Monday, April 11, 2016

Chamem o rabino!

Entre tantos negócios escusos, o caso “Panama Papers” traz à tona o lado mais negro do mercado de arte. Os proprietários de obras roubadas, confiscadas ou desaparecidas usam os mesmos artifícios ilustrados no post anterior para escondê-las.

Não falta matéria-prima. Uma das fontes principais do submundo da arte ocorreu na Segunda Guerra, quando inúmeras pinturas e esculturas foram confiscadas dos judeus. Se algumas famílias conseguiram recuperá-las, ainda existem muitas delas em mãos erradas por aí.

A imprensa destacou recentemente o caso de um quadro do italiano Amedeo Modigliani, alvo de uma acirrada batalha judicial. Mais uma tela confiscada de judeus, que percorre um caminho misterioso até nossos dias. O proprietário atual da tela vinha se escondendo há muito tempo. Graças ao “Panama Papers”, sua máscara caiu.

Os herdeiros da família judia espoliada à época da Segunda Guerra estão em guerra com uma outra família. Por sinal, judia também. Nessa história, os advogados são judeus e até o pintor é judeu. Meu humilde conselho é que todos baixem as armas e chamem um rabino.

Sim, chamem um rabino! E o que podemos esperar de um rabino num caso desses? Posso adiantar algumas das respostas para vocês.

- 10 % dos rabinos vão propor cortar o quadro em dois. Bem, vocês conhecem a história.

- 20% dos rabinos vão sugerir que a obra fique exposta em suas sinagogas, com menção à honrosa doação das duas famílias.

- 70% dos rabinos, no entanto, vão propor algo ainda mais simples. Que a obra seja vendida num leilão e a renda dividida por três ;-)



Foto: Outra tomada do Château de Bizy

Thursday, April 7, 2016

Panamá

A televisão francesa, num excelente documentário, mostrou como funciona o mundo das offshore. Escolheu um imponente apartamento do centro de Paris trocado de mãos recentemente. É um daqueles imóveis que vale mais de 100 milhões de reais. Quem seria o felizardo proprietário?

O imóvel foi registrado por uma empresa francesa, que pertence a uma empresa de Luxemburgo, que pertence a outra empresa de Luxemburgo, que pertence a uma terceira empresa de Luxemburgo, que finalmente pertence a uma empresa panamenha. Esta última, registrada por um testa-de-ferro. Por vias normais, é impossível saber o nome do seu ilustre proprietário.

Se não fosse uma denúncia anônima, jamais chegariam ao misterioso proprietário. A escolha do imóvel não foi aleatória. A TV francesa havia recebido o dossiê completo do caso, da mesma forma como vazaram os “Lux Leaks” ou os “Panama Papers”. 

A operação fora montada pelo Banco Rothschild para um executivo árabe, acusado de desfalcar o fundo soberano do seu país em meio bilhão de euros. No Brasil, seria um petralha do segundo escalão, mas de muito bom gosto. 

Na França, as informações do “Panama Papers” fazem um verdadeiro “strike”.  Estão lá os casos mais recentes de corrupção do país, o escritório de advocacia do Sarkozy e a Société Genérale. Material suficiente para ligar todos os pontos que faltavam no atlas da corrupção local.

Não posso dizer a mesma coisa do Brasil. Considerando a corrupção generalizada que assola a nação, ainda precisamos de muitas outras denúncias. Quero crer que a Receita Federal esteja trabalhando com toda essa informação, mesmo que seja na surdina. 

Pelo menos na Europa, há um claro sentimento de indignação com relação à fuga de capitais, lavagem de dinheiro e outras maquiagens financeiras. A atuação de hackers, funcionários ativistas ou puros aproveitadores vai infernizar a vida de quem trabalha às margens do sistema financeiro. A vida de corrupto está ficando cada vez mais difícil. 


Foto: Château de Bizy, na Normandia.