O recente escândalo em torno dos acionistas da L'Oréal é refresco perto da saga familiar dos Schueller-Bettencourt, que inclui passagens misteriosas, até hoje mal compreendidas. E é melhor que permaneçam assim, para evitar que algumas feridas da sociedade francesa voltem à tona.
Eugène Schueller, fundador da L'Oréal, era um fascista de mão cheia, um dos líderes da organização secreta "La Cagoule", inspirada na KKK americana. Os escritórios da empresa francesa foram sede das mais diversas conspirações. Não demorou muito para que Eugène encontrasse o menino prodígio do colaboracionismo, André Bettencourt, um antissemita convicto, que trabalhava diretamente para a cúpula do Reich. Juntos, lutaram por uma França livre de comunistas, maçons e judeus. A empresa, leal a Vichy e a Hitler, prosperou imensamente durante a Segunda Guerra.
Após desentendimentos internos dos colaboracionistas franceses e o declínio alemão, André mudou de lado. Ao final da guerra, estava entre os resistentes, assim como outros oportunistas de última hora (e.g. François Mitterrand). A sua esperteza foi vital para salvar Eugène e outros colaboracionistas do virtual fuzilamento. Assim como, a própria L'oréal.
A retribuição de Eugène foi imensa. André foi agraciado com posições importantes dentro do grupo. E, mais para frente, esposa a sua única filha, a famosa Liliane.
Eugène usou o grupo L'Oréal para salvar amigos da Cagoule. A essa altura, era um dos maiores acionistas da Nestlé, que também foi usada para os mesmos fins. Faleceu em 57, deixando Liliane como herdeira e mulher mais rica da França desde então.
Ao final dos anos 40, André começa uma comportada carreira política. Sessenta anos de dedicação à vida publica, honrarias e distinções, enterraram a sua vida pregressa.
L'Oréal e Nestlé foram devidamente profissionalizadas e hoje são líderes mundiais em seus setores. André faleceu em 2007. A vida ainda lhe proporcionou uma última surpresa. Françoise, sua única filha com Liliane, casou-se com um judeu, cujos avós morreram em Auschwitz. Os dois netos de André foram educados na melhor tradição judaica. Mazal tov!
Bem, o resto da história vocês conhecem. Os relacionamentos da viúva Liliane, a briga entre ela e Françoise, a contribuição de campanha para Sarkô, as contas na Suíça e a corrupção do ministro são coisas que vocês lêem todos dias nos jornais. Portanto, vou poupá-los. Porque nós valemos muito.
Foto: Acima e abaixo, duas tomadas do centro de Kaysersberg, com especial atenção à ponte fortificada sobre o Weiss (1514).
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