Tinha
ingressos para um show ontem à noite, mas o espetáculo foi cancelado. Por
ironia, estava em Paris no final de semana passado, onde também não pude fazer o
meu programa cultural.
Mesmo sem
saber da anulação do show de ontem, confesso que estava preocupado. Vou ou não
vou? A ameaça terrorista está sendo levada tão a sério entre a França e a
Bélgica, que a tradicional Fête des Lumières de Lyon foi cancelada.
Após uma
semana de debates intensos, fiquei muito satisfeito ao perceber que o meu último post, escrito ainda sob o impacto da tragédia, foi bem razoável na análise,
apesar da sua brevidade.
No quadro
externo, há um amplo entendimento de que é preciso atacar militarmente o
Exército Islâmico, cortar suas fontes de financiamento e inibir seu poder de
recrutamento, entre outras ações.
No quadro
interno, as discussões são mais intensas. Há obviedades como reforçar a vigilância e a inteligência, porém, a unanimidade para por aí. Apesar dos últimos atentados,
muitos ainda preferem um pleno respeito às liberdades individuais e à igualdade.
Nada de sair prendendo uns barbudos perigosos por aí.
Não tinha
percebido duas coisas no momento dos ataques. A primeira é o grau de perversidade
dos terroristas. Esses monstros costumam circular entre a Europa e o Oriente Médio
quando e como querem. Entretanto, fizeram questão de deixar um rastro associado
à entrada de refugiados. Por que dar um presentinho desses aos “irmãos” sírios,
que viram as portas fecharem-se em vários países nos últimos dias? Os terroristas
sabem que a questão dos refugiados é um debate que divide a Europa. Pegaram na
ferida.
A outra
coisa que deixei escapar foi o papel da Bélgica. Quer dizer, eu, o povo e o
governo belga. Se o Oriente Médio é a universidade do terrorismo, a Bélgica é a
sua pós-graduação. A Bélgica dormiu no ponto e permitiu a criação de guetos
favoráveis à radicalização. Os rastros dos últimos atentados graves ocorridos na França
passam por Bruxelas.
Num final
de semana em que pude ler todos os jornais, encontrei sábias palavras de uma executiva
belga e muçulmana no L’Echo de sábado: “A Bélgica paga hoje o preço de uma pesada
herança deixada por aqueles que preferiram a política do avestruz e do
clientelismo com fins puramente eleitorais”.
Já escrevi sobre isso nos posts que sucederam outros atentados. É o mesmo comunitarismo
denunciado na França. Políticos abrem mão da laicidade para fazerem concessões
à comunidade islâmica a fim de obter seus votos.
Quanto mais enraizado estiver
o islamismo radical, mais difícil combatê-lo. Não vai ser fácil recuperar toda essa
juventude! Só resta
esperar por uma semana de paz por aqui. Por aqui, pois na Síria vai cair
muita bomba!
Foto: Acima
e abaixo, fotos tiradas no último domingo na Praça da República de Paris,
lugar que concentra as homenagens às vítimas desses atentados.
No comments:
Post a Comment