Wednesday, June 1, 2011

Cannes 2011

Meu post sobre o Festival de Cannes atrasou para que eu pudesse assistir pelo menos dois dos filmes que marcaram a temporada 2011.

Woody Allen, "hors-concours", abriu o festival com "Midnight in Paris". Terrence Malick levou a Palma de Ouro com "The tree of life". Gostei e recomendo ambos. Farei alguns comentários sem dar muitas pistas sobre os filmes, a fim de não estragar a surpresa do leitor.

É claro que "Midnight in Paris" foi muitíssimo festejado. Temática parisiense, coadjuvantes franceses e Carla Bruni no elenco. Tudo isso num país que sempre prestigiou o cineasta. Esquecendo-se do momento francófilo de Woody Allen, o filme é muito bom e bem melhor do que o seu anterior ("You Will Meet a Tall Dark Stranger").

A história começa meio boba, cheia de clichês, mas mergulha no passado, quando a cidade era a capital cultural do mundo. Aparecem conversas ricas e interessantes, como em tantos filmes de Woody Allen. Sem muita profundidade, mas inteligente e agradável. Cabe à nossa imaginação navegar pela fantasia proposta pelo diretor e escritor. Enquanto a maioria dos filmes peca por excesso, este deixa aquele gosto de "quero mais". O elenco é ótimo com vários astros franceses escalados para agradar ainda mais o público de Cannes. Veja o trailer.

O ganhador da Palma de Ouro, "The tree of life", é um filme no mínimo ousado. A história de uma família americana é o mote para uma longa sequência de lindas imagens falando da natureza, da vida, do homem, da família, da maturidade, dos valores e da misteriosa razão de ser. Embora todos concordem que o filme seja uma poesia visual, há quem não goste da cadência. O começo, meio National Geographic meio 2001, pode desanimar um pouco (não vá embora!), depois, o filme se humaniza. Algumas passagens da vida da família são realmente tocantes. Veja o trailer.

O público e a crítica francesa preferem o filme do Woody Allen. O filme de Terrence Malick mostra uma visão de mundo diferente da cultura local. Malick é filho de pai ortodoxo e mãe católica, mas parece um evangélico. Em alguns trechos do filme, a poesia soa uma pregação, algo que certamente afasta os franceses.

Gostaria de fazer uma observação musical. Quem puder ver o trailer de "The tree of life" notará uma das suas músicas principais, "O Moldava" ( "The Moldau" ou "Vltava"), do compositor checo Bedřich Smetana. Se alguém achá-la familiar, não estranhe. O hino de Israel ("Hatikvah") e a música de Smetana são sabidamente inspirados numa canção italiana do século XVI, "La Mantovana".

Já Woody Allen, entre músicas de Cole Porter, encaixou dois clássicos do franco-alemão Jacques Offenbach: "Barcarola" (ária de "Os contos de Hoffmann") e o mais famoso "Can-Can".


Foto: Mais uma tomada de Annecy, na Savóia.

2 comments:

Nivaldo Sanches said...

Fernando, sua crítica tece o poder de me deixar babando de inveja, e ávido para ver os dois. Do Woody Allen sou fã de carteirinha : não perco um filme dele há décadas.
Dos mais recentes, adorei o Whatever Works e o Vicky Cristina Barcelona.

DO Malick só vi, até hoje, Além da Linha Vermelha - mas sei que ele é mesmo um cineasta bissexto, né ? Acho que o último dele deve ter uns 15 anos, se não me engano ...
Agora, é esperar a estréia por estas bandas !

Abraços

fbirman said...

Você tem razão! "Além da Linha Vermelha" é de 98. Depois, ele ainda fez "O Novo mundo", em 2005.

Já Woody Allen faz um filme por ano desde os anos 70, com uma regularidade incrível. A grande parte é acima da média.