Tuesday, June 6, 2017

O homem da salsicha


Assim que surgiu a nossa última crise, viajei para a Europa. Pelo menos fui poupado do noticiário. Um pouco menos de náuseas não faz mal a ninguém!

Vocês provavelmente conhecem aquela máxima sobre a política: “As leis, assim como as salsichas, deixam de inspirar respeito na medida que conhecemos como são feitas”. Atribuída por muitos anos a Otto von Bismarck, sua autoria foi revista após uma vasta pesquisa. O poeta norte-americano John Godfrey Saxe é o verdadeiro autor da famosa citação.

A imagem que sempre fiz do Michel Temer é de rei dos bastidores. O cara que mantém a base coesa, resolve as crises, acalma um ou outro dissidente, facilita os acordos, etc. É o homem que sabe como funciona a política. Permitam-me a metáfora, é o homem da salsicha!

Nunca acreditei na honestidade do Temer, só esperava que pudesse segurar as pontas até 2018. De preferência, com meia dúzia de ministros competentes, que pudessem colocar pelo menos uma roda da economia nos trilhos.

No meu país, faria um acordão. Temer trocaria seu mandato pelas reformas, uma punição mais branda e um sucessor acima de qualquer suspeita. Porém, no nosso Brasil, diante de tantos interesses conflitantes, é difícil imaginar o que vai acontecer.

Os acadêmicos norte-americanos, responsáveis pela pesquisa da origem da máxima citada acima, encontraram uma citação pública de março de 1869:

 “Como disse o poeta John Godfrey Saxe - As leis, assim como as salsichas, deixam de inspirar respeito na medida que conhecemos como são feitas - e nós achamos que é a mesma coisa com os processos de impeachment” (*)



Foto: Passeando por Quimper, a capital do departamento Finistére, na Bretanha.


(*) Nota do blogueiro: Em 1868, os EUA passaram pelo processo impeachment de Andrew Johnson. O Presidente que sucedeu Abraham Lincoln foi absolvido. Imagino que alguma coisa tenha inspirado o autor.


Sunday, May 28, 2017

Lavagem


Em maior ou menor grau, a corrupção existe em todos os lugares. A luta contra este mal, assim como todos os demais crimes comuns, é um desafio dos tempos modernos. Na impossibilidade de erradicá-los, deveríamos tornar a vida da bandidagem mais difícil.

O principal ponto comum entre o mafioso e o político desonesto é a necessidade da lavagem do dinheiro ganho ilegalmente. Como já não se pode confiar na Suíça ou no Panamá, o jeito é mesmo apelar para o acúmulo das boas e velhas notas de papel moeda.

Não é difícil imaginar que inúmeros bandidos possuam grandes estoques de dinheiro em papel. Roubá-los é muitas vezes mais fácil do que desová-los. Bastariam algumas regras a mais para transformar essa dinheirama num verdadeiro mico. Ninguém deveria fazer negócios vultosos com papel moeda!

Comprar um imóvel com cédulas de 100 dólares? Nem pensar. Comprar uma Ferrari com notas de 100 euros? Também não. Pagar a conta do jantar com dinheiro num restaurante caríssimo? Não. Depositar ou sacar muito dinheiro?  Cada vez menos, pois os bancos deveriam apertar o controle.

Com a adesão maciça da sociedade aos meios eletrônicos, o fim do papel moeda é um debate real no primeiro mundo. Aqueles que guardam dinheiro embaixo do colchão que nos desculpem, mas a causa é nobre.

A Europa quer eliminar a nota de 500 euros. Por enquanto, a sua circulação é restrita e monitorada.  Os Estados Unidos já extinguiram todas as notas superiores a 100 dólares há algum tempo. O motivo é justamente o exposto acima, só serve para bandidos!

Se algo serve de lição para nós brasileiros, é o exemplo da Índia, país supostamente tão corrupto como o nosso. Em 2016, seu governo removeu de circulação as duas notas mais elevadas (500 e 1000 rúpias). Os cidadãos comuns, como eu e você, puderam simplesmente depositar as poucas notas que possuíam nas suas contas bancárias. Já os bandidos, sonegadores e políticos corruptos tiveram que fazer uma ginástica monumental para fugir dos limites e controles instalados. Não resolve, mas atrapalha.

Mexer com o papel moeda é apenas uma das técnicas para atrapalhar a vida dos fora da lei. Antes de pensarmos nos meios para se combater a corrupção e a criminalidade, reconheço que é preciso encontrar alguém disposto a fazê-lo. Ninguém à vista na Terra Brasilis.


Foto: Continuando a série sobre a Bretanha, chegando ao porto de Belle-Île-en-Mer.