Sunday, August 3, 2014

Vem pra caixa!

Passeando por supermercados belgas e franceses, notei o avanço dos vinhos embalados em caixas, substituindo as tradicionais garrafas. Há poucos anos, os vinhos desses cubos de papelão tinham um mercado muito restrito. Eram os vinhos mais acessíveis e, por isso mesmo, vistos com ressalvas pelos apreciadores da bebida. Isso tudo mudou.

Mesmo sem saber, você já pode ter tomado vinho de caixa de passagem pela Europa. O “vinho da casa” de muitos restaurantes costuma ser um desses, como constatei em várias ocasiões. A novidade é que cada vez mais rótulos mais qualificados adotam a embalagem.

O cubo de papelão é bom para todo mundo. É menos embalagem para mais vinho (3 a 5 litros), mais prático (não quebra) e, principalmente, conserva melhor. Adeus às rolhas! Adeus às bombinhas de vácuo! A vantagem prática e econômica para os consumidores e produtores derruba qualquer preconceito. Para os últimos, é uma questão de sobrevivência.

No mundo encantado do vinho, uns poucos e renomados “châteaux” têm mais demanda do que a sua capacidade de produção. Novos ricos do Brasil, China, Índia e Rússia juntam-se aos americanos e outros abastados para pressionar o mercado de vinhos nobres. Com a demanda largamente superior à oferta, os preços vão às alturas, enchendo os cofres dessas poucas vinícolas.

A realidade da imensa maioria de produtores de vinho é muito diferente. Ali na gôndola, a briga é por centavos de euros. Nos supermercados, centenas de rótulos ocupam a faixa de 5 a 10 euros, valor pouco superior a um suco de fruta “premium”. Não precisa fazer muita conta para perceber que a margem é mínima.

Produzir vinho pode parecer muito charmoso, mas dá tanto dinheiro quanto cultivar bananas. Por essas e outras, o vinho em caixa ainda vai chegar à sua casa.


Leia também: Réquiem ao Baco (o primeiro post deste blog)


Fotos: Acima, fecho a série de fotos do imponente Guggenheim de Bilbao. Abaixo, uma gôndola da seção de vinhos do Carrefour de Lyon, onde estive neste sábado.


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