Saturday, August 18, 2012

Mensalão


As Olimpíadas abafaram as fases mais chatas do julgamento do mensalão. O melhor começa nesta segunda-feira. Na última semana, consegui acompanhar algumas discussões e posso antecipar um intenso debate. As divergências entre o relator e o revisor são sinais da complexidade da matéria. Ficarei três semanas fora do Brasil, então deixo algumas poucas palavras sobre um assunto tão relevante.

Mesmo torcendo por uma condenação exemplar de todos os réus, entenderei se eles escaparem deste julgamento inocentados. Acho que a ideia de "pizza" não é apropriada nesse contexto. Por mais evidente que seja o crime cometido, prová-lo de forma definitiva é muito difícil. Ainda mais quando uma centena dos mais prestigiados advogados do Brasil estão do mesmo lado. São cem contra um!

A situação me lembra o clássico filme "Reverso da Fortuna", baseado na história real do envenenamento da esposa do milionário Claus Von Büllow. Condenado num primeiro julgamento, ele recorre a um dos ícones do Direito americano, Alan Dershowitz. Até mesmo o célebre advogado desconfiava de Claus. Porém, quando percebeu uma grave falha na acusação, não hesitou em defendê-lo. De graça.

O réu foi inocentado. Julgamentos justos estão entre os pilares da democracia. Por mais evidente que um crime possa parecer, não podemos nos deixar levar pela condenação prévia, pela manipulação ou pelo preconceito.

Voltando ao mensalão. O aspecto mais preocupante da não condenação é o sinal verde para operações desse tipo, que voltarão ainda mais sofisticadas. Afinal, o mercado financeiro é pródigo em criar soluções para disfarçar as mais "tenebrosas transações".

É por essas e outras que afirmo: O mensalão não é a doença em si, mas um sintoma. Pouco importa como se compra um deputado, se ele já chegou em Brasília para se vender. Então, depois do julgamento e independentemente do seu resultado, é preciso se discutir a reforma política.

Precisamos acabar com os partidos de ocasião, estabelecer a fidelidade partidária, discutir o financiamento de campanha, ampliar o ficha limpa, revisar o número de cadeiras de todo Legislativo e, mais importante, adotar o voto distrital.


Foto: O Grande Palácio abrigava a antiga sede administrativa (foto) do Reino do Sião, nome da Tailândia até 1932. O "Templo do Buda de Esmeralda" integra o mesmo complexo.

Monday, August 13, 2012

Notas Olímpicas 3


Ainda é muito cedo para se avaliar os resultados dos Jogos para a cidade de Londres. Certo é que a Grã-Bretanha mostrou que tinha um projeto olímpico, transformando-se numa potência esportiva. Vale notar que essa importante ascensão começou bem antes. Vejam a evolução do seu total de medalhas de 2000 a 2012: 28->30->47->65.

Jogos Olímpicos nem sempre dão certo. O exemplo grego é trágico. O país não digeriu o custo do investimento, não virou uma potência olímpica e tampouco transformou a sua capital. Não é fácil fazer algo pior do que Atenas 2004!

Os jogos de Barcelona 1992 não fizeram da Espanha uma campeã olímpica, mas alavancaram o progresso e o turismo da capital catalã. O renascimento de Barcelona através dos Jogos é um dos melhores exemplos de legado olímpico.

Como nem tudo é perfeito, houve um efeito social perverso. A valorização imobiliária acabou expulsando muita gente para a periferia. Se fosse no Brasil, as encostas do Montjuic estariam devidamente ocupadas ;-)

E os jogos do Rio em 2016?

Em termos esportivos, estamos no pior dos mundos. Melhoramos o nosso desempenho, passando de 15 para 17 medalhas. Porém, nesse período, nosso o governo colocou 100 milhões a mais no bolso do COB. Eu escrevi A MAIS! Aparentemente, o Irã, a Coreia do Norte e o país do Borat foram mais sábios.

Se o investimento em medalhas é duvidoso por si só, pior é gastar e nem obtê-las. A conversa entre Dilma e os dirigentes do COB não será das mais amistosas.

Fica a esperança de uma grande contribuição das Olimpíadas para o Rio de Janeiro. É claro que o investimento direto na infraestrutura da cidade é um real benefício, o difícil é alavancar os bilhões que vão para o circo olímpico. Deixo a reflexão para o leitor.


Foto: Outra tomada do conjunto do "Templo do Buda de Esmeralda" em Bangkok, Tailândia.

Saturday, August 11, 2012

Notas Olímpicas 2


As Olimpíadas dominaram as conversas dos últimos dias. O espetáculo grandioso, a beleza do esporte e a nossa torcida ofuscam quaisquer outros assuntos, até mesmo o julgamento do mensalão. Entre tantas discussões, uma se destaca: Afinal, os brasileiros amarelam mais do que os outros?

Para explicar a percepção de amarelada geral, poderíamos recorrer às mais sofisticadas teses sociais e antropológicas, a um certo complexo terceiromundista (complexo de vira-lata, para alguns). Porém, acredito que seja muito mais simples do que isso.

Todo mundo amarela: Americanos, chineses e ingleses. A diferença é que os americanos e chineses possuem tantos aspirantes às medalhas, que os fracassos passam batidos. Nós, brasileiros, temos apenas uma dúzia de favoritos. E, é claro, seus eventuais insucessos pesam muito. Num ambiente extremamente competitivo, isso é natural. Um mínimo detalhe pode roubar a vitória de alguém que tanto se dedicou para aquele momento.

Bolt não costuma amarelar, por que é muito melhor do que seus concorrentes. Mesmo assim, queimou a largada no Campeonado Mundial e saiu sem nada nos 100m. Federer e Sharapova foram surrados pelos seus adversários nas finais individuais de tênis. Amarelaram?

Enfim, é muito mais uma questão de expectativas do que um acovardamento generalizado da classe esportiva nacional. Torça pelo Brasil, mas com moderação!    


Foto: Nova tomada do conjunto do "Templo do Buda de Esmeralda" em Bangkok, Tailândia.

Thursday, August 9, 2012

Notas Olímpicas 1


A organização dos Jogos Olímpicos londrinos é notável. Assistí-los pela TV tem sido muito bom. Em tempos de HD e vários canais simultâneos, a experiência de acompanhá-los melhorou muito: Um festival de tomadas diferentes, câmera lenta e muitos outros recursos técnicos. Imperdível!

Pensando nos Jogos em si e considerando o esporte como um eixo de confraternização universal, acho que poderíamos melhorar as próximas edições. Pela paz e pela sustentabilidade.

Aí vão minhas reflexões:

1)  Sustentabilidade: É uma exigência básica para os dias de hoje. Significa deixar de fazer elefantes brancos que ganhem prêmios de arquitetura, mas construções que propiciem economia de energia, maximizando a iluminação e a ventilação natural. Dar preferência às cidades médias e não às megalópoles, permitindo uma melhor integração das sedes dos Jogos com os núcleos urbanos, sem o risco de colapso do transporte público. Zerar as emissões de carbono, considerando-se o deslocamento de todo público (não vale plantar árvores na Guatemala para compensar). Ideias não faltam.

2) Artes Marciais: Sei que o tema é polêmico. Meu saudoso "sensei" sempre enalteceu os valores espirituais do judô e eu acreditava piamente. Porém, confesso que não vejo nenhuma graça nesse jogo de agarra-e-solta-quimono que é o judô olímpico. Ainda assim, é melhor do que o chuta-chuta do taekwondo. Eu suprimiria todas as lutas das Olimpíadas: Judô, taekwondo, boxe, luta livre e greco-romana. Eu sei que são tradicionais, que têm toda uma tecnicidade, que são voltadas à defesa pessoal, que envolvem valores espirituais, etc, etc. Mas, em nome da era de Aquário, que caiam fora.

3) Quadro de Medalhas: A ênfase dada no quadro de medalhas não é muito compatível com o espírito olímpico. Devemos celebrar os melhores atletas, mas não fazer uma competição entre nações. Montar fábricas de medalhas não é difícil, basta desviar dinheiro da saúde e educação para o esporte. É só percorrer o quadro de medalhas, que vemos alguns países de terceira categoria fazendo "mais bonito" do que o Brasil. Uma nação deve permitir que seus cidadãos tenham pleno acesso ao esporte, como meio de saúde, recreação e educação. Medalhas não são nem meio nem fim.

4) Fair play: Os Jogos de 2012 estão chegando ao fim e o doping não roubou a cena. O COI certamente vai comemorar, mas fica uma leve desconfiança de que há novas técnicas por aí. O mais importante é manter a determinação de se combater o doping bem como todas as manipulações anti-esportivas. Em nome do fair play, deve-se aplicar penas cada vez mais rigorosas aos atletas e às delegações. A desclassificação sumária de oito jogadoras de badmington da China, Coreia e Indonésia foi excelente.


Foto: O templo mais importante de Bangkok é o "Templo do Buda de Esmeralda" (Wat Phra Si Rattana Satsadaram), um conjunto de prédios magníficos que ilustram este e os próximos posts.