Tanto nos Estados Unidos como na Europa, certas empresas e executivos têm sido encarados como os novos vilões desta crise. Eles erraram, mas as coisas não são tão simples assim.
Algumas empresas que receberam ajuda direta ou indireta do governo mantiveram seus sistemas de remuneração variável (RV) e brindaram diversos funcionários com pagamentos mais do que razoáveis (bônus, ações e opções). Antes de julgá-las, enfatizo que o assunto tem sido usado politicamente. Obama e Sarkô aproveitam-se da situação, manifestando total oposição aos prêmios em questão.
O sistema de RV de algumas empresas deve estar mesmo furado. Numa situação de penúria total, as empresas que praticamente quebraram deveriam ter um dispositivo para controlá-lo. Uma vez salvas com dinheiro do contribuinte, deveriam ter suficiente bom senso para mudar as regras do jogo. Já o governo deve impor um novo padrão de gestão, incluindo recomendações sobre a remuneração.
Vale lembrar que existem certos contratos e regras que foram estabelecidos e respeitados durante anos. A situação é peculiar, empresas e executivos devem compreender a delicadeza do momento em que vivemos. Do lado de fora, não existe perdão, todos os casos de pagamentos de prêmios estão sendo demonizados da mesma forma.
O risco maior desses escândalos sucessivos é a generalização e a estigmatização de todas as empresas. Por causa de alguns poucos abusos, parte da sociedade se coloca contra a RV, contra a meritocracia e assim por diante. Políticos e sindicalistas aproveitam para manipular as massas. Obama e Sarkô devem punir os abusos, mas tomando cuidado para não destruir o sistema que os sustenta. Aqui na França, onde a tensão social é notória, tudo isso é mais lenha na fogueira.
Foto: Roche de Solutré, Borgonha. Cercada de uvas por todos os lados, a famosa escarpa domina a paisagem desta área do sul da Borgonha. A presença humana no local data de dezenas de milhares de anos, como documenta o museu arqueológico situado à sua base. A sua escalada foi relativamente fácil. O ex-presidente Mitterrand transformou esta caminhada num ritual, popularizando o rochedo. A uva da área é branca e, em se tratando de Borgonha, só poderia ser Chardonnay, com AOC Pouilly-fuissé.
1 comment:
O caso é que as empresas não só estão quebradas, como estão pedindo para rever toda espécie de contratos: com o governo, com credores, com sindicatos. Em caso de falência, todos os contratos são revistos. Daí essa história de que contrato é inviolável, se for a favor dos executivos, está furada. Mostra que remuneração variável era um jogo de cartas marcadas. O risco é o que você escreveu: que as pessoas concluam que todos os executivos são mafiosos (o que é uma boa aproximação da verdade), e saiam procurando um outro sistema de gerenciar empresas, que só pode ser ainda mais pior de ruim. Mais ou menos como quando a democracia falha e o povo chama uns ditadores para fazer um estrago maior ainda.
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