Saturday, February 6, 2010

Bons ventos

No subúrbio parisiense de Drancy, uma situação inusitada. O Imam da grande comunidade islâmica apela frequentemente por proteção policial. A ameaça vem dos próprios muçulmanos. Hassen Chalghoumi tem 36 anos e representa o melhor do Islã.

Vejamos alguns dos pontos que provocam a ira de uma minoria entre os seus próprios correligionários:

- Apoia o banimento da burca
- Defende do diálogo do Islã com outras religiões
- Quando das manifestações contra Israel, durante a campanha de Gaza, denunciou o tom das críticas, que denotavam um certo antissemitismo
- Manifesta solidariedade com a comunidade judaica pela Shoah (Holocausto)
- Propôs um conselho islâmico para formar um grupo de princípios (fatwa) para orientar a adequação do muçulmano à vida republicana

O leitor deste blog deve se perguntar: Como esse cara ainda está vivo? Eu também não sei! A verdade é que a comunidade de Drancy está mais pacífica e com muito menos incidentes de intolerância. Infelizmente, Hassen é uma exceção.

Citando Bernard-Henry Lévy, um dos intelectuais mais renomados da França: "A contradição principal dos nossos tempos, a verdadeira guerra de civilização, não é o conflito entre o Ocidente e o Islã, mas entre o Islã e o Islã; no seio do Islã, a luta de morte entre o Islã democrático e o Islã integrista. E eu adiciono sobretudo que esta luta não é uma questão religiosa, mas política."

Um outro filósofo havia comentado o assunto de uma forma diferente. Assim como as sociedades de herança cristã passaram por um processo de secularização, chega a vez das sociedades islâmicas. Elas resistem, e muito. Todo esse conjunto de conflitos que se espalham pelo mundo representariam o canto do cisne do Islã. (Mas como canta esse cisne!)


Foto: Acima, o núcleo urbano de Roussillon, base da minha estada na Provence em outubro último. A tonalidade vermelha domina o casario. Do amarelo ao vermelho, todas as casas são pintadas com tintas feitas do ocre local. Abaixo, a fonte do ocre, a menos de 1km do centro.




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