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Wednesday, September 7, 2011

Meu onze de setembro

Também vou compartilhar o meu onze de setembro de 2001 com vocês. Estava no trabalho desde muito cedo pois, há dez anos, conseguia atravessar São Paulo bem mais rápido. Interromperam uma reunião importante com notícias bastante distorcidas sobre o ocorrido, então procuramos a TV. Acabava a reunião.

Apesar do choque, estava totalmente concentrado na preparação do orçamento 2002. Na semana seguinte, apresentaria algumas propostas na França. Que os vôos para os EUA estavam suspensos, todos sabiam. Porém, não contava que a empresa suspendesse todos os vôos internacionais. Não compareci àquela convenção de 2001, que congregou apenas os franceses. Apresentei alguma coisa pelo telefone, mas foi pouco eficaz.

Poucas semanas depois, teria uma outra viagem internacional planejada há tempos. Era o tradicional evento do Gartner (Symposium ITxpo) em Orlando. Aí não teve jeito, ir para os EUA continuava mesmo proibido. Então, ao invés de ir pela empresa, eu fui ao Symposium de férias!

Os aeroportos americanos continuavam às moscas. O evento estava bem mais vazio do que o normal. O Gartner adicionou uma dúzia de palestras extras sobre "disaster recovery", que viraram a sensação do evento.

O evento acabou bem, as férias idem. Os orçamentos se sucederam, assim como a realização dos mesmos. Bem, é claro, alguma coisa mudou...


Foto: Última foto de Dijon, uma das ruas que desembocam na  Place de la Libération, mostrada anteriormente.

Saturday, September 3, 2011

RIP Britannica

A Britannica de casa era um pouco mais velha do que eu. Sobreviveu ao mofo e aos cupins. Sobreviveu aos PCs e à primeira fase da Web. Em tempos de tablets e smartphones, a competição ficou muito difícil. Com a Web inteira sempre à mão, não tem para ninguém. Depois de quase cinco décadas de bons serviços, resolvemos doá-la. Esperamos que ainda seja útil para alguém.

Ofereci algumas outras publicações enciclopédicas para meus sobrinhos, que recusaram gentilmente. Insisti que poderiam ser recortadas à vontade, porém isso já não faz mais o menor sentido.

Depois da Britannica, a tendência é fazer a limpa em todas as publicações do gênero e tudo que é de domínio público. Um Kindle comportaria grande parte dos clássicos da literatura e da filosofia escritos até o começo do século XX daqui de casa.

Entre os aspectos marcantes da Britannica, estão os artigos assinados. Nos anos 60, o verbete "vida" era assinado pelo Isaac Asimov. Depois, foi substituído pelo Carl Sagan. Confesso que não sei quem são os autores das versões mais recentes. De qualquer forma, compará-la com a Wikipedia não faz o menor sentido. São coisas diferentes.

Nos anos 90, a Britannica quebrou a cara duas vezes. Na curta fase das enciclopédias em CD e na tentativa precoce de se cobrar pelo acesso à informação via Web. Às vésperas do novo século, finalmente, lançaram um site com conteúdo aberto. Eu mesmo festejei a iniciativa no artigo para o Computerworld "Lições que não estão na enciclopedia" (novembro de 1999). Errei, pois a Wikipedia nascia poucos meses depois.

Asimov, citado acima, foi mais visionário. Vinte anos antes do meu artigo, escreveu:

"Certamente, cada vez mais pessoas seguiriam esse caminho fácil e natural de satisfazer suas curiosidades e necessidades de saber. E cada pessoa, à medida que fosse educada segundo seus próprios interesses, poderia então começar a fazer suas contribuições. Aquele que tivesse um novo pensamento ou observação de qualquer tipo sobre qualquer campo, poderia apresentá-lo, e se ele ainda não constasse na biblioteca, seria mantido à espera de confirmação e, possivelmente, acabaria sendo incorporado. Cada pessoa seria, simultaneamente, um professor e um aprendiz."


Foto: A sede dos correios em Dijon, capital da Borgonha.

Sunday, August 28, 2011

RIP PC 2

No post anterior, mostrei que muita gente já falava do fim do PC em meados dos anos 90. Procurando na minha biblioteca pessoal (física), achei um texto ainda mais antigo e mais preciso. Um artigo de Mark Weiser (PARC, Xerox) para a Scientific American de Setembro/91 intitulado "The Computer for the 21st Century". Vejam algumas linhas:

The most profound technologies are those that disappear. They weave themselves into the fabric of everyday life until they are indistinguishable from it.
...
The arcane aura that surrounds personal computers is not just a "user interface" problem. My colleagues and I at PARC think that the idea of a "personal" computer itself is misplaced, and that the vision of laptop machines, dynabooks and "knowledge navigators" is only a transitional step toward achieving the real potential of information technology. Such machines cannot truly make computing an integral, invisible part of the way people live their lives. Therefore we are trying to conceive a new way of thinking about computers in the world, one that takes into account the natural human environment and allows the computers themselves to vanish into the background.
Ubiquitous computers will also come in different sizes, each suited to a particular task. My colleagues and I have built what we call tabs, pads and boards: inch-scale machines that approximate active Post-It notes, foot-scale ones that behave something like a sheet of paper (or a book or a magazine), and yard-scale displays that are the equivalent of a blackboard or bulletin board.
...
My colleagues and I at PARC believe that what we call ubiquitous computing will gradually emerge as the dominant mode of computer access over the next twenty years. Like the personal computer, ubiquitous computing will enable nothing fundamentally new, but by making everything faster and easier to do, with less strain and mental gymnastics, it will transform what is apparently possible. Desktop publishing, for example, is fundamentally not different from computer typesetting, which dates back to the mid 1960's at least. But ease of use makes an enormous difference.

Enfim, foi no PARC que a revolução começou. Grande parte das ideias da Microsoft e da Apple saíram do renomado laboratório. Quem tinha visão sabia que o PC era apenas um meio e não o fim.

O autor menciona os "pads" e também o "knowledge navigator", um conceito da Apple celebrizado na gestão John Sculley, no final dos anos 80. (Não achei o meu exemplar do seu livro "Odisséia" aqui em casa. Livros demais ou memória de menos?)

Lembrar de John Sculley na semana em que Steve Jobs deixou a operação da Apple talvez não seja muito correto. Mas, se existe alguém no mundo que soube transformar os sonhos de tantos visionários da TI em realidade, esse homem é Steve Jobs.


Foto: A Place du Bareuzai em Dijon. A estátua, o carrossel e a mistura de estilos arquitetônicos marcam um dos locais mais animados da cidade. Literalmente, há séculos!

Saturday, August 27, 2011

RIP PC 1

Depois de muita espera, podemos dizer que a era pós-PC começou. Com a explosão dos dispositivos móveis, o PC passa a ter um papel secundário na nossa vida pessoal e profissional. Sabíamos que chegaríamos ao fim da era do PC, mas não exatamente quando e como.

Bill Gates, o grande vencedor da era PC, escreveu em "A Estrada do Futuro" (1995):

"É um pouco assustador, já que, à medida que a tecnologia dos computadores avançou, nunca o líder de uma fase permaneceu líder na fase seguinte. A Microsoft tem sido líder na fase dos microcomputadores. Portanto, a partir de uma perspectiva histórica, acho que a Microsoft não se qualifica para liderar a fase da estrada na Era da Informação. Mas quero desafiar a tradição histórica".

O fim da era PC aparece em muitos textos que pude pescar via Google:

1998 -  Relatório anual IBM
"The PCs reign as the driver of customer buying decisions and the primary platform for application development is over." (Lou Gerstner)

1998 - Economist
"WHISPER it quietly, the personal computer—the machine of the 1990s—will be entering its twilight years by the beginning of the new millennium."

1999 - BBC
"The biggest mistake of all, he says, is ignoring the mass-market customer - the average computer user who wants to use the web, without the bother of doing any technical homework."

1999 - Businessweek
"It's not just this slew of gee-whiz devices that will make information appliances commonplace. Mundane products already found in many homes will also get far smarter. Cameras, TVs, cell phones, and cable boxes are going digital, making it far easier to add new features that let them take on jobs now done by the PC--including Internet access."

2000 - CNN Money
"Likewise, a greater proliferation of Web-enabled devices such as cell phones and personal digital assistants over the next few years will further remove the consumer experience of computing from the desktop."

Parei nas citações do século passado. Dali em diante, o fenômeno era evidente.


Foto: Ainda em Dijon, a elegante Place Darcy, inspirada no modelo parisiense.

Saturday, August 20, 2011

Enquanto isso, no ar

Na última semana, o ator francês Gérard Depardieu foi objeto do escárnio generalizado, por ter urinado num corredor de avião. De acordo com a versão oficial, o incidente do vôo AF5010 deveu-se a um problema de próstata. Vamos acreditar na versão oficial e enviar votos de saúde ao eterno Obélix!

Alguns dias antes, a imprensa revelou um outro segredo dos vôos da AF. Quando DSK está a bordo, a companhia escala UM comissário para atendê-lo, afastando-o das comissárias. O passageiro é velho conhecido da companhia e possui um longo histórico de assédios.

Depois de muito voar por este mundo, garanto que, se DSK viajasse de United ou Delta, não haveria a menor preocupação com o assédio às aeromoças. Desculpem-me pela franqueza, mas a diferença entre as comissárias de empresas americanas e não americanas é gritante. Muitos brasileiros já perceberam, tanto é que criaram o termo "aerovelhas" para contrastar com as simpáticas e esbeltas "aeromoças". Mas, por que?

Nunca tinha parado para pensar. Uma vez, um conhecido arriscou: "Os americanos são maiores mesmo!". Sem comentários.

A ficha caiu recentemente. Por questões profissionais, percebi como a gestão de recursos humanos nos EUA exige uma série de cuidados para se garantir que os empregados não sejam discriminados. E isso é levado muito a sério. Deduzi que as companhias aéreas não poderiam escolher as suas profissionais com base na idade, peso, estado civil ou mesmo por um rostinho bonito.

De fato, é isso mesmo. Nos anos 70, as profissionais do ar se organizaram para assegurar seus direitos. A "Stewardesses for Women's Rights" existiu apenas por  4 anos, mas redefiniu o mercado de trabalho da categoria nos EUA através de uma série de ações legais e mobilizações. O mesmo não aconteceu no resto do mundo.

Veja este parágrafo da Wikipedia sobre o tema:

"Originally female flight attendants were required to be single upon hiring, and were fired if they got married, exceeded weight regulations, or reached age 32 or 35 depending on the airline. In the 1970s the group Stewardesses for Women's Rights protested sexist advertising and company discrimination, and brought many cases to court. The age restriction was eliminated in 1970. The no-marriage rule was eliminated throughout the US airline industry by the 1980s. The last such broad categorical discrimination, the weight restrictions, were eliminated in the 1990s through litigation and negotiations. By the end of the 1970s, the term stewardess had generally been replaced by the gender-neutral alternative flight attendant. More recently the term cabin crew or cabin staff has begun to replace 'flight attendants' in some parts of the world, because of the term's recognition of their role as members of the crew".

Enfim, é bom ser atendido por uma comissária bonitinha da Air France, Singapore Airlines ou TAM, mas por trás delas existe uma prática discriminatória, certamente não condizente com nossos manuais tão recentes de sustentabilidade.


Foto: A Rue de la liberté, eixo principal do núcleo histórico de Dijon.

Friday, August 19, 2011

Ops...

Os escândalos de corrupção certamente preocupam Dilma. Não foi à toa que cometeu dois atos falhos no mesmo dia. Diz a Veja: "Na hora de cumprimentar o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, chamou-o de Agnelo Rossi – sobrenome do ministro que tem dado mais dor de cabeça à presidente nas últimas semanas, Wagner Rossi, da Agricultura. Ao se referir a Alberto Broch, presidente da Contag, chamou-o de Alfredo, nome do ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento..."

Na terra de Sarkô e DSK, os atos falhos são de outra natureza. Bruce Hortefeux, ex-ministro e atual conselheiro do Eliseu, trocou "impressões digitais" por "impressões genitais", quando falava sobre o cadastramento dos imigrantes.

Já a ex-ministra Rachida Dati se entregou em duas oportunidades. Na primeira, no meio de uma entrevista sobre Economia, trocou "inflação" por "felação". Na segunda, falando sobre integração das minorias, trocou "code" (código) por "gode" (objeto em formato fálico).



Foto: A edícola que abriga o "Puits de Moïse" em Dijon, conforme mencionado no post anterior.

Thursday, August 18, 2011

Puits de Moïse

Na minha primeira passagem por Dijon, fiz o circuito básico da cidade. Também fui atrás do "Puits de Moïse" (Poço de Moisés), conforme a recomendação do Guia Michelin. Infelizmente, acabei não encontrando o famoso poço. Não havia nenhuma indicação para uma obra de arte tão importante. Era domingo, a cidade estava vazia, e não encontrei ninguém que soubesse dar informações. Resultado, andei, andei e andei. Conheci a cidade inteira e um belíssimo parque.

O poço é uma obra prima de Claus Sluter (1340-1405). Fazia parte da Chartreuse de Champmol, monastério que abrigava as tumbas dos Duques da Borgonha, transferidas posteriormente para o palácio mostrado (parcialmente) no post anterior.

De fato, o "Puits de Moïse" fica no interior de um complexo psiquiátrico e esteve fechado para visitação por longos anos. Vítima de diversos atos de vandalismo, passou por uma longa restauração e permaneceu com acesso restrito por muito tempo. O local só foi reaberto a visitação em 2010. Só soube disso quando estava de mudança de Lyon para São Paulo.

Voltei a Dijon em junho último para conhecê-lo. Percebi que a visita ainda não atrai multidões. Para ser mais preciso, eu era o único visitante naquela tarde. O lugar é tão amplo e belo que fica fácil esquecer que se trata de um hospital psiquiátrico. Assim como as tumbas dos duques da Borgonha me impressionaram em 2007 (como registrei no antigo fotolog), a visita ao "Puits de Moïse" também valeu à pena. Mais informações na Wikipedia.


Foto: A escultura de Claus Sluter que ornamenta o poço de Moisés.  A foto abaixo é um detalhe da foto acima.


Wednesday, August 17, 2011

iPocalypse

O termo IPocalypse retrata um cenário de pane geral da Internet pela falta de endereços IP. Esteve muito em voga, pois o sistema de endereçamento atual aproxima-se do seu limite e a transição para o novo faz-se necessária. Na esteira do IPocalypse, veio o iPocalypse, referindo-se a panes diversas no mundo Apple, que poderiam ocasionar perda de dados, perda de músicas, desconexão, etc.

Mais recentemente, o termo iPocalypse tem sido usado para retratar a nossa ligação com os smartphones, tablets e outros equipamentos móveis que carregamos para todos os lados. Pesquisas diversas - sérias ou não - convergem: As pessoas abririam mão de muitas coisas para ter ou manter seu iPhone, por exemplo.

O excesso de apego a tais gadgets, ícones do nosso mundo materialista, retrataria a decadência da nossa sociedade?

Discordo. Exageros à parte, é verdade que desenvolvemos uma certa dependência de tais gadgets, mas jamais por desvalorizar o contato humano ou menosprezar valores espirituais. Nós queremos simplesmente ser mais produtivos, mais rápidos e mais bem informados. É uma resposta a uma sociedade mais exigente e competitiva.

As pessoas não querem abrir mão dos seus smartphones, pois reconhecem a sua utilidade. Além de tudo - e está mais do que provado - se esses aparelhos nos ajudam um pouco, eles fornecem a milhões de pessoas do mundo inteiro algo ainda mais básico: A cidadania.

Talvez a sociedade decadente esteja na crise econômica, no aquecimento global ou na corrupção generalizada. Já os smartphones têm ajudado a derrubar ditaduras, mobilizar povos na defesa dos seus direitos e democratizar o acesso à informação. Considerando-se que apocalipse significa revelação, quem cunhou o termo talvez tenha acertado por linhas tortas.



Fotos: Ainda no feriado prolongado de junho deste ano, passei por Dijon (Borgonha). O motivo da visita será relatado mais para frente. Por enquanto, fiquem com algumas fotos das suas atrações principais. Acima, o coração da cidade, a Place de la Libération, diante do Palácio dos Duques de Borgonha.

Sunday, March 27, 2011

Enquanto isso, na Gália 2

Parte da minha viagem de volta da França foi feita de trem, de Nîmes a Paris. Tive a oportunidade de rever Nîmes - a primeira vez foi em 2007 - e as suas fotos ilustrarão os próximos posts.

A primavera já mostra a sua cara nos campos cortados pelo TGV. Além da temperatura amena, dias ensolarados, muito verde e algumas flores. As videiras do Rhône e da Borgonha já não são apenas aqueles arbustos secos e retorcidos do inverno.

- A França discute profundamente a questão nuclear. Sarkô prometeu fechar todas as usinas que não passarem numa nova reavaliação de segurança. O assunto Fukushima é acompanhado com muito cuidado no país, dada a sua dependência da energia nuclear. Um artigo do Le Monde coloca o acidente japonês como marco da destruição da Terra pelo homem e anuncia o fim do período antropoceno. Exagero?

- Chegando ao Brasil, soube que Roger Agnelli, o presidente da Vale, vai dançar graças à pressão do governo. Depois de alguns anos na França, já me acostumei com o governo colocando o dedo em tudo, mesmo quando se diz de direita. O maior acionista privado da Vale, o Bradesco, não vai reclamar, por que a privatização foi ajudada pelo BNDES, pelos fundos de pensão e o setor bancário vai muito bem, obrigado.

- Na revista do cinema do primeiro semestre de 2010, comentei sobre "Cópia Fiel", filme estrelado por Juliette Binoche, em cartaz em São Paulo. A crítica brasileira parece bem mais favorável do que a francesa. Em 2010, eu disse: "Juliette Binoche dá um show de interpretação...mas o filme é sofrível". Já com "Cisne Negro", observo o fenômeno inverso. Apesar de ser americano, o filme é extremamente bem apreciado pela crítica francesa e nem tanto pela brasileira. Passando por Paris e Lyon, assisti "Les Femmes du 6ème étage" e "Ma part du gâteau". Acho que ambos são melhores que "Cópia Fiel".


Foto: A última foto da Abadia de Fontenay mostra a fonte que orna o jardim atrás da sua igreja.

Friday, March 25, 2011

Enquanto isso, na Gália 1

Nas duas últimas semanas passadas na França, as principais novidades vinham do Japão e da Líbia. Entretanto, não posso deixar de comentar algumas novidades locais.

- O suposto escândalo de espionagem da Renault foi mesmo um factóide armado pelo homem de segurança do grupo, Dominique Gevrey. Como eu disse, virou um assunto de Estado com grande repercussão. O cidadão do mundo Carlos Ghosn foi à televisão pedir desculpas aos executivos demitidos. Tudo indica que sua cabeça esteja a prêmio.

- Domingo passado, tivemos eleições por aqui. Foram as eleições departamentais, conhecidas como “cantonales”. A abstenção de 56% foi marcante. A extrema direita conseguiu mesmo ganhar espaço, numa eleição vencida pelo PS e seus aliados. Enfim, foi mais uma grande demonstração de aversão à gestão atual.

- Estava eu no centro de Nîmes, quando vi o carro do Google Street View vasculhando a pequena cidade de origem romana. Como se não bastasse a Googlefobia gaulesa, a Comissão Nacional de Informática e Liberdade aplicou uma multa de 100 mil euros no Google. A multa não se deve às imagens coletadas pelo Street View, mas pelos dados pessoais absorvidos via wifi.


Foto: A penúltima foto da Abadia de Fontenay, um lugar realmente excepcional. Parecia estar num campus de uma antiga universidade.

Monday, March 21, 2011

Nem fóssil nem físsil

Os acidentes nucleares do Japão geraram uma onda de questionamento desta forma de energia no mundo inteiro. Na Europa, o destaque é a França, o país que mais depende desta fonte em todo o planeta (74%). Excluindo-se, obviamente, os verdes, as posições contrárias à energia atômica não são vinculadas nem à direita nem à esquerda. Vozes de todos os partidos clamam pela discussão.

Até antes do episódio nipônico, a França estava bem na foto com a sua independência energética. Trocou o fóssil pelo físsil. Areva e EDF têm apresentado propostas no mundo inteiro, vendidas pessoalmente pelo Presidente. Por incrível que pareça, as fazendas de energia eólica e solar despertavam mais controvérsias do que as usinas atômicas. Elas se instalaram de forma desordenada, gerando uma série de conflitos com agricultores e pequenas cidades.

Ao contrário da Alemanha e da Itália, que já preparam a sua despedida do átomo, a França não deve fazê-lo tão cedo. Talvez interrompa a sua expansão. Entretanto, a tragédia japonesa nos ensina, mais uma vez, que não se brinca com energia nuclear.

Apesar da imagem de seriedade da sociedade japonesa, os escândalos na gestão do seu patrimônio nuclear não são recentes. Houve uma série de pequenos acidentes em suas usinas nas duas últimas décadas. Todos convenientemente abafados. O Brasil não faria pior.

Se a energia nuclear já é uma atividade intrinsecamente arriscada, qualquer ingerência humana a torna incontrolável. Talvez, por isso, muita gente prefira nem confiar nela. Energia nuclear não combina com gestão empresarial. Combina com segurança ao extremo, redundância, controles e mais controles, etc.

Enfim, o modelo francês com duas estatais gordas e pouco preocupadas com produtividade é o menos ruim para se explorar a energia nuclear. A França poderá aumentar ainda mais seus requisitos de segurança e começar a pensar num portfólio mais variado de fontes de energia.

Se queimar petróleo e seus derivados é um crime contra o planeta, quais seriam as alternativas? A combinação de fontes de energias limpas e renováveis está aí para ficar. Também acho que um grande projeto para se diminuir as perdas no transporte e consumo da energia seria muito importante.



Foto: Um outro prédio histórico da Abadia de Fontenay (Borgonha).

Saturday, March 19, 2011

No mercy!

O bombardeio aliado contra a Líbia começou esta tarde. A aviação francesa, ansiosa para promover o Rafale, fez os primeiros ataques. Não posso afirmar se Sarkô fez algum ponto. Veremos nas próximas semanas.

Todos querem acabar com o Kadafi. Eu também. Se o terremoto japonês não desviou a nossa atenção da Líbia, esta operação militar certamente servirá de cortina de fumaça para as demais revoluções árabes. No Bahrein, Síria, Arábia Saudita e Iêmen, a oposição será esmagada. Como diria o próprio Kadafi: “No mercy”.

A França e a Inglaterra não amam os líbios e nem são “valentões”, mas quando Kadafi mostrou que seria capaz de exterminar a sua própria população, as vozes mais sensatas da Europa gritaram. A campanha de Bernard-Henri Lévy foi marcante aqui na França. Além do mais, a Líbia está a um passo das bases da OTAN e possui uma defesa obsoleta. Até tem alguns aviões, mas os pilotos sumiram! O petróleo da Líbia também não é tão preocupante.

Sorte para a resistência da Líbia, azar dos outros. Os demais ditadores árabes - e o persa também - sabem que o Ocidente tem poucas balas. Poderão “descer o cacete” à vontade por mais algumas semanas.


Foto: Uma outra tomada da Abadia de Fontenay, com a sua igreja ao fundo.

Sunday, March 13, 2011

Direita, volver!

Espero que a catástrofe japonesa não tire as nossas atenções dos países árabes. Não podemos dar folga para o Khadafi. Enquanto os EUA e a ONU hesitam, o pequeno Nicolas se empenha para liderar uma ação militar européia contra o ditador. Quem diria!

O esforço do presidente é visto pela própria imprensa francesa como "mise en scène". Depois do desgaste na Tunísia e no Egito, o governo francês quer apagar a impressão de que está sempre do lado dos ditadores. Impressão não, fato. Mas, sejamos justos, não é exclusividade da França.

A maior ducha de água fria para Sarkô foi a divulgação das primeiras pesquisas relativas às eleições presidenciais de 2012. As duas primeiras apontaram a vitória da extrema-direita, liderada por Marine Le Pen. Confesso que sempre encarei esta política como personagem folclórico, assim como seu pai. Jamais imaginei que pudesse entrar numa corrida presidencial. Parodiando o intelectual George W. Bush, a Marine é a mais pura representação da "França profunda".

Felizmente, a terceira pesquisa já aponta a vitória do atual presidente do FMI, Dominique Strass-Kahn, do PS. Todas as três pesquisas indicam que o atual presidente não chegaria ao segundo turno.

Apesar de ser muito cedo para se tirar quaisquer conclusões, é um sinal relevante do descontentamento da população. Sarkô tentou seduzir eleitores de um amplo espectro político, se esforçou para melhorar a sua imagem e jogou para a torcida. Porém essas coisas não colam muito na França.

Passo as próximas duas semanas por lá, bastante curioso para decifrar melhor essa ascensão da extrema direita francesa. A bientôt!



Foto: Ainda na Abadia de Fontenay (Borgonha), o claustro da igreja.

Saturday, March 5, 2011

Ex-cola 2.0

Nas últimas semanas, dois casos comprovados de plágio foram muito comentados. O primeiro foi o do Professor Andreimar Soares na USP (Ribeirão Preto). O segundo, do ex-ministro alemão Karl-Theodor zu Guttenberg, da Universidade de Bayreuth . Também tivemos o caso de Saif Al-Islam Kadafi, suspeito de plágio na sua tese de doutorado na London School of Economics. Porém, deste último, não esperávamos muita coisa.

Andreimar e Karl-Theodor se deram mal, muito mal. Seus nomes estão na latrina. Que sirva de exemplo para o mundo inteiro, sobretudo para quem ainda está nos bancos escolares. Plágio não é invenção do século XXI, mas presume-se que as facilidades trazidas pela tecnologia da informação facilitaram a vida dos maus estudantes e profissionais das mais diversas áreas. É o mundo do "copiar e colar" atropelando a ética.

Felizmente, a própria tecnologia, que tanto facilita a cópia, dá meios para controlá-la. Existem dezenas de ferramentas sendo usadas para se detectar o plágio. Limitadas ou não, certamente têm ajudado. Entretanto, o caminho não é por aí.

Em 2009, escrevi o post "Ex-cola", que ainda é atual. No meu tempo de estudante, o máximo que se discutia era o uso de calculadoras em determinadas disciplinas. Hoje, com um dispositivo bem menor do que aquelas calculadoras, temos pleno acesso a Internet.

A questão maior não é colar ou não colar, copiar ou não copiar, mas se os cursos estão adaptados para esse novo mundo. Não adianta fugir da realidade, o conhecimento factual estará sempre na palma da mão e cada vez mais acessível. As escolas devem necessariamente mudar seus currículos e métodos. Quando um estudante enfrenta o dilema de colar ou não colar, já é tarde demais. Errou na escolha da escola, do curso ou do professor.


Foto: Em Fontenay, acima, a vista frontal da igreja. Abaixo, o seu interior.


Saturday, February 26, 2011

E nós com isso?

Quando escrevi o post "dominó árabe", sabia da possibilidade de contágio das manifestações da Tunísia nos países vizinhos, mas tinha dúvidas. Era só possibilidade. A queda dos governos da Tunísia, Egito e Líbia (ops!) são fatos históricos consideráveis.

Os especialistas dividem-se quanto à proliferação dos movimentos populares. Uns acham que fica por aí mesmo. Outros, acreditam que até a poderosa Arábia Saudita, o "duplo seis" do dominó, pode tremer.

Esta onda de democracia provavelmente desperta simpatia de todo mundo, inclusive dos leitores deste blog. Quem não gosta de ver ditadores caindo em série? Mas, nem tudo que é bom para os árabes é bom para o resto do mundo.

A imprensa está explorando bem a probabilidade de surgirem novos Irãs nessa região do planeta, do Marrocos ao Golfo Pérsico. O aparecimento de regimes hostis ao Ocidente ainda é um resultado menos importante do que um novo choque do petróleo, algo com impacto direto no nosso tão sensível bolso.

A escalada dos preços do petróleo pode trazer muitas notícias ruins para as combalidas economias da Europa e dos Estados Unidos. Até a China, que empurra a economia brasileira, seria muito afetada. E o Brasil, que já está apertando o cinto para corrigir a irresponsabilidade fiscal de 2010, também será convidado a participar dessa crise.

Enfim, é muito bacana ver os ditadores árabes caindo em série, mas, parodiando Ferreira Gullar, não dá para ser feliz e ter razão.


Foto: Alguns prédios da Abadia de Fontenay datam da sua fundação no século XII, como a sua igreja. Na foto, a vista lateral da mesma.


Saturday, February 19, 2011

Ballmer & Obama

A imprensa especializada questionou: "Por que Steve Ballmer, da Microsoft, não foi convidado para encontro com Obama?" Aí vão minhas dez respostas:

1) Por que Ballmer mandou um micro com Windows 7 e Office 2010 para a Casa Branca e já deu pau. Obama está louco da vida.

2) Por que a Casa Branca tem um plano para adoção de Linux em toda máquina pública norte-americana e não quer constrangê-lo.

3) Por que todos os convidados têm iPhone e Ballmer ficaria constrangido em aparecer com um telefone finlandês.

4) Por que a Microsoft teria dado maior apoio aos republicanos.

5) Por que é difícil convencer o Steve Ballmer de que ele não seria a pessoa mais importante no jantar.

6) Por que os flashes refletidos pela cabeça do Ballmer ofuscariam completamente o Obama.

7) Por que foi tudo uma armação do Larry Ellisson, outro ego a altura do Ballmer.

8) Por que a Microsoft já é vista como uma empresa tradicional. Será convidada para o jantar com a IBM, HP e Dell.

9) Por que Ballmer descobriu que, no jantar, usariam iPads como "sousplats".

10) Por que o clubinho do Vale do Silício já existe há tempos e o convidado é o Obama e não o inverso!



Foto: Iniciando uma série de fotos da Abadia de Fontenay, um dos meus últimos passeios na França, em outubro último.

Wednesday, January 12, 2011

"E assim se passaram 10 anos"

Depois de passar a régua em 2010, relembrei do saudoso ano 2000. Para nós, informáticos, será sempre o inesquecível ano do "bug". Também foi o ano da bolha da Internet, além de tantos outros eventos curiosos. Por exemplo:

- A queda do Concorde (109 vítimas)
- O "naufrágio" do submarino russo (118 vítimas)
- A tumultuada de reeleição George Bush
- O repique da crise da vaca louca na Europa
- A qualificação da Grécia para entrada na zona do Euro
- O ataque ao USS Cole no Iêmen (17 vítimas) pela Al-Qaeda
- Reunião entre as Coréias, a primeira desde 1945, garantindo o Nobel da Paz daquele ano para Kim Dae-jung

O que aconteceu nos anos seguintes ainda está na memória dos leitores. Naquele ano, ninguém dava muita bola para a Al-Qaeda, a adesão de novos países ao Euro era muito festejada e a aproximação das Coréias anunciava a era de Aquário no extremo oriente.

Nessa retrospectiva, contudo, o que mais chamou a minha atenção foi a síntese da nostálgica Britannica sobre a situação americana à época: "The United States stormed into 2000 full of energy and confidence, its economy purring, its world leadership role unchallenged, and its two-century-old democratic experiment still vigorous. Incidence of crime, welfare dependency, and joblessness were down, and the stock market was soaring."

Definitivamente, alguma coisa mudou em dez anos.


Foto: Uma vila anônima do interior da Borgonha, no caminho para o Château de Bazoches.

Saturday, January 8, 2011

Espionando a Renault

Casos de espionagem corporativa raramente são notícias de primeira página. Afinal, uma empresa espionada ou desfalcada prefere proteger a sua reputação. Prefere mostrar que tem empregados honestos, bons sistemas de informações e controles internos confiáveis. Por essas e outras, a repercussão do caso Renault chama a atenção.

Um leitor desavisado, poderia pensar: Se fosse para espionar uma indústria automobilística, iria atrás da BMW e não da Renault! É fato que o grupo Renault-Nissan está com uma boa dianteira no campo dos carros elétricos, alvo dos espiões. Apesar da crise profunda por que passou, ele conseguiu alavancar a experiência da Nissan e está com perspectivas promissoras neste campo.

Seria a China a grande beneficiária da espionagem? Pode ser, pois a China não tem muitos escrúpulos para conquistar terreno no capitalismo mundial. Com certeza, eles espionam, assim como muitas empresas de outros países também o fazem. Porém, acredito que a China seja muito diferente da antiga URSS, que dependia quase que totalmente de meios escusos para alimentar seu progresso técnico.

Enfim, face à intimidade da Renault com a turma do Sarkozy, face ao delicado momento europeu e face à incapacidade de se lidar com a China, não consigo parar de pensar que o destaque para este caso tem caráter manipulatório. Digamos que seja um cabritinho expiatório.


Foto: Mais uma tomada do Château de Bazoches, na Borgonha.

Monday, January 3, 2011

BHL & Battisti

A última decisão do governo Lula foi a negação do pedido de extradição de Cesare Battisti feito pela Itália. Confesso que mal pude acompanhar o assunto. Percebi que muita gente queria o italiano fora do Brasil. O assunto é complexo.

Neste post, quero compartilhar a carta que Bernard-Henri Lévy (BHL), filósofo mais renomado da França na atualidade, enviou ao então presidente Lula, divulgada no seu blog nesta tarde. Já mencionei BHL inúmeras vezes neste blog. Ele pode não ter razão em tudo que escreve. Mas, quando defende uma causa em público, quase sempre está certo.


Ao Exmo. Senhor LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Presidente da República Federativa do Brasil

Prezado Presidente Lula

Tenho conhecimento que o debate sobre o caso Cesare Battisti, antigo militante dos Proletários Armados pelo Comunismo, acusado de atos de terrorismo na Itália nos anos setenta, causa indignação no seu país. Eu também sei que pelas leis das instituições brasileiras, a última palavra no seu ordenamento democrático, tendo em vista a divisão de opiniões, no seio da Suprema Corte, fazem que caiba ao Senhor, e apenas ao Senhor, o poder de decidir se esse velho militante, que se tornou um escritor de sucesso, deve ou não ser extraditado para a Itália.

Senhor Presidente, inicialmente gostaria de lhe dizer que ninguém mais do que eu tem horror ao terrorismo. E desejo deixar claro que a luta contra esse terrorismo, a luta contra o direito que alguns se atribuem, nas democracias, de fazer, eles próprios, a lei e de recorrer às armas para fazer com que suas vozes sejam ouvidas, é uma das constantes, talvez a constante de toda a minha vida de homem e de intelectual.

No entanto, se me dirijo a Vossa Excelência é exatamente porque não está provado que Cesare seja esse terrorista descrito por uma parte da imprensa italiana e, cujos crimes, se ele tivesse cometido, não mereceria nenhuma indulgência.

Ele foi condenado como tal, eu bem sei, por um Tribunal legalmente instituído, num país onde não imagino, em nenhum momento, colocar em dúvida o seu caráter democrático. Mas, até nas melhores democracias pode acontecer de – como no caso da França na Guerra da Argélia – encontrarmos fracassos e injustiças.

E o processo de Cesare Battisti, esse processo que o reconheceu culpado, com apenas 21 anos, pelas mortes de Santoro e Campagna levantam, nessa circunstância, ao menos três questões – as quais um homem imbuído de justiça e de direito, como Vossa Excelência, não pode ficar insensível.

O primeiro ponto de testemunhos e provas produzidos pela acusação e sobre a palavra daqueles que Batistti foi condenado são, essencialmente, testemunhos de arrependidos, quer dizer, de verdadeiros criminosos que trocaram, à época, suas próprias condenações pela denúncia premiada de alguns de seus camaradas. Cesare Battisti fugiu para o México, depois para a França, quando o arrependido Pietro Mutti imputou-lhe a totalidades dos crimes da organização, na qual eles militavam. Todos os observadores que tiveram conhecimento do caso não acreditam ser possível nem verossímil que um jovem de 20 anos tenha cometido tais crimes.

A segunda questão diz respeito ao principio da justiça italiana e ao fato que, contrariamente ao que se passa no vosso país e no meu, os condenados à revelia não têm, mesmo se forem capturados, se entregaram ou se forem extraditados, direito a um novo processo, no qual possam apresentar suas razões de defesa. Também, se Vossa Excelência decidir recusar a Cesare Battisti o status de refugiado e se deixar, então, que ocorra o procedimento de extradição, ele iria, assim que voltasse para a Itália, direto para a prisão perpétua (pois que há uma pena, sem apelação, na qual ele foi pronunciado num processo à revelia). E será o único condenado à prisão perpétua que jamais teve a possibilidade de encontrar seus juízes e de poder fisicamente, confrontar com seus acusadores e responder, em pessoa, cara a cara, sobre os crimes que lhe são imputados.

E pois, eu acrescento, finalmente, esse detalhe sobre o qual, o mínimo que se pode dizer é que não é apenas um detalhe: Cesare Battisti nega os crimes que lhe são imputados. Numerosos são os seus colegas escritores e numerosos são os juristas que, após o exame do processo, acreditam ser plausível sua inocência. De sorte que corremos o risco de ver terminar seus dias na prisão um homem cujo único crime seria, neste caso, ter acreditado, durante sua juventude, nas teorias da violência revolucionária.

Eu amo o Brasil, Senhor Presidente. Amo o exemplo que ele dá ao mundo de uma política fiel aos ideais progressistas e, ao mesmo tempo, aos princípios de equilíbrio e sabedoria. E eu ficaria consternado – nós somos no mundo numerosos que ficaríamos consternados – de ver “nosso” Lula se afastar de uma tradição de acolher os refugiados, que é um dos orgulhos de seu país.

Extraditar Battisti criaria um perigoso precedente. Não extraditá-lo mostraria ao mundo, que tem os olhos fixos sobre o Brasil e sobre Vossa Excelência, que existem princípios que não podem ser suplantados por Razões de Estado nem pela lógica dos Monstros sem emoção.

Eu peço a Vossa Excelência que aceite, Senhor Presidente, a expressão de minha simpatia, de minha admiração e de minha ardorosa esperança.

(Assinado) Bernard Henri Lévy.



Foto: Continuando na Borgonha, eis o Château de Bazoches (século XII). A fama do castelo deve-se ao fato de ter sido residência do Marechal Vauban no século XVII, militar que concebeu grande parte do sistema defensivo francês nos anos áureos do reinado de Luís XIV.

Thursday, December 30, 2010

Translate the Fockers

Preparando um dos meus recentes posts sobre cinema, cruzei com o trailer do filme "Entrando Numa Fria Maior Ainda com a Família" ou "Little Fockers", segundo seu título original. Não sei se esse tipo de humor satisfaz o leitor deste blog, porém eu me diverti com as versões dos títulos da série estrelada por Ben Stiller em diversas línguas latinas, português do Brasil (BR) e Portugal (PT), francês (FR), italiano (IT) e espanhol (ES). Vejamos:

Meet the parents (2000)
BR: Entrando Numa Fria
PT: Um sogro do pior
FR: Mon beau-père et moi
IT: Ti presento i miei
ES: Los padres de ella

Meet the Fockers (2004)
BR: Entrando Numa Fria Maior Ainda
PT: Uns Compadres do Pior
FR: Mon beau-père, mes parents et moi
IT: Mi presenti i tuoi?
ES: Los padres de él

Little Fockers (2010)
BR: Entrando Numa Fria Maior Ainda com a Família
PT: Não Há Família Pior!
FR: Mon beau-père et nous
IT: Vi presento i nostri
ES: Ahora los padres son ellos

O melhor de tudo é a tradução do sobrenome Focker. Vejam o que eles têm usado por aí:

BR: Fornicas (às vezes com k) e Pinto
PT: Respeita-se o original Focker
FR: Furnicker na versão dublada e Focker na legendada
IT: Fotter
ES: Follen

Não escrevi este post tão sugestivo hoje pensando em f.... o seu reveillon. Pelo contrário, desejo a todos um ótimo e divertido 2011!


Foto: Para fechar a série do Château de Bussy-Rabutin, na Borgonha, uma tomada um pouco mais próxima da sua entrada.