Friday, May 29, 2015

Bons de bola

Antes de escrever essas linhas, conferi o que já havia dito sobre futebol neste blog. Em geral, meus comentários são negativos. Muito negativos.

“A Copa é rifada entre um grupo seleto de países e a FIFA é quem sempre ganha”

“O problema do futebol é o problema do Brasil: incompetência e corrupção. Não há fórmula que resista a esses dois males”

“Embora a fórmula do torneio seja muito sólida, tudo que está a sua volta fede. Fede muito”

“A FIFA é tão vilã quanto nossos craques, times, televisões, federações e outras entidades. Um depende do outro”

“Tudo o que leva o nome da FIFA tem sido motivo de piada”

Não mudaria nada. As recentes notícias do mundo do futebol evidenciam tais comentários. Mesmo que os EUA tenham seus interesses em desmoralizar a poderosa organização baseada na Suíça, as feridas serão irreversíveis.

O mundo do futebol vai rachar. É aquela trágica sina das organizações mafiosas. Chega uma hora, os bandidos começam a delatar uns aos outros. O futebol terá a sua “Lava-Jato”.

Boa parte do problema da FIFA não é comparável à bandidagem petista. Muita coisa foi construída na base da esperteza, da malícia e até de muito talento, sempre nos limites da legalidade.

Um dos maiores pecados da FIFA, no entanto, é fechar os olhos. Apesar de suas desmedidas ambições pecuniárias, o sistema do futebol possui milhares de atores roubando, desviando e sonegando. Nem a FIFA poderia sonhar com algum controle sobre tamanha roubalheira.

Não adiantar comemorar a prisão do Marin e fechar os olhos para o que acontece nos nossos clubes. Assim como a boa Política começa com a supervisão direta dos nossos representantes, o bom futebol começa nos clubes. Nos EUA, o Neymar estaria em cana.  Tem que prender todo mundo!


Foto: Ainda nos jardins do Domínio Real de Mariemont.

Saturday, May 2, 2015

Crônica ferroviária


Tirando as greves, são raros os momentos em que o sistema ferroviário europeu não funciona como um reloginho. 

Em 2007, passei um sufoco. Houve uma sequência de atrasos por motivos técnicos nas minhas viagens entre Paris e Lyon. Atraso, segundo a companhia francesa, é algo superior a 20 minutos. O resto está dentro da variabilidade. Recebi várias indenizações naquele verão.

Numa das viagens, um problema técnico exigiu a redução da velocidade do trem. Parece pouca coisa, entretanto, sair de 330 km/h para 150 km/h representou um atraso de quase 2h. Nunca cheguei tão atrasado a um evento. Por sorte, havia outros convidados de Lyon no mesmo trem e a organização do evento administrou o imprevisto.  

Depois de 2007, nunca mais tive uma sequência tão azarada. Nesses últimos dias, no entanto, as greves belgas pregaram uma peça em muitos colegas. Houve também problemas técnicos. 

Na última sexta, voltando para Bruxelas e devidamente sentado na poltrona do Thalys, recebi vários SMS: “atraso estimado de 15 minutos” ; “atraso estimado de 30 minutos”; “atraso estimado de 45 minutos”; etc. A tabuada do 15 foi até 165! 

Teve de tudo nessas quase 2 horas: troca de trem, ar condicionado desligado e bar fechado. O que mais me impressionou é que ninguem fez um piu. Todos bem comportados, sem reclamação, sem aumentar do volume de voz, etc. Coisa de belga mesmo.

Os momentos mais próximos de stress nos vagões franco-belgas ocorrem quando alguém pega o lugar do outro. Nessas situações, geralmente tem um estrangeiro envolvido. Seja aquele perdido no trem ou aquele que não sabe que os passageiros frequentes podem mesmo sentar-se onde quiser. Já vi muitos brasileiros estressando-se à toa.

E por falar em brasileiros, enquanto escrevi esta crônica ferroviária, lembrei do nosso ex-futuro-trem-bala ligando Rio e São Paulo. Alguma notícia?



Foto: Domínio Real de Mariemont, a uma hora de casa, um lugar bacana para um domingão ensolarado.