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Thursday, March 4, 2021

Triste fim de um estimado grupo de Whatsapp

 



Tem sido interessante observar a evolução dos diversos grupos de Whatsapp ao longo dos últimos meses. Desde as últimas eleições talvez. A famigerada polarização destruiu qualquer espírito de camaradagem e, muitas vezes, a própria harmonia familiar.

Tiveram mais sorte os grupos temáticos (e.g. futebol, vinho ou filmes) e aqueles estritamente profissionais. Mesmo nesses últimos, de vez em quando, escapa uma provocaçãozinha, merecedora de reprimenda instantânea.

Discutir política é absolutamente necessário, ao contrário do que preconiza a sabedoria popular brasileira. Faz parte do processo democrático e é essencial para a elaboração da nossa visão de país, para a conciliação em torno das grandes prioridades e para a avaliação dos nossos representantes e instituições.

Reconheço que a armadilha da polarização tem impedido as boas conversas. Com os ânimos tão acirrados, insistir no diálogo é desgastante. Exercendo a cidadania, proporcionamos a cizânia.

Tentei classificar o comportamento dos grupos de Whatsapp remanescentes conforme a sua estratégia de sobrevivência:

 

“O silêncio dos inocentes”: Continuam com um monte de gente, que quase não se manifesta. Foram dominados por aquela minoria barulhenta, defensora de uma bandeira política.

“As patricinhas de Beverly Hills”: Tem boa participação, mas faz um grande esforço para ficar nas amenidades e preservar as amizades. Quando surge uma discussão mais contundente, o pessoal esfria e volta à normalidade.

“Feios, sujos e malvados: É o grupo de confronto, se é que sobrou algum deles. É ataque vindo de todos os lados. Mesmo sendo quase tudo fake news, o objetivo é manter o outro sob pressão constante. Vale tudo.

“Turma da Mônica”: Para fugir dos grupos acima, criaram-se inúmeros grupos menores, onde os verdadeiros amigos podem interagir num clima de respeito mútuo.

“O grande ditador: Espero que o leitor não participe de algum grupo desses. Na prática, não é um grupo, mas um órgão de divulgação. É de onde pessoas próximas da política disparam as informações privilegiadas, ou seja, fake news fresquinhas.

 

Se o leitor conhecer algum outro tipo de grupo, compartilhe!

 

Leitura complementar:

Foi por dinheiro - Um post de agosto de 2020

Polarização - Um post de setembro de 2020

 

Foto: Para fechar esta sequência latino-americana, uma foto do Jardim Japonês de Buenos Aires (2020).


Friday, July 3, 2020

Do fundo do baú: “A rede”



Ao final da gravação do episódio 34 do podcast The Shift, a Cris de Luca e a Sílvia Bassi pediram os já famosos ‘insights’, dicas de livros, filmes ou qualquer outra coisa interessante associada ao tema discutido. Eu saquei, lá do fundo do baú, um filme de 1995: “A rede”. Um filme menos reconhecido pelos aspectos cinematográficos e mais celebrado por ser protagonizado pela jovem Sandra Bullock. 

Afinal, por que então ressuscitar esse filme? Nos últimos meses, discutimos em diversos fóruns a questão do trabalho em casa. Muitos de vocês sentiram o gostinho dessa forma de trabalhar durante o confinamento. Várias empresas já adiantaram que prolongarão a temporada de trabalho em casa, outras vão deixá-lo como opção permanente e ainda tem aquelas que querem abolir seus escritórios para sempre.

Voltando ao filme e evitando qualquer spoiler. Mesmo não sendo um blockbuster, ele tem lá o seu fã clube. O enredo cheio de tecnologia dos anos 90 tem algumas visões interessantes, que mereceram minha atenção desde o lançamento.

Tudo se passa em torno de Angela Bennett, uma profissional de TI que trabalha em casa e, praticamente, não conhece ninguém da empresa. Além da sua evidente solidão, essa desconexão abre caminho para boa parte da trama. Assisti ao filme algumas vezes, portanto logo associei aquele ambiente a esse movimento maciço de dispersão da força de trabalho forçado pela pandemia. Para mim, um cenário distópico.

Em casa, percebemos como podemos ser produtivos. O trabalho nunca rendeu tanto. Mas, por acaso, as empresas vivem apenas de produtividade? Será que essa produtividade é sustentável? Se todos continuassem trabalhando em casa, as empresas não perderão nada?  

Que tal falarmos de outros processos que dependem das relações humanas, muitas vezes informais? Já repararam que as conversas que surgem antes ou depois de uma reunião no escritório são possivelmente mais promissoras do que a própria reunião? E os famosos encontros na hora do café? E aquela caminhada básica pelos corredores da empresa?

 O 100% em casa pode ser uma boa solução temporária. De fato, algumas poucas empresas poderiam adotá-lo de forma permanente. Entretanto, o mundo ideal é aquele da flexibilidade. Trocar o 100% no escritório pelo 100% remoto é "trocar um dogma pelo outro", nas sábias palavras do Satya Nadella, CEO da Microsoft.

As corporações, que têm uma cultura própria e buscam a perenidade, dependem de relações humanas diretas para permitir o exercício da liderança, influência, inovação, criação, entre outras. Dispensar esse pacote de relações humanas diretas é abrir mão do que o ser humano tem de melhor.



Foto: Palácio Belvedere em Viena (2016). Este lindo palácio merecia mesmo uma segunda visita. Aliás, digo isso para Viena inteira, pois, durante a minha primeira estada, choveu canivetes. O museu sediado no palácio tem o acervo de obras de Gustav Klimt como destaque.


Saturday, March 12, 2016

Pelas ruas

Plano de sábado: Ir ao centro de Bruxelas comer um “bar en croûte de sel”, passear por um pouco por lá e, na volta, entrar no cinema para assisitir “Spotlight”. Tudo isso sem carro.

Passar o sabadão sem carro é a minha vingança. Durante a semana, para sair de onde eu moro, uma densa região comercial e residencial, cruzo inúmeras faixas de pedestre. A maioria delas não tem sinal, ou seja, o pedestre tem prioridade total.

Considerando-se a multidão que anda pelas ruas do bairro, algumas delas são difíceis de atravessar. Nos horários de pico, é muito irritante.

Por isso, hoje, fiz questão de atravessá-las lentamente, com direito a paradinha no meio da faixa para ver se não deixei cair nada pelo caminho. Considero-me vingado.



A  200m do cinema, percebi uma movimentação diferente. Havia muitos policiais e a multidão protestava contra alguém. De longe, não entendia direito. Notei que terminava com “LA”. O meu subconsciente preparava-se para uma prévia das manifestações de domingo (13 de março).

Chegando mais perto, percebi que o vilão era outro. Tratava-se de Joseph Kabila, o “dono” do Congo, antiga colônia belga, ao qual os manifestantes referiam-se como assassino e corrupto.

O grupo prosseguiu pelas ruas do Matonge (bairro congolês de Bruxelas, pronuncia-se Matonguê) e eu fui ao cinema.  Não aderi à manifestação do #ForaKabila, mas espero que todos os amigos do Brasil estejam presentes nas nossas ruas, pedindo um #ForaDilma e #ForaPT.




Foto: Abadia de Mortemer, na Normandia. O conjunto do século XVII está bem preservado, enquanto que os prédios originais do século XII foram destruídos.

Friday, March 4, 2016

Encontros

Meus leitores do Brasil ainda estão comemorando o encontro de um ex-político com o japonês da Federal. Nessas horas, é difícil falar de outra coisa, mas vou arriscar.

Começo de ano tem festa do cinema em vários países, fechando com o Oscar. Aqui na Bélgica, o vencedor do “Magritte du Cinéma”, como melhor filme do ano, foi “O Novíssimo Testamento”.

O filme começa assim: Deus existe e mora em Bruxelas. Entre os destaques, a atuação do astro belga, Benoît Poelvoorde. O filme tem momentos inspiradores intercalados com o pastelão típico do ator, que faz o papel de Deus. Sem spoilers, pois o filme está em cartaz em São Paulo.

Para os amigos do Brasil, vale relembrar quem é o ator tão conhecido no mundo francofônico. Em “Asterix nos Jogos Olímpicos”, foi Brutus. Em “Coco antes de Chanel”, foi  o amante e protetor da futura estilista. Clíque aqui, caso essas dicas não sejam suficientes.

Assisti ao filme “O Novíssimo Testamento” no avião, voltando do Brasil para a Europa. Como minha esposa dormiu no vôo, o filme foi nosso assunto nos dias seguintes, quando contava a história em pedacinhos.

Num desses dias, recebemos um casal de amigos para jantar. Tocaram o interfone. De dentro de casa, destravei a primeira e a segunda porta. Mesmo conhecendo o caminho até nosso apartamento, o casal estava demorando demais. Destravei as portas mais uma vez e nada. Resolvi descer para ver o que acontecia.

Lá embaixo, nossos amigos não conseguiam passar pela segunda porta. Um outro casal havia espalhado um monte de malas e bloqueado a segunda porta. Tinham um cachorro também. Nossos amigos educadamente esperavam.

Chamou-me atenção o jeito estabanado do homem que procurava a chave da porta entre as malas e pacotes. Era de uma graça familiar. Observei melhor e reconheci a figura.

Sim, era ele. Deus em pessoa. Fiquei impressionado. Por um momento, esqueci-me completamente do casal de amigos.

Deus existe, mora em Bruxelas e é meu vizinho.


Foto: Última foto na bela Lyons-la-Forêt.

Thursday, August 14, 2014

Nós e as máquinas

No último sábado, fui a um supermercado de Bruxelas. Estava cheio, mas quase todos os caixas estavam fechados. Havia apenas um funcionário trabalhando e os clientes eram dirigidos ao auto-serviço. Acostumado a tais máquinas desde a passagem pela França, senti que o “faça você mesmo” está ainda mais forte por aqui.

Os caixas de auto-serviço dos supermercados são bem completos. Basta escanear todas as compras, pesar o que for necessário, ter o cartão de fidelidade, o cartão de crédito e o ticket de estacionamento à mão e pronto. Tudo muito fácil. Principalmente se você for uma daquelas divindades hindus com muitos braços. Brincadeiras à parte, essas máquinas funcionam mesmo e, em teoria, são a prova de idiotas. Em teoria.


Domingão, saindo do cinema, onde assisti “LUCY”, fui validar o ticket de estacionamento. Havia dois tipos de máquinas, uma grande, cheia de botões e aberturas, e uma outra menorzinha. A princípio, dirigi-me para a maior, que oferecia mais recursos. Bati o olho na máquina e pulei fora, fui para a menor.  Já o casal de belgas que estava atrás de mim ficou procurando onde se colocava o ticket por algum tempo. Não sei quanto, pois fui embora.


Na semana passada, fui ao banco pegar meu cartão e registrar a senha. O banco é holandês, a agência fica na comuna de Neder-Over-Heembeek, mas estamos em  Bruxelas, uma região francofônica.  A gerente da agência, uma senhora muito simpática e gentil, falava comigo. A poucos metros dali, uma cliente usava a máquina de auto-atendimento. Ela virou-se para a gerente e berrou: “Pô, essa máquina só fala holandês!”

Com ar de reprovação e esquecendo a sua delicadeza por alguns segundos, a gerente retrucou: “Estou ocupada.” A cliente insistiu e ela, irada, repetiu: “Estou ocupada.” Percebendo a situação constrangedora, ela voltou-se para mim e desculpou-se. Bem, aí chegou a minha vez: “Nem precisa se desculpar. A senhora foi muito gentil. Poderia ter respondido que estava ocupada em holandês!”


Já levei canseira de uma máquina na primeira vez que passei por um pedágio francês. Por ser a primeira vez, precisava de apenas uns poucos segundos para entender onde colocar o ticket,  o cartão de crédito e obter o recibo. Porém, o troglodita que vinha atrás não esperou. Meteu a mão na buzina!

No susto, deixei o ticket cair na via. Tinha alinhado o carro tão próximo ao caixa, que não conseguia abrir a porta. A essa altura, o cara de trás beirava a histeria. Felizmente, aquele pedágio ainda empregava seres-humanos. Pelo alto-falante, perguntaram qual tinha sido meu ponto de entrada na estrada e calcularam a tarifa. Aí sim, coloquei o cartão, paguei e fui embora.  Aquele gaulês apressado teve que esperar uns bons minutos. Já o ticket caído no chão, o vento levou.



Foto: Para fechar as fotos de Bilbao, o Teatro Arriaga.

Saturday, October 5, 2013

Rush


O cinema não aparece neste blog desde abril. Confesso que assisti dezenas de filmes desde então. Cruzei com algumas boas ideias, mas nada genial. O único filme que me surpreendeu explora um dos temas mais difíceis para se fazer um ótimo filme, o mundo do automobilismo.

Adorei Rush de Ron Howard. Bem, pelo diretor, podemos presumir que não seria um filme para simplesmente misturar-se carros, mulheres e muito barulho. O filme relata o duelo entre Niki Lauda (Ferrari) e James Hunt (McLaren) em 1976, uma época em que a Fórmula 1 era muito diferente. Talvez, uma simples confraria de ingleses amantes da velocidade. Nos anos seguintes, uma banho de profissionalismo, dinheiro e tecnologia - não necessariamente nessa ordem - mudaria a cara da F1 para sempre.

O contraste entre o calculista Lauda e o boêmio Hunt pode parecer caricatural, mas todos os testemunhos confirmam os estereótipos. Hoje em dia, a F1 não tem mais espaço para rebeldes românticos como Hunt, privilegiando cordeirinhos fiéis aos grandes patrões do mundo dos automóveis.

Gostei de Rush por que já acompanhava a F1 em 1976. E não era meu primeiro ano de espectador! Nos anos 70, a transmissão por satélite falhava. Ver uma corrida de ponta a ponta sem interrupções era raro. Acho que essa precariedade tecnológica acabava valorizando ainda mais aqueles momentos.

Naquele 1976, o Emerson nos deixou tristes e esperançosos ao mesmo tempo. Tristes por que ele havia  abandonado a ótima equipe McLaren e a chance de um tri. Esperançosos com o primeiro carro nacional, o Copersucar Fittipaldi. Foi justamente a decisão de Emerson que abriu espaço para a entrada de James Hunt na McLaren. No filme, Teddy Mayer, antecessor de Ron Dennis, recorre ao piloto brasileiro carinhosamente como Fuckingpaldi.

Enfim, para mim, é pura nostalgia. O filme é muito bem feito. As cenas de corrida são realistas e os atores estão bem nos seus papeis. Dá para sentir saudades da F1 de antigamente, a menos, é claro, dos acidentes, mais frequentes e mais graves. Esse tema é bem explorado em Rush, graças ao famoso acidente de Lauda. Mas, há controvérsias. Como disse o grande filósofo e antropólogo Nélson Piquet, a gente só assiste corridas para ver os carros baterem :(


Foto: Novas fotos de Bruges, tiradas há uma semana. Tempo bom por lá, muita sorte!

Saturday, April 13, 2013

Viagem


Já optei por voltar da Europa em vôos diurnos algumas vezes. Ao invés de uma noite mal dormida, posso assistir 5 filmes em sequência. É verdade que bons filmes não merecem o avião como cinema. Por isso, aproveito para rever os filmes que gostei e ver alguns títulos franceses que já não encontraria nos cinemas.

No último vôo, estava decidido a assistir "Cloud Atlas" mais uma vez. Errei, foram duas, totalizando mais de seis horas, por que parei diversas vezes para fazer anotações. Os Wachowskis não fazem filmes comuns. Há muitas referências e pistas espalhadas caprichosamente pelo filme.

Muita gente se assusta com filmes que contam diversas histórias em paralelo, como "Cloud Atlas". Na realidade, nosso cérebro é excepcional para tal. Relaxe, curta e você perceberá que o nosso limite é bem acima disso. Entretanto, se alguém perguntar qual é a cor da camisa usada pelo Tom Hanks numa cena de 5 segundos atrás, aí a coisa pega. Enfim, foi por esse motivo que estava com meu caderninho.

Um colega perguntou: "Por que você não aproveita um vôo tão longo para abrir o micro? Rever um Powerpoint, por exemplo". Bem, isso eu faço quando quero dormir, em vôos noturnos!

Muitos pesquisadores especulam sobre os impactos da ditadura do Powerpoint em todos os meios. Provocaria uma imbecilização generalizada? Não sei, mas tenho uma certeza: comigo, funciona como sonífero. É o meu Valium. E não dizem que a Microsoft só faz drogas?


Foto: Na entrada do castelo de Baux de Provence.

Saturday, March 23, 2013

Linhas tortas


Não garanto que a novela da inspeção veicular em São Paulo tenha terminado. Agora, o foco será nos veículos antigos, deixando um regime muito mais flexível para os mais novos. Enfim, parece razoável, como esperávamos que fosse desde o início. Se o final é feliz, o caminho foi tortuoso.

A inspeção foi criada como uma mágica arrecadatória e desmontada com demagogia. A única coisa em comum entre todos os envolvidos é que nenhum deles está preocupado com o meio ambiente, o suposto beneficiário da tal inspeção.

Democracia é assim mesmo. Durante nossas vidas, vemos um monte de bobagens e injustiças. No longo prazo, a sociedade faz as correções.

A corrupção e a incompetência atrapalham a vida pública. Nem por isso, tudo é desprezível. Algumas discussões do Congresso refletem legítimas fraturas da sociedade diante de certos assuntos, sobrepondo-se ao habitual fisiologismo e à disputa entra governo e oposição. Exemplo: Os royalties do petróleo e todas as questões de impacto religioso (jogos, gays, aborto, etc).

Assisti ao filme "Lincoln" com olhos de quem acabara de acompanhar o julgamento do Mensalão. As cenas de corrupção de deputados parecem de certa inocência para o século XXI. Entretanto, a crença de Lincoln no processo democrático, mesmo com as suas imperfeições, é um dos seus grandes legados.

Os EUA elegem seus presidentes sem interrupção há mais de 200 anos, algo que representa um marco na história da humanidade. Daqui a 100 anos, quase ninguém saberá o que foi um petista ou um tucano. O importante é que estejamos escolhendo nossos líderes, apesar de todos os acidentes de percurso vindouros.


Foto: No topo da cidade de Eze, nas ruínas do seu castelo, há um jardim de plantas exóticas decorado com esculturas de Jean-Philippe Richard.

Monday, February 25, 2013

Depois do Oscar


Além da revista semestral, meu último post de cinema foi sobre Argo. À época, sem ter assistido aos demais candidatos ao Oscar, disse que o filme estava com a taça na mão. De fato, Argo e Amor arrebataram todos os grandes prêmios internacionais, numa rara convergência.

Graças à sensível melhora na distribuição dos filmes no Brasil, que chegam cada vez mais rápido, consegui assistir a todos os candidatos ao Oscar de melhor filme antes da premiação. No título original: Amour, Argo, Beasts of the Southern Wild, Django Unchained, Les Misérables, Life of Pi, Lincoln, Silver Linings Playbook e Zero Dark Thirty.

Sem dúvidas, são nove bons filmes, mas nenhum é excepcional. Se ainda estiver inspirado para falar sobre cinema, volto em breve com um post sobre o filme Amor. Reconheço os méritos do filme, mas não gosto muito do tema.

Apesar de tantas atuações marcantes, faltam boas histórias. Uma linha sobre cada filme:

Amour - Interpretação esplendorosa do casal de atores veteranos.
Argo - Se fosse ficção, seria um delírio hollywoodiano.
Beasts of the Southern Wild - Uma visão dos EUA bem incomum.
Django Unchained - Just for fun!
Les Misérables - Como é bom relembrar aquelas músicas!
Life of Pi -  Só vale pelas imagens deslumbrantes.
Lincoln - É dos poucos que nos faz pensar: Política e democracia.
Silver Linings Playbook - Veremos os "louquinhos" com outros olhos.
Zero Dark Thirty - Será que o Bin Laden morre no final?!

Se você quiser ver algo diferente dentro dessa lista, fique com Beasts of the Southern Wild (Indomável Sonhadora). Um filme fora dos padrões de Hollywood, daqueles gravados com câmera na mão, que é lindo e original. Também conquistou muitos prêmios pelo mundo.

Este post foi escrito domingo à tarde. Só não publiquei antes da premiação por que a NET estava fora do ar lá em casa. 


Foto: Outra tomada nas ruelas de Saint-Paul deVence, na Provence.

Monday, December 24, 2012

Revista do cinema S2/2012


Ao longo do segundo semestre, comentei sobre cinema em quatro posts. As produções de Hollywood "Argo" e "Ted" mereceram posts exclusivos. Abordei o argentino "Elefante Branco" e fiz justiça a "Intocáveis", filme francês que já alcançou os 50 milhões de espectadores no mundo inteiro.

Dois filmes em cartaz merecem menção. Gosto de "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada" e estou pronto para os dois próximos filmes. Entretanto, depois de "O Senhor dos Anéis", me parece mais um caça-níqueis. Não surpreende. Não encanta.

"A Vida de Pi", de Ang Lee, é justamente o oposto. O uso de 3D e computação gráfica deu mais um salto. O filme é muito bom. Poderia ser melhor, se fosse mais aberto e não tentasse induzir demais a interpretação do público. Não vou falar mais, para não estragar. Imperdível.

Fora do cinemão, gostei do brasileiro "Gonzaga: De Pai pra Filho". Filme muito bem feito e com Brasil na medida certa.

Entre as muitas produções francesas que assisti, destaco "Le prénom" e "Le magasin des suicides". Se aparecerem no circuito nacional nos próximos meses, não percam. O primeiro tem jeitão de teatro. O debate familiar sobre o nome de um filho vindouro viaja pela História e Literatura e descamba nos conflitos pessoais. O segundo é uma animação musicada. Muito criativa e bem feita, apesar do desfecho bem bobinho.

Se não me engano, "The Angel's Share", de Ken Loach, só apareceu nos festivais ou num circuito muito reduzido. O filme merece estar entre os melhores do semestre. À época, escrevi no Twitter que desafiava os brasileiros a abrir mão da legenda. De fato, o pronunciado sotaque escocês faz parte do filme.

E por falar em Escócia, terra da infância de James Bond, fecho esta revista com "Operação Skyfall". Devo reconhecer que sempre considerei os filmes de 007 muito ruins, daqueles que nem justificam os nossos preciosos 120 minutos. Skyfall está bem longe disso.

Mais uma vez, Boas Festas!


Foto: Em noite de Fête des Lumières (Lyon), a estátua equestre de Luís XIV na Praça Bellecour. Ao fundo, a roda gigante e um restinho de fogos de artifício.

Friday, November 16, 2012

Hispânicos


É cada vez mais comum encontrar por aí vendedores e garçons vindos de outros países da América Latina. Em qualquer lugar do mundo, uma observação desse tipo nem seria digna de nota. Talvez, fosse até preconceituosa. Bem, no Brasil é diferente. Por algumas décadas, o único fluxo migratório relevante que vivemos foi o interno.

Sou absolutamente favorável a entrada dos "hermanos" e também de outros povos mais distantes. Acho até que deveríamos atrair mais intensamente profissionais especializados para alavancar nosso desenvolvimento.

A oportunidade de conviver com os imigrantes hispânicos em muitos lugares nos faz sentir como os brasileiros da virada do final do século XIX. À época, os imigrantes eram parte considerável da nossa pequena população de cerca de 15 milhões de habitantes. Ou, como os europeus e norte-americanos, tão habituados às imigrações, legais ou ilegais.

Há muitas causas para esse novo fluxo migratório em direção ao Brasil. Fundamentalmente, seguindo a própria história dos nossos antepassados, as perspectivas por aqui são melhores do que nos nossos vizinhos.



Voltando ao cinema, assisti ao filme argentino "Elefante Branco". Não é um filme agradável, mas o paralelismo entre as "villas" argentinas e as nossas favelas é impressionante. Me deu menos vontade de voltar a Buenos Aires, porém o recomendo como documentário. O crescimento recente da favelização na Argentina é trágico. Nossos vizinhos andam para trás, o que vem a reforçar o papel do Brasil como locomotiva regional.



Foto: Última foto de Bath, Inglaterra. Não me perguntem quantos dias tão ensolarados eles podem curtir por lá, pois o Parade Gardens estava lotado.

Sunday, November 11, 2012

Argo


Os primeiros minutos de "Argo" são essenciais para se contextualizar a aventura da libertação de seis reféns norte-americanos pela CIA. O prólogo histórico poderia até ser diferente, mas ele surpreende pela correção. É um espécie de "mea culpa".

Se o Irã de hoje é um regime teocrático com alguns propósitos insanos, o Ocidente teve o seu dedo. E a história não é diferente em outros países da região.

Ben Affleck conseguiu fazer um ótimo filme e está com a taça na mão. A história real nem foi tão eletrizante, como afirmam os próprios reféns. Argo é um ótimo thriller e tem muito de real. Pessoalmente, gosto muito desse tipo de filme.

O episódio mostra a sina dos serviços de inteligência. Os sucessos ficam escondidos, os fracassos são escancarados. A minha querida revista Wired trouxe o caso à tona em 2007. Imagino que fuçar os arquivos americanos ainda possa nos trazer muito mais histórias como esta.

Não poderia deixar de encerrar este post mandando um recado aos líderes do Irã com o mote do filme: Argo fuck yourself!



Foto: As termas romanas são a grande atração de Bath, Inglaterra. Achei exatamente a mesma foto num guia de turismo de prestígio. Problema é do guia, eu sou fotógrafo amador ;-)

Friday, October 12, 2012

Intocáveis


Comentei sobre o filme "Intouchables" na revista do cinema do primeiro semestre. O texto mostra que não apostei no sucesso internacional do filme. Entretanto, as bilheterias confirmam a sua aceitação pelo mundo.

O filme conseguiu fugir do pequeno circuito tradicionalmente reservado ao cinema europeu. Se meu post original foi um pouco frio com esta ótima produção francesa, então fica aqui a correção e recomendação. Eu já o assisti duas vezes!


O nome do filme me faz lembrar o julgamento do mensalão. O grande legado desse processo não é a prisão de alguns corruptos, mas um recado muito claro para os políticos de hoje e do amanhã: Já não são mais intocáveis!

O julgamento tem sido uma grata surpresa. Temia que mais membros do STF se alinhassem ao "estilo Lewandowski". Felizmente, é a figura de Joaquim Barbosa que se impõe. Mais para frente, volto ao tema. Assim como muitos brasileiros, espero ansiosamente pela hora da dosimetria ;-)



Foto: Começando uma série de imagens sobre o Castelo de Windsor. Essa residência oficial da monarquia britânica é o maior castelo ocupado do mundo. As partes mais antigas remontam a 1070, época de Guilherme, o Conquistador.

Tuesday, October 2, 2012

Ted


Seth MacFarlane será o mestre de cerimônias do Oscar 2013. Confesso que não conhecia esse nome até o último final de semana, quando assisti seu filme "Ted". E tudo graças ao Protógenes Queiroz!

Acho que o leitor soube do episódio protagonizado pelo deputado. Levou seu filho de 11 anos para ver o filme do ursinho de pelúcia falante e saiu chocado, querendo baní-lo do circuito nacional. Seu argumento: "O filme faz apologia às drogas".

Deixando de lado a sua vocação de censor, o deputado cometeu um erro grosseiro não seguindo à classificação indicativa do filme: "Para maiores de 16 anos por abordagem de drogas conteúdo sexual e linguagem imprópria". Nos EUA, ele é classificado como "R" (restricted), fato que inibe sua exibição em muitos cinemas.

Eu teria deixado o filme de lado, senão fosse a promoção feita pelo deputado. Fui conferir.

Falarei sobre o filme sem contar tudo.

Pense na pessoa com a boca mais suja que você conhece. Aquele que chega até causar certo constrangimento. Então, coloque todo seu vocabulário indecente na boca de um inocente ursinho de pelúcia. Pois é, Ted nos surpreende do começo ao fim. Duas horas não são suficientes para nos acostumarmos com um ursinho falando tanta bobagem.

Obviamente, o ursinho é uma metáfora para retratar parte do mundo masculino. Imaturidade temperada com muito preconceito e vulgaridade. E coloque muito preconceito nisso. E as drogas estão presentes do começo ao fim.

A questão é fazer uma crítica social e ao mesmo tempo se aproveitar dos vícios da sociedade, fazendo graça com piadas inaceitáveis fora das telas. É por isso que o filme divide opiniões. Uns acham que MacFarlane passou da linha. Outros, que o contexto permite o abuso. Porém, é bem verdade que todos concordam que algumas cenas são hilárias.

Enfim, é divertido e é para maiores, a menos que você insista em mostrar para seus filhos como somos babacas.


Foto: Uma outra fachada da Hampton Court, em Londres.

Sunday, July 15, 2012

Revista do Cinema S1/2012


Durante o primeiro semestre, comentei sobre “A separação” e “Jogos vorazes”. “The artist”, vencedor do Oscar, esteve nos meus posts do ano passado.

Entre os dois filmes que homenageiam o cinema, “The artist” e “A Invenção de Hugo Cabret”, gostei mais do último. Fui ao cinema duas vezes para curtí-lo, pois raramente um filme em 3D é tão bom. Para quem gostou do filme, saiba que George Méliès é tema de uma mostra do MIS, em São Paulo.

Não vi grandes filmes neste semestre, mas achei “Os descendentes” e “O exótico Hotel Marigold” bem razoáveis. O último filme de Woody Allen, “Para Roma, com amor”, é muito pior do que seu anterior, “Meia-noite em Paris”, apesar do superelenco e da própria presença do diretor.

Mudando para o cinema francês. Só pude ver o blockbuster “Intouchables” (2011) no começo deste semestre. Entra na esteira dos sucessos franceses pouco exportáveis (“The artist” é uma história à parte).  É notável abocanhar 20 milhões de entradas num país de 65 milhões de habitantes. O filme é baseado numa história real sobre a relação de um empresário tetraplégico e seu acompanhante faz-tudo de origem humilde.  Uma comédia dramática, como diz a crítica.

A cadeira de rodas também foi a estrela do filme francês que balançou Cannes, “De rouille et d'os”. Este sim, muito mais dramático e com show de interpretação de Marion Cotillard. Recomendo para quem gosta da atriz e do cinema francês. Caso contrário, fique com a comédia.

Estou botando mais fé no próximo semestre. Teremos o remake de “Total Recall”, o “Hobbit” de Peter Jackson e “Les Misérables”. Também tem novos Batman e 007. Para fechar, o vencedor da Palma de Ouro, “Amour” de Michael Haneke. O diretor austríaco não faz filmes tão chatos como a maioria dos premiados em Cannes.


Foto: Mais uma tomada do complexo que inclui o Templo de Mármore de Bangkok. O céu pode estar meio cinzento, mas a temperatura passava dos 35.

Tuesday, April 3, 2012

Jogos Vorazes

Já fiz alguns posts sobre filmes. Em sua maior parte, fiz recomendações sobre os filmes de que gostei. Desta vez, meu intuito é outro. Falo sobre "Jogos Vorazes" ("The Hunger Games"), sucesso de crítica e público. A surpresa é justamente essa, um tema recorrente do acervo da ficção científica (FC) e dos “filmes B” virando "blockbuster" e ainda agradando a crítica. Como pode?

Não contarei muito sobre o filme, a fim de não estragar o programa daqueles que ainda querem vê-lo. A obra é baseada na trilogia de Suzanne Collins - Não li os livros, porém prestigiarei os próximos filmes - Como dizem os especialistas, o cenário é uma Terra “pós-apocalíptica” ou “distópica”, onde as desigualdades sociais são ainda maiores e a repressão faz os autocratas de hoje parecerem amadores. Jovens enfrentam-se num “reality show”, onde vence aquele sobreviver.

Longe de falar em plágio, as semelhanças com outras histórias, especialmente de FC, são consideráveis, mas sem grande ambição e sofisticação. O percurso da heroína Katniss Everdeenbem interpretada por Jennifer Lawrence, segue precisamente a receita clássica de Joseph Campbell.

Metáfora ao alcance de todos, a carapuça dessa sociedade fictícia, desigual, violenta e invasiva, serve ao nosso mundinho. A força do filme é a simplicidade, que combina uma boa produção, clichês da FC, associação íntima com os populares "reality shows" e a redentora jornada do heroi.

Os protagonistas do filme são pobres, mas são limpinhos. O filme é bobinho, mas é bem feitinho.


Foto: Contrastes de estilos arquitetônicos em Chicago.

Sunday, March 4, 2012

Setenta e cinco?!

Na França, Jean Dujardin continua sendo um ator de segunda. Perdeu o César, mas ganhou o Oscar. O importante é que ele está feliz. Vai aprender um pouco de inglês e passar uma temporada em Los Angeles. As estrelas francesas adoram Hollywood. Os salários de lá não são muito maiores, mas o imposto... Ah, o imposto, quanta diferença!

Dujardin é sério candidato a fazer o que muitos artistas e milionários franceses já fizeram. Argumentam que são cidadãos globais e fixam residência na Suíça, Mônaco, Bélgica, Inglaterra e Estados Unidos.

Sarkozy procurou maneiras de estancar essa sangria. Além de dinheiro, os ricos levam empreendedorismo, ideias e talento. Tudo o que a França precisa. Para decepção do Presidente, a crise europeia não deu margem de manobras.

François Hollande, opositor de Sarkozy nas próximas eleições, por sua vez, quer piorar as coisas. Prometeu criar a alíquota de 75% de imposto de renda. Eu disse setenta e cinco! (Alíquota para renda superior a um milhão de euros anuais, numa tabela progressiva)

O anúncio do candidato do PS tem forte apelo demagógico, afinal a maior parte da população ganha bem menos do que isso. Por outro lado, existe toda uma categoria de artistas, esportistas, empresários e executivos, que será duramente penalizada.

A proposta é digna de um partido que se diz socialista. Aliás, neste assunto, fica bem mais claro quem é de direita e quem é de esquerda no país.

Muitos já deixaram a França por causa da alíquota atual de 40% e do imposto sobre o patrimônio. Uma parte da família mais rica da França, os Mulliez, donos do Auchan, Leroy Merlin, Décathlon e outras redes do varejo, mudou-se para a Bélgica. Moram numa cidadezinha da Valônia. Atravessam a rua e estão na França.

O pessoal do mercado financeiro prefere Londres. Aqueles que teimam morar em Paris, usam a ponte aérea ou o trem-bala que une as duas cidades. Como exceção às fugas, alguns ricaços saíram de Paris e foram morar no próprio "château", pois uma propriedade agrícola produtiva paga bem menos impostos.

Imaginem a futura França de Hollande! Ainda quero crer que seja um "tudo ou nada" eleitoral para arrancar Sarkozy da Presidência.

Numa economia de mercado, uma alíquota maior do que 50% me parece ser mais punitiva do que distributiva. Com 50%, você tem o Governo como sócio. Com 75%, a relação é de vassalagem.


Foto: Navy Pier em Chicago.

Monday, January 23, 2012

A Separação

Finalmente, assisti “A Separação” (Asghar Farhadi, 2011), o filme iraniano que levou o Globo de Ouro e é sério candidato ao Oscar. Graças ao prêmio, ele voltou a um circuito considerável em São Paulo. Aproveitem logo, por que vem aí uma nova safra de Hollywood, bem mais digerível que este drama persa.


Sim, o filme não é nada divertido, mas é uma história incrivelmente bem contada. Tudo começa com um pedido de divórcio, cuja evolução surpreende, mantém o suspense até o final e nos ensina a compreender um pouco mais a cultura deste "inimigo do Ocidente". Cinema de primeira linha.


O autor do guia de cinema mais famoso do mundo, Leonard Maltin, ressalta que grande parte da trama poderia acontecer em qualquer lugar, tendo algumas particularidades exclusivas do Irã. Esta universalidade faz o filme ser notável. Pego o gancho do Maltin para minhas duas observações:


1) As particularidades do Irã são essenciais no filme. A cultura persa e o Islã estão presentes do começo ao fim. No clímax do filme, quase no final, o Corão faz toda a diferença no destino dos protagonistas.


2) Por outro lado, o filme mostra um outro Irã, não aquele conhecido pela estúpida teocracia e seu  capacho-mor, Mahmoud Ahmadinejad. “A Separação” mostra pessoas comuns como nós, empreendedores e empregados, funcionários públicos, muçulmanos praticantes e outros nem tanto, e assim por diante.


Não posso contar mais nada sobre o filme. Quem gosta de cinema e quer aproveitar a oportunidade para um mergulho na sociedade persa, não deve perdê-lo.


Foto: Em Chicago, bem no centro da cidade, os arranha-céus de ontem e de hoje mostram por que a cidade é um "museu da arquitetura". Voltaremos a alguns desses marcos nos próximos posts.

Tuesday, December 27, 2011

Revista do Cinema S2/2011

No meu único post sobre cinema neste semestre, "Novelão e Cinemão", antecipei dois filmes que serão destaque nos próximos meses:

"Drive" já é cult. Na minha opinião, o melhor do semestre. Ryan Gosling, que também estrelou "Tudo pelo Poder", está com tudo. Ele só não pode continuar fazendo o mesmo estilo do heroi solitário a vida inteira.

"The Artist" me surpreendeu. Não por ser ótimo, mas pela repercussão deste filme mudo francês nos EUA (vide abaixo). Fala-se em Globo de Ouro e Oscar. Antes, o diretor Michel Hazanavicius e o ator Jean Dujardin fizeram algumas paródias de 007. Puro pastelão. Um filme mudo no estilo de Hollywood de quase um século atrás é diferente, mas longe de ser genial.

Ainda pensando fora do Brasil, lamento não ter assistido ao iraniano "A Separação". Deparei-me com o filme algumas vezes na França e acabei optando por algum lixo ocidental. Espero que ele passe em São Paulo. Pelo que eu li, trata-se um filme excepcional.

No Brasil, pude assistir um monte de filmes. Nem vou listá-los, por que muitos nem merecem uma menção neste blog. O que mais me agradou foi o argentino "O Conto Chinês", uma comédia de ótimo gosto. O ator principal, Ricardo Darín, esteve em outro filme elogiado por este blog, "O Segredo dos Seus Olhos".

Além dos filmes acima, gostaria de comentar brevemente sobre outros, que estão num patamar bem inferior:

"Margin Call - O Dia Antes do Fim": Para um filme que se passa num banco, na iminência da crise financeira, o diretor fez muito em criar um ótimo clima de thriller, explorando muito bem o lado humano de quem faz o mercado.

"Missão Impossível - Protocolo Fantasma": O quarto MI não é um filmaço, mas é melhor do que os anteriores. Pelo menos, restabelece o espírito de equipe de MI, tão marcante no seriado original. Os filmes anteriores faziam de Tom Cruise um ridículo James Bond.

"A Pele que Habito":  O filme se destacou com uma história super original e bem feita. No meio de tantos filmes medíocres, foi dos mais inspirados do semestre.

"Tudo pelo Poder": É um prazer ver um elenco tão bom trabalhando junto: Ryan Gosling, Paul Giamatti, Philip Seymour Hoffman e George Clooney, que também dirige (e bem). Pena que o enredo seja bem fraquinho, tão óbvio como a falta de ética na política.

Como não comentarei todos os filmes medianos que asssisti, destaco o belga  "O Garoto da Bicicleta", tão aclamado pela crítica, mas que não convence. Afinal, depois de quatro anos na França, estourei a minha cota para esse tipo de drama.

"O Palhaço" foi um dos brasileiros que prestigiei. O filme é razoável e poderia ser muito melhor. Ainda não entendi se os produtores visavam ao público juvenil ou adulto. Para o primeiro público, está de bom tamanho.

Alguns artigos sobre "The Artist":
Slate
New York Times
Washington Post


Foto: Fiz um pit-stop em Barcelona. Na verdade, não foi tão curto assim, foram cinco dias inteiros num congresso, com pouco espaço para turismo. Da janela do hotel, apreciava os treinos do Camp Nou, mas é melhor nem tocar nesse assunto. Na foto, a escultura de Frank Gehry sobre o cassino do Porto Olímpico.

Saturday, October 15, 2011

Novelão e cinemão

As primárias do Partido Socialista têm monopolizado a mídia francesa. A superexposição é uma faca de dois gumes. Conversei com alguns colegas simpatizantes do PS, eles confessam que estão incomodados com o fenômeno. Não aguentam mais o embate entre os líderes socialistas, que passou por debates na TV, ataques, intrigas e tudo que uma campanha política tem de pior.

Pelo menos a disputa interna acaba neste domingo, 16 de outubro, dia do segundo turno das eleições internas do partido. François Hollande ou Martine Aubry será o candidato do PS nas eleições de 2012. Os eliminados no primeiro turno (Manuel Valls, Jean-Michel Baylet, Ségolène Royal e Arnaud Montebourg) declararam apoio a François Hollande.  

Longe de querer dar palpite no país dos outros, torço apenas para que o partido esteja unido e preparado para o confronto com Sarkozy em torno de ideias e projetos para a França e Europa. Afinal, o continente enfrenta um momento difícil e não pode abrir mão da co-liderança da França para tentar solucionar os seus problemas.

Além de assistir ao novelão do PS, aproveitei as últimas duas semanas na França para ver quatro filmes recomendados, que chegam aos cinemas brasileiros apenas em 2012. Antes disso, só em mostras e festivais.

"The Artist" -  Melhor interpretação para Jean Dujardin (Cannes, 2011). Na época do cinema 3D, um filme em P&B e mudo pode chocar. O filme é bem razoável e, finalmente, Dujardin fez algo acima da média. Vale a pena assistir, por ser diferente.

"Habemus Papam" - Comédia italiana de Nanni Moretti. Confirmado para a Mostra de Cinema de SP. É uma comédia bem leve sobre um Papa recém eleito em crise existencial. A situação como um todo é bem original, mas o enredo não surpreende. Meio previsível.

"Drive" - Melhor direção a Nicolas Winding Refn (Cannes, 2011). Apareceu no Festival do Rio e, segundo alguns tweets, não vem para a Mostra de SP. O enredo parece bobo, um cara enfrenta sozinho uma gangue de mafiosos. Mas o filme é ótimo. Com uma ou outra cena muito violenta, o diretor consegue manter o suspense e a nossa expectativa. Valoriza as cenas de ação e até o elenco mediano parece ser formado por estrelas. Tem uma trilha sonora excelente. Quando o filme termina e acendem-se as luzes, dá para sentir as pessoas expressando algo como "uau". Imperdível. Veja o clípe

"De bon matin" - Que eu saiba não foi premiado, mas foi aclamado pela imprensa francesa. Ambientado no mundo corporativo, fala sobre o estresse e o assédio moral. Interpretações excelentes, mas no jeitão tradicional do cinema francês. Só vá se gostar do tema.


PS 1 - Assisti a um desses filmes numa rede independente. Normalmente, vou aos cinemas da rede UGC, uma espécie de Cinemark francês. No "Le Balzac", numa travessa da Champs Élysées, o dono do cinema, Jean-Jacques Schpoliansky, faz seus comentários antes do filme, enaltecendo a sua luta para manter o cinema independente, que privilegia os filmes de autor. O cinema estava em ótimo estado. Veja o próprio Jean-Jacques no vídeo. O "Le Balzac" também faz caixa retransmitindo as óperas de Paris a 25 euros o lugar. Não é a sensação de estar na Ópera Garnier ou na Ópera da Bastilha, mas com 25 euros não dá para fazer muita coisa.


PS 2 - A França ganhou do País de Gales e está na final da Copa do Mundo de Rugby. Amanhã, no mesmo dia das primárias do PS, ela conhecerá o seu adversário, Nova Zelândia ou Austrália. A França participou das finais das Copas de 1987 e 1999, sendo batida respectivamente pela Nova Zelândia e pela Austrália.  


Foto: Havia algo estranho naquele domingo em Saint-Antoine l’Abbaye (Isère). Eu sabia que era feriado religioso, mas cadê todo mundo? Não tardou para que chegasse a cidade inteira em procissão. Acima e abaixo, a sua igreja em dois momentos.