Saturday, September 3, 2011

RIP Britannica

A Britannica de casa era um pouco mais velha do que eu. Sobreviveu ao mofo e aos cupins. Sobreviveu aos PCs e à primeira fase da Web. Em tempos de tablets e smartphones, a competição ficou muito difícil. Com a Web inteira sempre à mão, não tem para ninguém. Depois de quase cinco décadas de bons serviços, resolvemos doá-la. Esperamos que ainda seja útil para alguém.

Ofereci algumas outras publicações enciclopédicas para meus sobrinhos, que recusaram gentilmente. Insisti que poderiam ser recortadas à vontade, porém isso já não faz mais o menor sentido.

Depois da Britannica, a tendência é fazer a limpa em todas as publicações do gênero e tudo que é de domínio público. Um Kindle comportaria grande parte dos clássicos da literatura e da filosofia escritos até o começo do século XX daqui de casa.

Entre os aspectos marcantes da Britannica, estão os artigos assinados. Nos anos 60, o verbete "vida" era assinado pelo Isaac Asimov. Depois, foi substituído pelo Carl Sagan. Confesso que não sei quem são os autores das versões mais recentes. De qualquer forma, compará-la com a Wikipedia não faz o menor sentido. São coisas diferentes.

Nos anos 90, a Britannica quebrou a cara duas vezes. Na curta fase das enciclopédias em CD e na tentativa precoce de se cobrar pelo acesso à informação via Web. Às vésperas do novo século, finalmente, lançaram um site com conteúdo aberto. Eu mesmo festejei a iniciativa no artigo para o Computerworld "Lições que não estão na enciclopedia" (novembro de 1999). Errei, pois a Wikipedia nascia poucos meses depois.

Asimov, citado acima, foi mais visionário. Vinte anos antes do meu artigo, escreveu:

"Certamente, cada vez mais pessoas seguiriam esse caminho fácil e natural de satisfazer suas curiosidades e necessidades de saber. E cada pessoa, à medida que fosse educada segundo seus próprios interesses, poderia então começar a fazer suas contribuições. Aquele que tivesse um novo pensamento ou observação de qualquer tipo sobre qualquer campo, poderia apresentá-lo, e se ele ainda não constasse na biblioteca, seria mantido à espera de confirmação e, possivelmente, acabaria sendo incorporado. Cada pessoa seria, simultaneamente, um professor e um aprendiz."


Foto: A sede dos correios em Dijon, capital da Borgonha.

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