Saturday, May 18, 2013

Jeitinho


Este post já estava na minha mente, quando me deparei com a morte do ex-ditador argentino Jorge Videla. Dias antes, consagrava-se o casamento gay no Brasil. Ainda antes, estávamos abismados com as hostilidades entre o Judiciário e Legislativo.

Para mim está claro, três assuntos decididos pelo Judiciário deixam muitos inconformados: a união homoafetiva, a constitucionalidade da Lei da Anistia e, é claro, o julgamento do mensalão. Embora haja certa sobreposição entre esses grupos, eles ainda voltarão a fazer algum barulho.

São assuntos muito complexos para serem analisados num blog. Por isso mesmo, não estou aqui para dar uma opinião sobre eles. Gostaria apenas de comentar sobre o caminho encontrado pela nossa sociedade para resolvê-los.

O casamento gay, por exemplo, racha um país como a França. Em outros países, monopoliza o debate, tirando o foco da resolução da crise econômica. Nessas viagens entre o Brasil e a França, vi o gritante contraste entre a sangria que o assunto causa por lá e a relativa tranquilidade daqui.

A mesma coisa vale para a anistia. Mesmo com todo respeito às vítimas da ditadura, ainda prefiro a situação brasileira à argentina, onde a ferida jamais cicatriza. Enfim, pode ser que tenhamos que pagar essa conta lá na frente, mas o Brasil encontrou um jeitinho para resolver problemas difíceis, que poderiam dividir a sociedade.

A essa altura do campeonato, é melhor gastar o tempo dos políticos em outras reformas. Só não aceito quando o Parlamento reclama do STF, pois todos nós somos responsáveis por esse grande pacto, inclusive deputados e senadores.


Foto: Nos arredores de Paris, a torre do Château de Vincennes. Eu mesmo deixei para visitá-lo somente há pouquíssimo tempo, por isso imagino que muita gente acaba pulando essa atração tão perto do centro de Paris.

Saturday, May 11, 2013

O crime da semana


Há tempos, queria fazer um post sobre criminalidade. Já falei bastante sobre crimes do colarinho branco no Brasil e na França. Porém, nunca escrevi sobre nossos homicidas comuns, aqueles que ceifam a vida de mais de 40 mil conterrâneos a cada ano. Então, vamos lá.

Já nos acostumamos ao "crime da semana". Invariavelmente, temos um evento semanal, que recebe todas as atenções, pois, de alguma forma, ultrapassa a linha vermelha. Esse limite parece residir em dois aspectos, brutalidade e localização. O conceito de brutalidade é evidente. O aspecto geográfico é menos óbvio e mais cruel. Quanto mais perto das áreas nobres, mais grave.

Excepcionalmente, importamos algum crime, que nos faz esquecer do nosso "crime da semana". E, ainda pior, dos outros 40 mil assassinatos que acontecem no Brasil.

Mesmo tendo passado por um histórico período de prosperidade, não houve qualquer progresso nos índices de violência brasileiros. Houve variações internas: melhorou no sudeste e piorou no nordeste. Para mim, é muito claro que a criminalidade não está associada à pobreza em si. Talvez, à sensação de desigualdade, e, com certeza, à falência do sistema policial, judiciário e prisional.

Na onda do "crime da semana", às vezes, nossa sociedade acena com medidas cosméticas. Só bobagens. Até quando? Por que não resolver a questão da segurança pública? Por que tolerar índices de homicídios tão altos?

Acredito que muitos políticos já fizeram a conta e concluíram que não vale à pena abraçar essa causa (e ainda ser taxado de reacionário!). O "crime da semana" não é suficiente para mobilizar a sociedade, ou seja, o grupo de pessoas tocadas diretamente pelas dezenas de eventos anuais não forma uma massa crítica para tal mobilização.

Ainda existem outros 40 mil assassinatos que acontecem nas favelas, morros e área menos favorecidas. But, who cares? Se, algum dia, o Brasil for um país realmente desenvolvido, talvez nossa geração seja vista como genocida.


Foto: A rua junto ao muro de Saint-Paul de Vence