Por razões óbvias, os consumidores querem uma nova operadora de celular, a quarta da França. A expectativa é que ela traga um novo dinamismo ao mercado: Novas ofertas e novos preços. A França pode ser competitiva na Internet e telefonia fixa, mas quando o assunto é celular, a coisa não é tão boa assim.
Ao contrário do mundo emergente, o mercado europeu está saturado, tem mais celular do que gente! As empresas vivem de torpedos e outros serviços. Não há novos mercados, os clientes pulam de uma operadora para outra.
A Free é candidata única à quarta licença. Os operadores tradicionais estão fazendo de tudo para bloquear a sua entrada. Eles conhecem a criatividade e a ambição desmedida do seu fundador Xavier Niel. Além do lobby tradicional e da vasta rede influência da Orange, SFR e Bouygues, a grande amizade pessoal de Sarkô com este último não é de se descartar.
Mesmo que uma maior competição seja interessante para o governo, os três grandes possuem um belo coringa. As duas primeiras licenças custaram 5 bilhões de euros (Orange e SFR). A terceira licença saiu por 600 milhões (Bouygues). A Comissão Européia, em nome de uma concorrência justa, mandou o governo corrigir o preço das duas primeiras para 600 e devolver a diferença. Agora, a quarta licença está cotada a 240 milhões. Imaginando que a Comissão Européia imponha o mesmo critério, o governo francês estaria arriscando muito. A propósito, por que nunca se discutiu este assunto no Brasil?
Orange, Bouygues e SFR anunciaram que a chegada de um operador low cost poderia suprimir até 30 mil empregos nos seus quadros. No momento em que a Europa está vivendo, esse tipo de chantagem assusta. Cabe a Free dizer quantos empregos ela poderá criar.
No vale tudo contra a Free, entra até o apelo à histeria nacional. A sociedade começa a se mobilizar contra as Estações Rádio Base das redes de celulares. Há inúmeras batalhas na Justiça para remover antenas nas proximidades de escolas, hospitais e residências. Os processos existentes estimulam outras pessoas a aderir à causa. As operadoras defendem-se na Justiça. Elas ganham muitas vezes, até pela falta de embasamento científico dessas ações. De qualquer maneira, espalha-se por aí que uma operadora a mais representa ainda mais antenas.
O processo de licitação está no final. Apesar do seu caráter técnico, os políticos terão a última palavra. Vamos ver a habilidade de política de Xavier Niel para contornar todas essas barreiras. Experiência não falta. Quem foi cafetão durante tanto tempo sabe lidar muito bem com deputados, senadores e burocratas em geral.
Foto: A Praça do Anfiteatro em Lucca. O anfiteatro foi-se há muito, mas a praça conservou o formato. A bela cidade de Lucca é uma das atrações da Toscana, marcada principalmente pelas muralhas intactas que cercam a cidade.
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