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Thursday, August 14, 2014

Nós e as máquinas

No último sábado, fui a um supermercado de Bruxelas. Estava cheio, mas quase todos os caixas estavam fechados. Havia apenas um funcionário trabalhando e os clientes eram dirigidos ao auto-serviço. Acostumado a tais máquinas desde a passagem pela França, senti que o “faça você mesmo” está ainda mais forte por aqui.

Os caixas de auto-serviço dos supermercados são bem completos. Basta escanear todas as compras, pesar o que for necessário, ter o cartão de fidelidade, o cartão de crédito e o ticket de estacionamento à mão e pronto. Tudo muito fácil. Principalmente se você for uma daquelas divindades hindus com muitos braços. Brincadeiras à parte, essas máquinas funcionam mesmo e, em teoria, são a prova de idiotas. Em teoria.


Domingão, saindo do cinema, onde assisti “LUCY”, fui validar o ticket de estacionamento. Havia dois tipos de máquinas, uma grande, cheia de botões e aberturas, e uma outra menorzinha. A princípio, dirigi-me para a maior, que oferecia mais recursos. Bati o olho na máquina e pulei fora, fui para a menor.  Já o casal de belgas que estava atrás de mim ficou procurando onde se colocava o ticket por algum tempo. Não sei quanto, pois fui embora.


Na semana passada, fui ao banco pegar meu cartão e registrar a senha. O banco é holandês, a agência fica na comuna de Neder-Over-Heembeek, mas estamos em  Bruxelas, uma região francofônica.  A gerente da agência, uma senhora muito simpática e gentil, falava comigo. A poucos metros dali, uma cliente usava a máquina de auto-atendimento. Ela virou-se para a gerente e berrou: “Pô, essa máquina só fala holandês!”

Com ar de reprovação e esquecendo a sua delicadeza por alguns segundos, a gerente retrucou: “Estou ocupada.” A cliente insistiu e ela, irada, repetiu: “Estou ocupada.” Percebendo a situação constrangedora, ela voltou-se para mim e desculpou-se. Bem, aí chegou a minha vez: “Nem precisa se desculpar. A senhora foi muito gentil. Poderia ter respondido que estava ocupada em holandês!”


Já levei canseira de uma máquina na primeira vez que passei por um pedágio francês. Por ser a primeira vez, precisava de apenas uns poucos segundos para entender onde colocar o ticket,  o cartão de crédito e obter o recibo. Porém, o troglodita que vinha atrás não esperou. Meteu a mão na buzina!

No susto, deixei o ticket cair na via. Tinha alinhado o carro tão próximo ao caixa, que não conseguia abrir a porta. A essa altura, o cara de trás beirava a histeria. Felizmente, aquele pedágio ainda empregava seres-humanos. Pelo alto-falante, perguntaram qual tinha sido meu ponto de entrada na estrada e calcularam a tarifa. Aí sim, coloquei o cartão, paguei e fui embora.  Aquele gaulês apressado teve que esperar uns bons minutos. Já o ticket caído no chão, o vento levou.



Foto: Para fechar as fotos de Bilbao, o Teatro Arriaga.

Sunday, August 3, 2014

Vem pra caixa!

Passeando por supermercados belgas e franceses, notei o avanço dos vinhos embalados em caixas, substituindo as tradicionais garrafas. Há poucos anos, os vinhos desses cubos de papelão tinham um mercado muito restrito. Eram os vinhos mais acessíveis e, por isso mesmo, vistos com ressalvas pelos apreciadores da bebida. Isso tudo mudou.

Mesmo sem saber, você já pode ter tomado vinho de caixa de passagem pela Europa. O “vinho da casa” de muitos restaurantes costuma ser um desses, como constatei em várias ocasiões. A novidade é que cada vez mais rótulos mais qualificados adotam a embalagem.

O cubo de papelão é bom para todo mundo. É menos embalagem para mais vinho (3 a 5 litros), mais prático (não quebra) e, principalmente, conserva melhor. Adeus às rolhas! Adeus às bombinhas de vácuo! A vantagem prática e econômica para os consumidores e produtores derruba qualquer preconceito. Para os últimos, é uma questão de sobrevivência.

No mundo encantado do vinho, uns poucos e renomados “châteaux” têm mais demanda do que a sua capacidade de produção. Novos ricos do Brasil, China, Índia e Rússia juntam-se aos americanos e outros abastados para pressionar o mercado de vinhos nobres. Com a demanda largamente superior à oferta, os preços vão às alturas, enchendo os cofres dessas poucas vinícolas.

A realidade da imensa maioria de produtores de vinho é muito diferente. Ali na gôndola, a briga é por centavos de euros. Nos supermercados, centenas de rótulos ocupam a faixa de 5 a 10 euros, valor pouco superior a um suco de fruta “premium”. Não precisa fazer muita conta para perceber que a margem é mínima.

Produzir vinho pode parecer muito charmoso, mas dá tanto dinheiro quanto cultivar bananas. Por essas e outras, o vinho em caixa ainda vai chegar à sua casa.


Leia também: Réquiem ao Baco (o primeiro post deste blog)


Fotos: Acima, fecho a série de fotos do imponente Guggenheim de Bilbao. Abaixo, uma gôndola da seção de vinhos do Carrefour de Lyon, onde estive neste sábado.


Sunday, July 3, 2011

Pão francês

Estive viajando. Ocupado, mas não desconectado. No retorno, li algumas matérias sobre a possível fusão do grupo Pão de Açúcar com o Carrefour, estimulada pelo BNDES. O senador Aloysio Nunes, do PSDB, ironizou: "Duas redes de varejo se casam e quem dá o presente é o Brasil, ou melhor, o contribuinte?...Daqui a pouco o BNDES vai contribuir para a fusão de salões de beleza". Se eu tenho minhas restrições à iniciativa apoiada pelo governo, a manifestação da oposição também não é totalmente correta.

1) Ele questiona a concentração do setor no Brasil. Concordo. A concentração já é muito grande. Na França, sede do Carrefour e do Casino, há outros grupos fortes brigando ferrenhamente com ambos: Auchan, E.Leclerc, Intermarché e Système U. O mercado ainda não é totalmente livre, mas funciona melhor do que aqui. Um país do tamanho do Brasil pode ter e merece um varejo mais competitivo.

2) Quando questiona a participação no BNDES no processo. Concordo. O banco já virou motivo de chacota. Tem sido uma máquina de privilégios, uma ferramenta a serviço dos governantes e não do Brasil.

3) Quando coloca o destaque no contribuinte. Concordo. Todos que estão lá, em Brasília, têm a obrigação de zelar pelo dinheiro público, pelo nosso dinheiro. Todos os políticos devem ter como prioridade os quase 200 milhões de cidadãos contribuintes.

4) Quando insinua que o Brasil dá um presente a grupos estrangeiros, embora não esteja explícito. Discordo. O BNDES deve escolher os projetos que são bons para o Brasil. O que é melhor para o país, uma empresa americana que pega dinheiro do BNDES para investir no Brasil ou uma empresa brasileira que pega dinheiro para investir nos EUA? Não existe uma resposta, depende da situação. Embora o banco possa privilegiar as empresas nacionais, o mundo de hoje não é dividido simplesmente entre grupos nacionais e estrangeiros. O capital é um conceito meio "fluido", mas isso é uma outra história.

5) Quando ironiza os salões de beleza. Discordo. Por que não? Organizar e solidificar o setor de serviços é uma ótima idéia. São grandes geradores de empregos. O Brasil precisa de inúmeros hotéis, restaurantes e salões de beleza. Possivelmente, tais estabelecimentos tragam um retorno maior do que uma montadora de kits de automóveis importados da Coréia.

Enfim, muitos dos "escândalos" anteriores do BNDES ficaram distantes do público em geral. Um episódio mexendo com o varejo tem o mérito de expor a questão para milhões, antes indiferentes ao tema.


Foto: Núcleo da abadia de Baume-les-Messiers, na região da Franche-Comté. A pequena cidade gira em torno dela.

Monday, June 15, 2009

Descontão

Na França, domina a cultura do pequeno varejo, do mercadinho da esquina. Embora o país seja a origem de grandes grupos como o Carrefour e o Casino (Pão de Açucar), ainda hoje se faz manifestações contra os hipermercados, aqui chamados de "grande surface".

O que mais chama nossa atenção neste segmento é o efeito da perda de poder aquisitivo de parte da população, fenômeno não relacionado à crise recente, mas à estagnação dos últimos anos.

Depois do sucesso das marcas próprias nas redes principais, apareceram redes de supermercados que só vendem marcas próprias - com descontos consideráveis, é claro - que conquistaram as classes menos abastadas da Europa. A última novidade são os supermercados de produtos vencidos: Descontos ainda maiores! Obviamente, esta sensação da periferia não comercializa produtos perecíveis (pelo menos na frente dos jornalistas que andam comentando o assunto, pois eu não fui conferir pessoalmente). De qualquer forma, chega a ser surpreendente.


Foto: Acima, o conjunto da velha prefeitura de Praga, que tem no relógio astronômico a sua maior atração. Abaixo, o detalhe do relógio em hora cheia, quando as duas pequenas janelas se abrem para a aparição dos doze apóstolos. O relógio de 1410 retrata bem o espírito da época, do cristianismo exacerbado do Sacro Império. As quatro esculturas na parte inferior da foto simbolizam as suas maiores aversões. Da esquerda para a direita: A vaidade (figura com o espelho), a avareza (caricatura do judeu com um saco de dinheiro), a morte e o invasor pagão (turco).