franco-belgas ocorrem quando alguém pega o lugar do outro. Nessas situações, geralmente tem um estrangeiro envolvido. Seja aquele perdido no trem ou aquele que não sabe que os passageiros frequentes podem mesmo sentar-se onde quiser. Já vi muitos brasileiros estressando-se à toa.

E por falar em brasileiros, enquanto escrevi esta crônica ferroviária, lembrei do nosso ex-futuro-trem-bala ligando Rio e São Paulo. Alguma notícia?



Foto: Domínio Real de Mariemont, a uma hora de casa, um lugar bacana para um domingão ensolarado. 

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