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Monday, May 5, 2025

Assaltando os vovôs



Tem muita gente lacrando com a fraude no INSS? Tem muita gente tirando proveito político do fato? Claro. Tudo isso faz parte do sistema.

O que importa é que essa fraude bilionária chama atenção por vários aspectos fundamentais:

  1. A roubalheira não é exclusiva dos grandes contratos ou dos negócios travados pelos titãs estatais, como a Petrobrás. Roubar “só um pouquinho” de milhões de brasileiros dá o mesmo resultado. E deve haver muitas outras oportunidades por aí.

  2. A crueldade dos corruptos não tem limites. Desviar de aposentados que recebem muito pouco é um absurdo. As redes de corrupção não estão nem aí para suas vítimas.

  3. Quando o governo promete o reembolso imediato das vítimas, o escárnio se completa. Será que alguém ainda não entendeu que o dinheiro do governo é o nosso dinheiro?

Há, no entanto, uma ponta de positividade: apesar de todos os interesses contrários, a investigação avançou e expôs figuras bem próximas ao Planalto. Mais do que isso — ganhou destaque até da mídia geralmente alinhada ao governo. Parabéns aos envolvidos. Agora é essencial que a investigação seja exemplar: que revele todos os mecanismos utilizados, que liste todos os envolvidos — dentro e fora do INSS — e que se torne um caso de referência no combate à corrupção.

O INSS é uma organização tradicional, com a maioria dos seus servidores formada por profissionais honestos e dedicados. Conta ainda com o suporte técnico da renomada Dataprev. O Estado deve mover todos os esforços para reaver o dinheiro roubado, inclusive sequestrando todos os bens disponíveis dos envolvidos. Aí, sim, discutimos o que fazer com a diferença.

Mais importante ainda é que esse escândalo gere aprendizado institucional. Que não se trate apenas de punir os culpados, mas de fortalecer os controles, blindar processos digitais, e garantir auditorias contínuas. A confiança pública é frágil — e precisa ser restaurada com ação firme, transparente e duradoura.


Foto: Castelo de Moritzburg, Alemanha (2024). Passagem de uma viagem que fiz ao longo do Elba, dos arredores de Praga às proximidades de Berlim.

Wednesday, April 7, 2021

A trágica sina de uma pátria malandra


 

O recente episódio da vacinação clandestina de políticos e empresários mineiros é muito emblemático. A malandragem brasileira talvez tenha ido longe demais.

Em quase todo o mundo, a guerra contra a Covid-19 exigiu que os Estados assumissem a distribuição das vacinas, definindo critérios para estabelecer a ordem em que seus cidadãos recebem as suas doses. Isso vale até mesmo para países sem tradição de grandes campanhas de vacinação universal. Pois é, o Brasil, uma referência no assunto, virou motivo de chacota.

A discussão sobre a abertura de frentes de vacinação paralelas não vingou em quase nenhum país. No Brasil, a expectativa pelo fura fila é enorme. Entretanto, pior do que discuti-lo é partir para o ato, como no caso da ação clandestina de Belo Horizonte.

A essa altura, todo mundo sabe do ocorrido. Os malandros que passaram a perna no esforço nacional de vacinação foram enganados por uma outra trapaceira, que não era enfermeira e nem aplicava vacinas. Os malandros se dão bem até encontrarem malandros melhores.

Todos os leitores têm suas histórias para contar sobre a nossa malandragem patológica, que possui ligações umbilicais com a corrupção na política e a criminalidade comum. Apenas para exemplificar, há poucos meses, num mesmo final de semana, senti essa delinquência nacional de perto:

1) Normalmente, uso aplicativos para comprar refeições (delivery). Nesse dia, decidi contatar o restaurante, que enviou seu motoqueiro com a maquininha. Fui ao seu encontro para pegar a encomenda e pagar com o cartão. Encurtando a história: o motoboy usou a sua própria maquininha, passou meu cartão e fugiu. Enganou a mim e ao restaurante de uma vez só.

2) No mesmo dia, minha esposa mostrou uma daquelas falsas campanhas concebidas para o sequestro da conta Whatsapp. Apesar da bela peça publicitária, ela estava atenta. Quando recebeu a mensagem com o tão desejado código do Whatsapp, a ficha caiu.

3) No dia seguinte, abasteci o carro no posto de sempre. Quando o tanque já estava pela metade, estranhei os frentistas. O posto guardou as cores verde e amarela, embora não fosse mais da Petrobrás. Mudaram a bandeira e ficaram na moita atraindo os incautos.

E assim vai. São inúmeros eventos sucessivos. Para evitar ser surrupiado ou sofrer algum golpe, melhor não se distrair por um segundo. O Brasil não é para amadores. Essa associação de corrupção, criminalidade e malandragem faz com que muitos dos nossos amigos lá fora desistam de voltar.

Enfim, gostaria de conhecer as respostas para este mistério brasileiro. Talvez aqueles que acreditam na roubalheira generalizada, até por fazer parte dela, sentem-se no direito de explorar o próximo. Afinal, ladrão que rouba ladrão... É a trágica sina de uma pátria malandra.

 

Foto: Uma outra tomada da Plaza Mayor, em Madrid. O inverno de 2020 foi bem camarada.

Sunday, March 14, 2021

Para salvar o Brasil dos políticos do amanhã


 

Nos meus poucos textos sobre política, a intenção é de construir alguma coisa, mostrar uma perspectiva alternativa ou fazer uma interpretação dos fatos. Nunca uso esta ferramenta para desabafar ou transmitir qualquer mensagem contrária aos interesses nacionais. Aliás, se quiser desabafar, uso o Twitter.

Esta semana foi bastante movimentada na política nacional. Na fase mais terrível da pandemia, o STF centralizou as atenções com a anulação das condenações do Lula e o julgamento sobre o juiz Sérgio Moro.

A Lava Jato já estava nocauteada. O destino do juiz é apenas a cereja do bolo para muitos, entre os quais, o Lula. Existem várias possibilidades em relação ao futuro das duas personalidades, o que não muda a minha conclusão. A questão não deve ser quem foi punido ou deixou de ser punido pela famigerada operação, mas se teremos uma política bandida para sempre.

Deixando as nossas eventuais preferências de lado, parto das seguintes premissas: 1) A corrupção em todas as instâncias de governo do Brasil é generalizada; 2) A impunidade impera; 3) A Lava Jato, que parecia poder mudar este quadro desalentador, sempre esteve longe de ser um consenso entre juristas, principalmente pelos deslizes apontados pelo STF, que, mais cedo ou mais tarde, anulariam todas as condenações.

Quando a gente critica um ministro do STF por ser “garantista”, não é ele que está errado, são as leis e a constituição! Temos que modernizar nosso aparato legal para adaptá-lo à criminalidade do colarinho branco do século XXI. Tudo evolui, em especial o mundo das finanças e tecnologia, propiciando inúmeras situações imprevistas pelas leis antigas, válvulas de escape para o dinheiro sujo e outras circunstâncias amorais.

Não vou julgar ninguém nesse post, pois todos os corruptos estão por aí, livres, leves e soltos. A nossa geração produziu a Lava Jato, que bateu na trave, mas não fez gol. Precisamos pensar em proteger o Brasil das próximas gerações.

Nas últimas eleições, promovemos uma boa renovação do Congresso. Ainda insuficiente. Apesar dos poucos gatos pingados defendendo a pauta anticorrupção, ainda há um grande grupo de rabo preso. Só uma renovação brutal dos parlamentares salva o Brasil. Ela vai acontecer de qualquer jeito e é imprescindível acelerá-la.

A campanha 2022 já começou. A disputa presidencial costuma fazer barulho e capturar toda a atenção. Porém, no nosso presidencialismo moreno, o Congresso tem muito peso. A despeito dos seus muitos representantes indignos para a função, tem sido um freio para as loucuras presidenciais. É desnecessário relembrar os governos Dilma, Temer e Bolsonaro, todos distantes da unanimidade nacional.

Enfim, devemos deixar nossos bandidos de estimação de lado e desejar que as próximas gerações se libertem da discussão de quem rouba mais. Os bandidos de hoje não pagarão pelos seus crimes e o caminho para a correção passa pelo Congresso. Voltarei a este assunto em 2022. Só adiantei a reflexão, pois o clima pré-campanha ficou repentinamente aquecido. O debate e o desafio são bons para o Brasil, mas a disputa presidencial não é tudo.


Leitura complementar:

2022 é agora - Post de junho de 2020 


Foto: Plaza Mayor (Madrid, Espanha). Felizmente, consegui fazer esta viagem de férias no começo de 2020. Voltei poucos dias antes do confinamento.

Tuesday, June 6, 2017

O homem da salsicha


Assim que surgiu a nossa última crise, viajei para a Europa. Pelo menos fui poupado do noticiário. Um pouco menos de náuseas não faz mal a ninguém!

Vocês provavelmente conhecem aquela máxima sobre a política: “As leis, assim como as salsichas, deixam de inspirar respeito na medida que conhecemos como são feitas”. Atribuída por muitos anos a Otto von Bismarck, sua autoria foi revista após uma vasta pesquisa. O poeta norte-americano John Godfrey Saxe é o verdadeiro autor da famosa citação.

A imagem que sempre fiz do Michel Temer é de rei dos bastidores. O cara que mantém a base coesa, resolve as crises, acalma um ou outro dissidente, facilita os acordos, etc. É o homem que sabe como funciona a política. Permitam-me a metáfora, é o homem da salsicha!

Nunca acreditei na honestidade do Temer, só esperava que pudesse segurar as pontas até 2018. De preferência, com meia dúzia de ministros competentes, que pudessem colocar pelo menos uma roda da economia nos trilhos.

No meu país, faria um acordão. Temer trocaria seu mandato pelas reformas, uma punição mais branda e um sucessor acima de qualquer suspeita. Porém, no nosso Brasil, diante de tantos interesses conflitantes, é difícil imaginar o que vai acontecer.

Os acadêmicos norte-americanos, responsáveis pela pesquisa da origem da máxima citada acima, encontraram uma citação pública de março de 1869:

 “Como disse o poeta John Godfrey Saxe - As leis, assim como as salsichas, deixam de inspirar respeito na medida que conhecemos como são feitas - e nós achamos que é a mesma coisa com os processos de impeachment” (*)



Foto: Passeando por Quimper, a capital do departamento Finistére, na Bretanha.


(*) Nota do blogueiro: Em 1868, os EUA passaram pelo processo impeachment de Andrew Johnson. O Presidente que sucedeu Abraham Lincoln foi absolvido. Imagino que alguma coisa tenha inspirado o autor.


Sunday, May 28, 2017

Lavagem


Em maior ou menor grau, a corrupção existe em todos os lugares. A luta contra este mal, assim como todos os demais crimes comuns, é um desafio dos tempos modernos. Na impossibilidade de erradicá-los, deveríamos tornar a vida da bandidagem mais difícil.

O principal ponto comum entre o mafioso e o político desonesto é a necessidade da lavagem do dinheiro ganho ilegalmente. Como já não se pode confiar na Suíça ou no Panamá, o jeito é mesmo apelar para o acúmulo das boas e velhas notas de papel moeda.

Não é difícil imaginar que inúmeros bandidos possuam grandes estoques de dinheiro em papel. Roubá-los é muitas vezes mais fácil do que desová-los. Bastariam algumas regras a mais para transformar essa dinheirama num verdadeiro mico. Ninguém deveria fazer negócios vultosos com papel moeda!

Comprar um imóvel com cédulas de 100 dólares? Nem pensar. Comprar uma Ferrari com notas de 100 euros? Também não. Pagar a conta do jantar com dinheiro num restaurante caríssimo? Não. Depositar ou sacar muito dinheiro?  Cada vez menos, pois os bancos deveriam apertar o controle.

Com a adesão maciça da sociedade aos meios eletrônicos, o fim do papel moeda é um debate real no primeiro mundo. Aqueles que guardam dinheiro embaixo do colchão que nos desculpem, mas a causa é nobre.

A Europa quer eliminar a nota de 500 euros. Por enquanto, a sua circulação é restrita e monitorada.  Os Estados Unidos já extinguiram todas as notas superiores a 100 dólares há algum tempo. O motivo é justamente o exposto acima, só serve para bandidos!

Se algo serve de lição para nós brasileiros, é o exemplo da Índia, país supostamente tão corrupto como o nosso. Em 2016, seu governo removeu de circulação as duas notas mais elevadas (500 e 1000 rúpias). Os cidadãos comuns, como eu e você, puderam simplesmente depositar as poucas notas que possuíam nas suas contas bancárias. Já os bandidos, sonegadores e políticos corruptos tiveram que fazer uma ginástica monumental para fugir dos limites e controles instalados. Não resolve, mas atrapalha.

Mexer com o papel moeda é apenas uma das técnicas para atrapalhar a vida dos fora da lei. Antes de pensarmos nos meios para se combater a corrupção e a criminalidade, reconheço que é preciso encontrar alguém disposto a fazê-lo. Ninguém à vista na Terra Brasilis.


Foto: Continuando a série sobre a Bretanha, chegando ao porto de Belle-Île-en-Mer.

Monday, August 15, 2016

Olímpicas

Mais uma vez, aproveitei o verão europeu para tirar umas férias. Pela Europa Central, cruzei várias vezes com grupos da juventude católica, que foram ao encontro do Papa em Cracóvia. Ainda mais frequentes foram os encontros com os grupos de turistas asiáticos. Tudo indica que um pouco do fluxo dedicado à Europa Ocidental foi desviado para lá, por conta do risco de atentados.

No meu celular tem um aplicativo de SOS com números de emergência e alertas específicos para cada país. O aplicativo usa a geolocalização para saber quando estou num novo país. Cada vez que entro na Bélgica, Brasil ou França, recebo inúmeras advertências. Na Croácia, Eslovênia e Hungria, nenhum alerta. Portos seguros para as férias.

Nesses três países, entre um passeio e outro, pude acompanhar os Jogos Olímpicos pela TV e jornais locais. Entendia tudo! ;-)

Esses canais locais concentram-se nos seus representantes e equipes, com algum espaço para as estrelas olímpicas (Biles, Bolt, Phelps, etc) e pouco espaço para fofocas. Enfim, muitos dos incidentes esmiuçados pela imprensa brasileira pouco repercutiram no exterior.

A câmera que cai, a piscina verde e os assaltos aos atletas ficarão no folclore olímpico. Se houve algum evento relevante, não tem nada a ver com o Brasil. Falo da posição do COI com relação à Rússia. Isso sim é um desastre. A gente já sabe como funciona o COI, faltam culhões e sobram milhões.

Passada metade da competição, o desempenho esportivo do Brasil é patético. Não que as medalhas sejam importantes, mas o dinheiro alocado para obtê-las faz disso um escândalo. Apenas mais um.

Espero mesmo que não haja nenhum incidente importante e que os próximos dias sejam de encantamento esportivo e organizacional. Assim como vocês, estarei torcendo pelo Brasil. E que consigamos resultados mais expressivos, muito provavelmente nos esportes coletivos.


Foto: Belle-Île-en-Mer, como o próprio nome diz, um belo refúgio na costa da Bretanha.

Thursday, April 7, 2016

Panamá

A televisão francesa, num excelente documentário, mostrou como funciona o mundo das offshore. Escolheu um imponente apartamento do centro de Paris trocado de mãos recentemente. É um daqueles imóveis que vale mais de 100 milhões de reais. Quem seria o felizardo proprietário?

O imóvel foi registrado por uma empresa francesa, que pertence a uma empresa de Luxemburgo, que pertence a outra empresa de Luxemburgo, que pertence a uma terceira empresa de Luxemburgo, que finalmente pertence a uma empresa panamenha. Esta última, registrada por um testa-de-ferro. Por vias normais, é impossível saber o nome do seu ilustre proprietário.

Se não fosse uma denúncia anônima, jamais chegariam ao misterioso proprietário. A escolha do imóvel não foi aleatória. A TV francesa havia recebido o dossiê completo do caso, da mesma forma como vazaram os “Lux Leaks” ou os “Panama Papers”. 

A operação fora montada pelo Banco Rothschild para um executivo árabe, acusado de desfalcar o fundo soberano do seu país em meio bilhão de euros. No Brasil, seria um petralha do segundo escalão, mas de muito bom gosto. 

Na França, as informações do “Panama Papers” fazem um verdadeiro “strike”.  Estão lá os casos mais recentes de corrupção do país, o escritório de advocacia do Sarkozy e a Société Genérale. Material suficiente para ligar todos os pontos que faltavam no atlas da corrupção local.

Não posso dizer a mesma coisa do Brasil. Considerando a corrupção generalizada que assola a nação, ainda precisamos de muitas outras denúncias. Quero crer que a Receita Federal esteja trabalhando com toda essa informação, mesmo que seja na surdina. 

Pelo menos na Europa, há um claro sentimento de indignação com relação à fuga de capitais, lavagem de dinheiro e outras maquiagens financeiras. A atuação de hackers, funcionários ativistas ou puros aproveitadores vai infernizar a vida de quem trabalha às margens do sistema financeiro. A vida de corrupto está ficando cada vez mais difícil. 


Foto: Château de Bizy, na Normandia.

Friday, March 4, 2016

Encontros

Meus leitores do Brasil ainda estão comemorando o encontro de um ex-político com o japonês da Federal. Nessas horas, é difícil falar de outra coisa, mas vou arriscar.

Começo de ano tem festa do cinema em vários países, fechando com o Oscar. Aqui na Bélgica, o vencedor do “Magritte du Cinéma”, como melhor filme do ano, foi “O Novíssimo Testamento”.

O filme começa assim: Deus existe e mora em Bruxelas. Entre os destaques, a atuação do astro belga, Benoît Poelvoorde. O filme tem momentos inspiradores intercalados com o pastelão típico do ator, que faz o papel de Deus. Sem spoilers, pois o filme está em cartaz em São Paulo.

Para os amigos do Brasil, vale relembrar quem é o ator tão conhecido no mundo francofônico. Em “Asterix nos Jogos Olímpicos”, foi Brutus. Em “Coco antes de Chanel”, foi  o amante e protetor da futura estilista. Clíque aqui, caso essas dicas não sejam suficientes.

Assisti ao filme “O Novíssimo Testamento” no avião, voltando do Brasil para a Europa. Como minha esposa dormiu no vôo, o filme foi nosso assunto nos dias seguintes, quando contava a história em pedacinhos.

Num desses dias, recebemos um casal de amigos para jantar. Tocaram o interfone. De dentro de casa, destravei a primeira e a segunda porta. Mesmo conhecendo o caminho até nosso apartamento, o casal estava demorando demais. Destravei as portas mais uma vez e nada. Resolvi descer para ver o que acontecia.

Lá embaixo, nossos amigos não conseguiam passar pela segunda porta. Um outro casal havia espalhado um monte de malas e bloqueado a segunda porta. Tinham um cachorro também. Nossos amigos educadamente esperavam.

Chamou-me atenção o jeito estabanado do homem que procurava a chave da porta entre as malas e pacotes. Era de uma graça familiar. Observei melhor e reconheci a figura.

Sim, era ele. Deus em pessoa. Fiquei impressionado. Por um momento, esqueci-me completamente do casal de amigos.

Deus existe, mora em Bruxelas e é meu vizinho.


Foto: Última foto na bela Lyons-la-Forêt.

Saturday, December 12, 2015

Terror de política - Parte 2

Entre as inúmeras reações aos atentados de 2015, houve uma crítica aos recursos tecnológicos, que propiciam a comunicação entre trerroristas. De fato, a tecnologia ajuda a humanidade como um todo, para o bem e para o mal. Felizmente, existe muito mais gente fazendo o bem.

Há muitos anos, assisti a uma palestra do Prof.Stephen Kanitz falando sobre a importância do telefone celular. Se no mundo desenvolvido, a telefonia móvel trouxe benefícios relevantes, nos países como o Brasil, ela trouxe algo a mais, resgatando a cidadania daqueles que ficavam isolados, sem a possibilidade de uma justa integração à sociedade ou ao mercado de trabalho.

O ganho da tecnologia foi muito além da rapidez, da eficiência, da praticidade ou da possibilidade de  entretenimento. As pessoas ganharam uma voz, fontes de informação alternativas, poder de organização e manifestação. As democracias fortaleceram-se.

A crise político-institucional brasileira é exemplo disso tudo. Se não fosse a contribuição das redes sociais e dos aplicativos de comunicação, a abominável Dilma estaria bem mais tranquila.

Graças a ampla divulgação dos fatos, percebemos o quão perverso um governo pode ser. Foi uma dura lição aos brasileiros, argentinos e venezuelanos, entre outros, que escolheram execráveis governos populistas e corruptos, sem quaisquer limites para preservar o poder.

A História nos ensina que isso tudo não é privilégio das nossas repúblicas bananeiras. Temos que permanecer vigilantes. É a briga do Snowden, embora muitos não concordem integralmente com ele. Eu mesmo fiz algumas ressalvas à época.

A tecnologia também está aí para nos proteger do maior dos vilões. Já fizemos muitas concessões e é preciso deixar uma espaço para a privacidade, para continuar trocando mensagens que não sejam lidas ou falar sem ser escutado pelo governo ou por qualquer outro.

Aos amigos do Brasil, mais uma vez, boas manifestações, fora Dilma e cana nos petralhas!

Leia também:
Snowden


Foto: Mais uma foto tirada em Mons, no início do ano.

Monday, December 7, 2015

Fantasma

O Brasil passa por uma fase difícil e a tensão deve aumentar ainda mais com a abertura do processo de impeachment. Não sei se será o golpe decisivo na corruptocracia instaurada pelo PT, mas é suficiente para alimentar nossas esperanças.

Diante de um Brasil que anda para trás e continua afundando na lama, os problemas dos outros países parecem menores. Só que não!

A crise dos refugiados e os recentes atentados de Paris potencializaram a ameaça que pairava no ar. Ontem, no primeiro turno das eleições regionais francesas, o Front National (FN), partido de extrema direita, abocanhou quase 30% dos votos.

As estrelas do partido são a filha (Marine) e a neta (Marion) do velho fascista Jean-Marie Le Pen. As caras são novas (e inexperientes), mas seus ideais são os mesmos. A vitória do FN é uma combinação da grande abstenção, do voto de protesto, do desemprego, do repúdio aos imigrantes e da descrença na Europa, entre outros.

Para não apavorar meus leitores, saibam que o sistema eleitoral francês ainda oferece alguma defesa contra a ameaça extremista. Nesses dias entre o primeiro e segundo turno, os partidos ainda podem retirar e fundir suas listas.

Ou seja, para se evitar a vitória do FN, os dois principais partidos da França - Socialista (PS) e Republicanos (LR) - terão de fazer algum sacrifício. Por exemplo, o PS anunciou hoje a retirada da sua lista de três regiões lideradas pelo FN. Em outras palavras, ele libera seus eleitores para votarem nos rivais Republicanos e ainda fica de fora da vida política da região nos próximos anos. Que castigo!

Acredito que os entendimentos políticos e a mobilização popular acabarão limitando o estrago do FN. Entretanto, fica uma dura advertência à classe política francesa. É melhor se mexer e atacar de frente os problemas do país! Com essa vitória, mesmo que parcial, o FN vai ganhar mais palanque para espalhar seu discurso raivoso. A ameaça continua no ar.


Foto: Última foto do Parque da Cambre em Bruxelas

Sunday, November 29, 2015

Outono

O foco está na COP21 sediada em Paris. Para proporcionar a segurança necessária aos governantes do mundo inteiro, a cidade foi praticamente bloqueada. Em paralelo às discussões sobre o clima, os mesmos protagonistas tentarão achar uma solução para a crise síria. A recente derrubada do avião russo pela Turquia não ajuda em nada.

Hoje pela manhã, cruzei mais uma vez com aquele, que inspirou o post  “Popular e Ladrão”. Sim, o Erdogan esteve por aqui para uma nova reunião de cúpula entre a Europa e a Turquia. A Europa quer que ele pare de despejar refugiados sírios nas praias gregas, que ele pare de escoar o petróleo do Estado Islâmico e ajude a combatê-los. O último pedido do Erdogan para aceitar o pleito europeu foi de 3 bilhões de dólares, a cabeça do Assad e um pau nos curdos. Assim fica difícil.

O presidente francês ganhou algum prestígio ao liderar a nação depois da tragédia. Pelo menos, ele serve para alguma coisa! A solidariedade internacional com a França não foi suficiente para formar uma coalizão de combate ao Estado Islâmico. Hollande ouviu alguns nãos durante a semana:  Obama, Putin e Merkel, entre outros.

Bruxelas teve uma semana de exceção, como descrevi no último post. A vida voltou ao normal depois de alguns dias sob estado de sítio. Paira no ar aquela pergunta que não quer calar. Se a situação não mudou e dois dos terroristas estão soltos por aí, então há algo de errado: ou o estado de sítio não deveria ter sido decretado ou não deveria ter sido relaxado. Mistério.

A imprensa francesa não tem perdoado a leniência belga com relação aos muçulmanos radicais. Entre todas as críticas, achei a do Le Monde a mais dura. O seu editorial de 24 de novembro diz: “esse Estado sem nação pode virar uma nação sem Estado”.

Vale uma explicação. A Bélgica é tida como um Estado sem nação, por ser uma federação que agrupa flamengos, valões e alemães. Diante do radicalismo islâmico, todos erraram. O momento é de rara união, evitando-se acusações mútuas. Entretanto, ao longo dos últimos anos, o assunto foi deixado de lado para não afetar o frágil acordo que mantém a Bélgica unida.

Essa história de nação sem Estado lembrou-me do Brasil. Nosso Estado não está desaparecendo, mas apodrecendo rápido. Fiquem tranquilos, pois a cura passa pela prisão em massa de petralhas, como – felizmente - está acontecendo.



Foto: No final de semana anterior aos atentados, pude passear no Parque da Cambre, aqui em Bruxelas, curtindo a paisagem de outono.

Sunday, October 11, 2015

Popular e ladrão

O hotel vizinho nem é tão caro, mas é classudo. Seu edifício suntuoso é o endereço preferido dos dirigentes estrangeiros em Bruxelas. Sempre que ando pela Avenue Louise e passo por ele, dou uma olhada para ver qual é a celebridade do momento.

Apesar das longas comitivas, dos jornalistas e curiosos, não há muito barulho. Até mesmo a Dilma não chamou a atenção. Pensei num panelaço solo, mas nossos horários não coincidiram.

Há alguns dias, presenciei uma exceção. A frente do hotel estava repleta de gente. Havia farta distribuição de balões vermelhos e brancos. A charmosa Avenue Louise e a Place Stéphanie foram ocupadas. Até o trânsito de bondes e carros foi  interrompido pela multidão. Quem poderia quebrar a tranquilidade do nosso cantinho? Quem seria tão poderoso?

Tais dúvidas pairavam na cabeça da minha esposa. Estava ao seu lado e pude esclarecer. Disse que o Erdogan, o presidente turco, estava na cidade. Ainda acrescentei : “Ele é o Lula da Turquia, popular e ladrão”.

Para comparar o Brasil e a Turquia, melhor ler a crônica do Guga Chacra. A presença do Erdogan em Bruxelas é importante, pois trata-se de um ator chave numa região tão desestabilizada: refugiados, Síria, curdos, Estado Islâmico, etc. Tudo passa pela Turquia.

Juntar o fã clube para o presidente não foi difícil. A comunidade turca na cidade é muito grande. Assim como acontece no Brasil, encontrar algumas centenas de admiradores de um líder populista é fácil. Não precisa nem pagar.

Dias depois, estive num evento de informática europeu. A maioria dos participantes era do Reino Unido, mas havia uns gatos pingados de outros países. Tive oportunidade de conversar com um executivo turco.

Nem falamos de informática. Já cheguei dizendo que encontrei o Erdogan ao lado de casa.  Ele emendou com as novidades de Istambul. Tudo que ele contou parecia exatamente com a história recente do Brasil, tomado pela gangue do PT.

Preferia ter encerrado a nossa conversa com um tom mais positivo, mas não pude. Contei as coisas que estavam acontecendo no Brasil. Pelo menos ele apreciou a minha sinceridade.


Foto: Ainda na Abadia de Sénanque, a turista curtindo a paisagem. Além do visual, o aroma da lavanda.

Tuesday, September 22, 2015

Volks

Os executivos da Volkswagen confessaram sua culpa num dos maiores escândalos de todos os tempos da indústria automobilística. São milhões de carros envolvidos, podendo acarretar numa multa bilionária à montadora alemã.

Imaginem vocês se a Volkswagen fosse gerida pelo PT. Claro, eles negariam tudo até o fim. Vejamos os depoimentos dos executivos da montadora:

Ludwig Ignatius, famoso ex-presidente da montadora declarou: “Isso não significa nada”. 

Joseph Genuine, executivo aposentado do grupo, disse que tudo isso é uma perseguição da mídia à montadora, afirmando que todas as outras montadoras também trapaceiam. 

Ruy Falke, chefe das comunicações da VW, foi mais direto, acusando o antigo presidente da casa, Ferdinand Heinrich Cardosen. Segundo Falke, o analista que desenvolveu o software para trapacear os testes de emissões foi contratado naquela gestão.

Outro executivo da montadora, Ludwig Merkadanten, responsável pela P&D, afirma com certeza absoluta: “Foi apenas um bug”.

Ciente de que o caso deve escalar até a Suprema Corte, Richard Lewandowski, jurista e presidente do Clube dos Amigos da VW, menospreza a ameaça à montadora. Argumenta: “A teoria do domínio do fato, criada pelos nobres conterrâneos Hans Welzel e Claus Roxin, não pode ser aplicada nesse caso”. Ainda segundo Lewandowski, o analista que desenvolveu o software é o único culpado.

Johann Vaccarius, ex-diretor financeiro do grupo, esnoba a provável multa de 18 bilhões dólares. Está pronto para convidar todos aqueles que possuam um automóvel da marca para pagar uma fração dessa quantia.


Foto: A vista do Museu da Confluência, em Lyon.

Sunday, September 20, 2015

Circo

Domingo passado, fui a um espetáculo do Cirque du Soleil, em turnê por Bruxelas. Sou um dos inúmeros admiradores do grupo canadense. Além de gostar das exibições, fico impressionado com a performance empresarial da trupe. Quem diria que uma companhia circense pudesse faturar um bilhão de dólares?

O fato inusitado do show do último domingo não foi nenhuma novidade do mundo da acrobacia, do malabarismo ou da palhaçada. Vocês sabem que um errinho ou outro sempre aparece nos shows do Cirque du Soleil. Faz parte. Entretanto, dessa vez, o grupo de acrobatas falhou três vezes seguidas no mesmo número. Sim, três vezes. Ai que dó...

Vocês também sabem o que acontece nessas horas. A plateia fica ainda mais ligada aos artistas. Desperta-se uma incrível solidariedade. Os aplausos são muito mais intensos. Aplausos que significam muitas mensagens como valeu o esforço, continuem tentando, você merecem, comprendemos a dificuldade ou estamos com vocês.

É interessante como nem sempre os erros são encarados da mesma maneira. Tomemos, por exemplo, a Dilma, que não acerta uma, nem sem querer. Seus erros não despertam a menor compaixão. A cada dia que passa, ela fica mais detestável.

Pensei com meus botões nas razões dessa diferença, e aí vão algumas alternativas:

a) Porque ela erra demais e a gente não aguenta mais
b) Porque ela não trabalha no circo, mas faz a gente de palhaço
c) Porque os seus erros custam muito caro para nós
d) Porque ela nem é capaz de perceber os próprios erros  
e) E mesmo que percebesse, jamais os assumiria 
f) Pedir desculpas então, nem pensar! 

Não precisa escolher nenhuma alternativa. É um pouco de tudo. Fora Dilma!


Foto: O Museu da Confluência de Lyon, inaugurado em janeiro deste ano. O projeto arquitetônico audacioso é assinado pelo escritório austríaco Coop Himmelb(l)au . As dificuldades técnicas da sua realização somadas às características do solo causaram um enorme atraso. Qualquer hora eu conto mais sobre isso.

Monday, August 17, 2015

Férias

Escrevo este post, por que estou de férias. Melhor dizendo, tirei um dia de férias nas férias. Faço um artigo, um post e acesso o e-mail. Amanhã, volto às férias!

Não achei nenhum grupo de brasileiros para ensaiar uma manifestação ou prestar solidariedade a vocês por aqui. Afinal, mesmo estando na França, estou num lugar que, não por acaso, chama-se Finistério. Em algum lugado do passado, era tido como o fim do mundo.

Um lugar da Bretanha muito tranquilo. Litoral cheio de pequenos portos e vilarejos de charme, talvez um pouco frio para os padrões brasileiros. As hordas de turistas vão até o Monte Saint-Michel e Saint-Malo, deixando a Gália Armorica - a terra de Asterix - principalmente para os locais.

Para ilustrar a tranquilidade, uma notícia do jornal de hoje. Numa das cidades das redondezas, os funcionários da agência do BNP Paribas esqueceram de fechá-la ao sair. O fato só foi percebido no dia seguinte, com a chegada do primeiro cliente.

O mais próximo de barulho foi a passagem da réplica da histórica fragata L’Hermione, de retorno dos EUA. Nesta manhã, pude vê-la contornando o litoral da Cornuália francesa. Eu e algumas centenas.

Antes das férias, fiz uma rápida visita ao Brasil. O suficiente para vê-lo afundando. Nesta passagem, começava mais uma onda de prisões decorrentes da Lava-Jato. Se todos os principais focos de corrupção forem explorados, a coisa ainda vai muito longe. Haja cadeia, ou ainda, haja culhões!

Se serve como consolo, acho que a nossa sociedade pode evoluir e, na retomada, escapar deste nefasto sistema de corrupção. Aos meus amigos do Brasil, parabéns pelas manifestações de ontem. Fora PT e cana neles!



Foto: As fotos das férias virão mais para frente. Por enquanto, algumas fotos de Paris e Lyon tiradas em 2015. Acima, o jardim japonês do “Jardin d’Acclimatation” em Paris.

Sunday, April 19, 2015

Fênix

Faz tempo que não escrevo por aqui. Uma das razões é que faz tempo que não paro em algum lugar. Se tudo der certo, continuarei assim por mais alguns meses, aproveitando a primavera e o verão europeu.

Entre inúmeros compromissos, também passei pelo Brasil. Foi um “pit-stop” para renovar alguns documentos. A burocracia brasileira ainda é campeã em criar documentos que expiram em poucos anos. Por outro lado, o Poupatempo paulista funciona e os cartórios estão bem informatizados. Assim, meus problemas - que não deveriam exisitr - foram resolvidos facilmente. Criam-se dificuldades, vendem-se facilidades.

Depois de alguns meses de ausência do Brasil, a alta dos preços foi notável. Tudo que pude consumir estava mais caro, entre serviços e mercadorias. Além dos preços, vi muita gente reclamando dos negócios e da perspectiva.

Não é a economia em má fase que mais me assusta. A crise político-institucional é muito grave. O governo Dilma e a máquina petista são asquerosos. O pior de tudo é que o impeachment está longe de ser uma solução.  

Por aqui, o Brasil é motivo de chacota. Piada sobre a corrupção generalizada, piada sobre a Petrrobrás, piada sobre o crescimento e assim por diante. Melhor mesmo voltar às piadas do 7X1.

Com todas as ressalvas a este governo incompetente e corrupto, estou naquela fase de ter que defender o país como um todo. Afinal, o Brasil é muito mais do que um bando de esquerdistas mafiosos.

Para defender a honra nacional tenho apelado para chavões como: “é só uma fase ruim”, “a gente vai dar a volta por cima”, “governos sobem e caem”,  “depois da tempestade vem a bonança”, “vamos renascer das cinzas”, etc. Que assim seja.


Foto: Fechando a série sobre Antuérpia, um detalhe encravado no casario típico flamengo.

Monday, July 7, 2014

Xilindró


Desculpe-me por interrompê-los em plena Copa do Mundo para tratar de banalidades, mas não poderia deixar de falar de uma das personalidades mais citadas neste blog.

O ex-presidente francês, que está no xilindró, foi assunto deste blog por muito tempo. A minha expatriação na França coincidiu com a sua gestão. Enquanto vocês viviam os anos Lula, escrevia inúmeros posts sobre Sarkozy. O meu preferido é a segunda parte de "The Ugly, The Bad and The Worse". Recomendo a sua leitura para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade.

Como administrador, ele não foi tão ruim. Pelo contrário, tinha um programa bem adequado para modernizar o país. Pagou caro por ser arrogante e esnobe. Desafiando o bom senso, não fazia nenhum esforço para mostrar que gostava do seu povo. Tal comportamento passa em períodos de prosperidade, mas veio a crise de 2008 e a sua popularidade mergulhou fundo.

Como todo político que acaba punido, diz que é vítima de perseguição. Jura inocência e promete apelar para todas as instâncias possíveis. Se ele é perseguido ou não, tanto faz. Uma vez que as evidências de corrupção tenham sido encontradas, a sociedade deve mesmo puni-lo.

Enfim, Sarkozy foi competente como administrador, derrapou na ética e perdeu muita popularidade. Portanto, a diferença dele para a Dilma é basicamente a competência ;-)


Leia também: "The Ugly, The Bad and The Worse"


Foto: Ainda no País Basco, mudando de San Sebastian para Bilbao.

Saturday, April 19, 2014

Tiradentes “for dummies”

É sabido que o personagem Tiradentes encontrava-se abandonado pela História até a sua adoção pelos fundadores da República. Na falta de heróis autênticos e diante de um golpe contra o Império sem o clamor das massas, criou-se um símbolo republicano. Até mesmo a semelhança com Jesus foi parte dessa manipulação.

Vale também lembrar que houve inúmeros movimentos contra a monarquia luso-brasileira, mais fortes e mais sanguinários, sendo que a Inconfidência Mineira não figura entre os mais importantes.

À época de Tiradentes, a maior parte da elite era composta de portugueses, que, nem por isso, simpatizava com o pagamento de tributos aos seus conterrâneos. Bem, para falar a verdade, ninguém queria saber de pagar impostos. Com a sonegação generalizada, os portugueses apertaram o cerco.

Quem sofreu com a vingança arrecadatória da metrópole (derrama) foi a própria elite, aqueles chamados “homens-bons”, brancos e ricos, que induziram os inconfidentes à rebelião. Talvez seja exagero dizer que Tiradentes tenha sido um boi de piranha, mas não está longe disso.  O personagem real foi tão manipulado quanto o mito.

Há muita coisa daquele Brasil remoto, que ainda é sentida nos dias de hoje: o povo abandonado à própria sorte, a arrecadação predatória, a elite egoísta e ninguém preocupado com a coisa pública. É por essas e outras que, mesmo após a Proclamação da República, somos regidos por dirigentes pouco republicanos.


Leia também: A ponte



Foto: A sala de concertos de San Sebastian ao entardecer.

Saturday, April 5, 2014

IPEA & Cia

Foi por muito pouco que não escrevi um post sobre a famigerada pesquisa do IPEA durante a última semana. Até mesmo quando escrevia sobre a Petrobrás, pensava naquela pesquisa, que tanto repercutiu.

O relatório do IPEA sobre "Tolerância social à violência contra as mulheres" foi tomado como fidedigno e imparcial. Poucas entidades no Brasil mereceriam tamanha confiança. Se tivesse escrito um post, teria feito como todos os jornalistas, que dedicaram seu tempo à análise da pesquisa, tentaria compreender os resultados sem questioná-los.

Sob a premissa da retidão do relatório do IPEA, a última semana foi marcada por manifestações, artigos, declarações e reflexões sobre o povo brasileiro. Dessa forma, o erro e o pedido de desculpas do IPEA provocaram um grande constrangimento.

Sob os holofotes, a pesquisa está sendo desafiada. Questiona-se o método, a amostragem, a formulação das questões e, principalmente, as suas conclusões. Enfim, havia mesmo algo em comum com o post sobre a Petrobrás, uma desagradável mistura de incompetência e falta de ética.

Não podemos desprezar o grave problema brasileiro no campo da tolerância à violência contra as mulheres, mesmo sem estatísticas confiáveis. Entretanto, o ponto é que um dos nossos únicos institutos com alguma reputação, mostra-se falho e incompetente.

Governos, empresas e cidadãos precisam conhecer o país para planejar, agir e empreender programas econômicos e sociais. Não dá para se gerir um país de 200 milhões no "chutômetro" ou  no "feeling". Pesquisas e estatísticas confiáveis são essenciais para qualquer atividade organizada, sobretudo quando se trata de políticas públicas.

Devemos reconhecer que o brasileiro é um ilustre desconhecido. Não sabemos como ele vê a violência contra as mulheres. Também não sabemos o que ele pensa da Justiça, da corrupção, da criminalidade, da democracia, dos seus direitos e deveres, da religião, da sua Pátria, etc. Não sabemos quase nada!

Quero crer que o censo demográfico seja bem feito, mas o resto não merece credibilidade. Talvez seja por isso que a política esteja num nível tão ruim. Assim como a educação, a saúde e a ciência. Não duvido de que, num futuro próximo, tenhamos que recorrer a estrangeiros para entender o nosso próprio país.


Foto: Inaugurando a série de San Sebástian (País Basco), ainda das últimas férias de verão.

Saturday, March 29, 2014

Ouro negro

Enquanto estava fora, a discussão sobre a gestão da Petrobrás pegou fogo. Sempre é positivo que a realidade venha à tona, mas a reação geral é um pouco surpreendente. Explico melhor a seguir.

Um bom pedaço do rombo da Petrobrás está no nosso próprio bolso. É o controle de preços imposto pelo governo, que usa a empresa como seu braço. A tão amada Petrobrás ajuda a controlar inflação, fazer política industrial e até cultural. Pode ser legal, mas é imoral, sobretudo com os demais acionistas. Estes sim, são prejudicados e desrespeitados continuamente. São os grandes perdedores.

Com relação à corrupção, ora bolas, o governo petista mete as mãos em tudo o que é possível, por que deixaria a Petrobrás de fora? Roubar na saúde e na educação não é pior? Depois da Copa e das Olimpíadas, o que é uma mera refinaria?

Vejo certa incoerência daqueles que clamam: "roubem tudo menos a Petrobrás". Seriam  liberais de verdade? O verdadeiro liberal está entre aqueles que dizem: "vendam a Petrobrás!"

Os casos de corrupção e incompetência em voga são escandalosos. Não vou comentá-los individualmente por falta de informações. Tenho certeza de que existem muitos outros.

Se tudo isso for munição para a campanha eleitoral e vier para abalar a Dilma e sua corja, que seja bem vindo! Afinal, esse é o destino dos maus governantes e dos bandidos mais célebres: são punidos pelos motivos errados.


Foto: Na última foto de Amsterdam, o Nemo, o Museu de Ciências.