Sunday, January 16, 2011

"Seu garçom faça o favor"

A matéria do Estadão sobre o custo da comida em São Paulo ilustra um tema recorrente deste blog. Durante a minha expatriação, retornei a São Paulo algumas vezes. Frequentando o mesmo grupo de restaurantes e pedindo basicamente os mesmos pratos, constatei um aumento de cerca de 100% nesses quatro anos. Sim, a conta dobrou!

Tenho que organizar uma reunião internacional em São Paulo ao longo de 2011. O orçamento de hotéis e restaurantes convertido para euros ou dólares é um disparate. Melhor seria fazer o evento em outro lugar do planeta.

Escreveu o editor do Paladar: "Meu conselho, para quem tiver condições, é: comam no exterior". Tem toda razão. Pena que não dá para ir almoçar em Buenos Aires todo dia.

A matéria do Estadão aponta claramente o aumento dos custos dos restaurantes (alimentos, aluguéis e salários) como causa principal do fenômeno. Concordo que o fator custos tenha a sua contribuição. Porém, questiono, se não há também o fator de oportunidade (inflação de demanda), pelo fato de mais gente ter passado a frequentar os mesmos restaurantes. Quem sabe, uma combinação dos dois, aumento de custo e demanda.

Com restaurantes caros e restrição na oferta de cozinheiras e domésticas, a classe média mudará os seus hábitos. O mundo dos negócios também. A atratividade de São Paulo, bem como de outras cidades do Brasil, será impactada. Paris, Nova York e outras tantas cidades podem ser caras, mas têm seus diferenciais.

O setor de bares e restaurantes é mais importante do que parece. Não foi à toa que o governo francês abriu mão de parte dos tributos para manter o nível de emprego no setor e uma conta ligeiramente mais baixa para os clientes.

Talvez tenhamos que fazer alguma intervenção por aqui, seja para garantir o custo dos alimentos ou aumentar a competição no setor. Enfim, depois de quase quatro anos na França, essas idéias socialistas acabam passando pela minha cabeça. Acho que estou ficando com fome. Seu garçom faça o favor de me trazer depressa / Uma boa média que não seja requentada...


Foto: Fazendo uma pausa nas fotos da Borgonha, mostro uma meia dúzia de fotos tiradas em Cingapura em dezembro último. Acima, a vista da janela de onde estava hospedado, quando o dia começava a clarear. Bem, toda vez que vou para a Ásia, acordo muitíssimo cedo, até me adaptar ao fuso horário.

1 comment:

Felipe Pait said...

Com a economia aquecida, o preço dos nontradables aumenta, especialmente se medido em termos de moedas de países com economias deprimidas. É uma identidade econômica, não necessariamente um sinal de inflação de um tipo ou outro.

Se tiver um bom microeconomista no Brasil, seria fácil explicar e modelar isso direitinho. Temo que os 4 ou 5 bons economistas que escrevem para o público leigo estão ocupados fazendo macro.