Showing posts with label Fascismo. Show all posts
Showing posts with label Fascismo. Show all posts

Wednesday, June 11, 2014

É amanhã!


Voltei! 

A minha série de viagens ainda vai até julho. Sem tréguas. Passo por Guarulhos todo fim de semana. Ou estou indo ou voltando. Até mesmo voltando e indo num mesmo fim de  semana!

Nessa longa ausência, pensei em escrever muita coisa do que vi na Europa e no Brasil. 

Quase escrevi um post sobre as eleições europeias. Vocês viram que a forte abstenção do eleitorado permitiu a eleição de mais representantes da extrema direita. O pior de tudo é que a imprensa dá muita atenção a eles. Eles falam barbaridades. Na lógica populista, estão no lucro. Lamento pelo espaço que recebem: “Falem mal, mas falem de mim”.

Quase escrevi um post sobre o atentado terrorista ocorrido em Bruxelas. O suspeito já foi detido. Como se não bastasse o baile que deu no serviço secreto francês, só agora o governo admitiu que suas prisões sejam academias de terrorismo islâmico. Eu e toda a torcida do PSG, do Lyon e do Marseille já sabíamos. Tem até filmes com essa temática. 

Quase escrevi sobre a Alstom. Nada a ver com as investigações em curso no Brasil. A empresa esteve no centro das atenções. Primeiro, foi a mega encomenda de trens do governo francês dividida entre Alstom e Bombardier. Trens novíssimos. Tão novos que nem passam pelas estações existentes! 

Depois, diante de uma tentativa de aquisição da Alstom pela americana GE, a classe política e empresarial gaulesa uniu-se para mantê-la sob controle nacional. Cá entre nós, a GE deveria agradecê-los!

Finalmente, a Copa, um assunto onipresente. Aqui na Europa, o envolvimento da população não chega ao mesmo patamar do Brasil, mas estão todos ligados. Já me convidaram até para participar de alguns bolões.

Ontem à noite, rodando pelos canais das TVs europeias, passei por três documentários sobre o Brasil e a sua Copa. Cheios de clichês sobre favelas, mas ainda assim muito interessantes. Apesar de mostrar algumas das mazelas brasileiras, a visão é mais otimista do que a nossa. 

Comentei sobre o ressentimento dos brasileiros contra a FIFA num post anterior. A imprensa mundial pegou o gancho dos protestos brasileiros para também atacar a entidade, com um histórico pouco invejável de denúncias de corrupção. A batalha da crítica internacional é outra, por transparência e governança. O que importa é que estão todos contra a FIFA e esta Copa deve balançar as coisas na Suíça.

Às vésperas do Mundial, lembro dos inúmeros artigos que apareceram na imprensa e blogosfera sobre o entusiasmo de parte da população com a Copa. Confesso que, em outras Copas, comecei com indiferença, mas acabei contagiado. Não tem como!

Cada um que torça ou não torça do seu jeito. Não faço a menor ideia do que vai acontecer nos próximos dias do ponto de vista esportivo, organizacional, institucional ou social. Que seja o melhor para o Brasil. Alea jacta est!



Foto: Entre as ruelas do centro velho de San Sebastian, o esplendor barroco.

Thursday, July 8, 2010

Porque nós valemos muito

O recente escândalo em torno dos acionistas da L'Oréal é refresco perto da saga familiar dos Schueller-Bettencourt, que inclui passagens misteriosas, até hoje mal compreendidas. E é melhor que permaneçam assim, para evitar que algumas feridas da sociedade francesa voltem à tona.

Eugène Schueller, fundador da L'Oréal, era um fascista de mão cheia, um dos líderes da organização secreta "La Cagoule", inspirada na KKK americana. Os escritórios da empresa francesa foram sede das mais diversas conspirações. Não demorou muito para que Eugène encontrasse o menino prodígio do colaboracionismo, André Bettencourt, um antissemita convicto, que trabalhava diretamente para a cúpula do Reich. Juntos, lutaram por uma França livre de comunistas, maçons e judeus. A empresa, leal a Vichy e a Hitler, prosperou imensamente durante a Segunda Guerra.

Após desentendimentos internos dos colaboracionistas franceses e o declínio alemão, André mudou de lado. Ao final da guerra, estava entre os resistentes, assim como outros oportunistas de última hora (e.g. François Mitterrand). A sua esperteza foi vital para salvar Eugène e outros colaboracionistas do virtual fuzilamento. Assim como, a própria L'oréal.

A retribuição de Eugène foi imensa. André foi agraciado com posições importantes dentro do grupo. E, mais para frente, esposa a sua única filha, a famosa Liliane.

Eugène usou o grupo L'Oréal para salvar amigos da Cagoule. A essa altura, era um dos maiores acionistas da Nestlé, que também foi usada para os mesmos fins. Faleceu em 57, deixando Liliane como herdeira e mulher mais rica da França desde então.

Ao final dos anos 40, André começa uma comportada carreira política. Sessenta anos de dedicação à vida publica, honrarias e distinções, enterraram a sua vida pregressa.

L'Oréal e Nestlé foram devidamente profissionalizadas e hoje são líderes mundiais em seus setores. André faleceu em 2007. A vida ainda lhe proporcionou uma última surpresa. Françoise, sua única filha com Liliane, casou-se com um judeu, cujos avós morreram em Auschwitz. Os dois netos de André foram educados na melhor tradição judaica. Mazal tov!

Bem, o resto da história vocês conhecem. Os relacionamentos da viúva Liliane, a briga entre ela e Françoise, a contribuição de campanha para Sarkô, as contas na Suíça e a corrupção do ministro são coisas que vocês lêem todos dias nos jornais. Portanto, vou poupá-los. Porque nós valemos muito.


Foto: Acima e abaixo, duas tomadas do centro de Kaysersberg, com especial atenção à ponte fortificada sobre o Weiss (1514).